Sou Marleide Falcão, nasci numa favela muita perigosa no Recife e em meio a muita pobreza, alcoolismo de meu pai, violência doméstica.
Meus pais trouxeram o abandono em seus registros de vida.
Aos 12 anos minha mãe foi dada a meu pai que tinha 28 anos.
Eu fui uma filha que deu muito trabalho por ter tido uma infância cheia de doenças, o que levava minha mãe a lutar muito também.
Já adulta, minha mãe conseguiu um emprego numa indústria próxima à nossa casa, era operária.
Depois de algum tempo, durante o almoço, os pedaços de carne que ficavam nos pratos dos outros colegas de trabalho, as bananas e doces que os funcionários rejeitavam, ela juntava e guardava nos saquinhos plásticos para levar para os seus filhos. Nós a esperávamos, porque esse era o recurso que ela tinha para nos alimentar.
Um dia alguém a denunciou ao proprietário da Empresa, que a chamou perguntando o que ela tinha a dizer sobre o que falaram, então ela respondeu:
- Dr. Raymundo, meu marido é alcoólatra, passa, às vezes, seis meses sumido, tenho 3 filhos, meu salário não dá para tudo, além disso minha filha está muito doente, requer remédios e uma alimentação mais cuidadosa, meu dinheiro não é suficiente, eu não roubei, só não deixei ir pro lixo, embora tenha pego de lá algumas vezes.
Esse Empresário assina um cheque, que hoje equivaleria a muito mais de R$ 1.500,00, para que ela pudesse fazer feira para 4 meses, pagar as contas de energia e água e disse a ela:
- Marinete, nunca mais você e seus filhos precisarão disso. Nunca mais você vai tirar pedaços de carne do lixo e de nenhum prato, você só vai sair daqui se quiser, mas tenho certeza que aqui se aposentará e vou te promover a líder de máquina de produção.
Naquela época, esse homem conhecia seus funcionários de fábrica pelo nome, falava que lidava com famílias e não apenas com pessoas, fazia questão de saber o que precisavam.
Ele faleceu ontem, 07/maio, aqui em Pernambuco, deixando um legado reconhecido, um Empresário bondoso, generoso, com olhos que enxergava a alma e as necessidades de seus funcionários.
Não gostava que chamasse os funcionários de chão de fábrica, mas sim que davam vida à fábrica, a cada produto.
Seu nome: Dr. Raymundo da Fonte, se tornou uma referência como o Empresário que tratava as questões e necessidades de seus funcionários com doçura e de forma justa.