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UMA CARTA AOS MEUS ANTEPASSADOS

UMA CARTA AOS MEUS ANTEPASSADOS
Maria Helena Ferraz Nascimento
fev. 24 - 11 min de leitura
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Hoje estou aqui pra escrever a vocês uma carta de agradecimento e reconhecimento do valor da vida de vocês, em minha vida.

Nossas histórias sempre se cruzaram, pois desde criança ouvia algumas histórias, de um e de outro, sendo que algumas me interessavam e outras nem tanto.

Algumas vezes fui comparada com alguém que faz parte desta minha origem, principalmente da família de meu pai. Ora era parecida com minhas tias, ora com minha bisavó paterna, mãe do meu adorado avô. E sabe que esta era a comparação que eu sempre gostei mais... talvez por ter me dado este vô tão especial para mim.

O estranho, talvez, nesta história toda era de que a reputação dela não era das melhores, contadas pela família. Jogava, lia cartas e mão e benzia. Mas, a mais intrigante e devassadora era de que tivera meu avô fora de seu casamento, com um homem turco, dono de uma fazenda.

Eu pouco me importava com essas histórias e tinha curiosidades em saber sobre ela. Um dia antes da partida do meu amado avô, passei a tarde toda com ele e o tempo todo em falou dessa mãe maravilhosa, querida e que ele devia tudo na vida a ela.

Passei a amá-lo mais ainda e a ter o meu carinho especial guardado aqui dentro por essa bisavó, que sequer conheci.

Por este cego amor a você minha querida, trouxe para minha vida algumas coisas que me fizeram sofrer por longos e difíceis anos. Hoje entendo, depois de uma Constelação, que deveria ver e dar nome aos pequeninos que você não deixou nascer, antes de meu avô ser gerado.

Compreendi que naquele momento talvez fosse a única coisa que você soubesse ou pudesse fazer. Hoje sinto que você se libertou desse peso e deve estar feliz ao lado de duas lindas estrelinhas, que certamente brilham no seu olhar.

Eu gostaria de te agradecer imensamente por ter permitido a vinda do meu avô, seu filho tão amado e grato que pode se unir à minha avó e ter gerado meu pai, seu neto. Sou grata, minha bisavó, e me sinto honrada de ser comparada a você quando estou alegre, porque tomei um vinho e de quando intuitivamente falo coisas que me chamam de adivinha, de bruxinha como a vó Dita.

Nunca realizei um aborto nesta vida, com a graça de Deus, mas tive que realizar duas cirurgias no útero, por miomas e tive uma única gravidez, com sérios riscos de perder minha bebê. Nada foi fácil para mim, mas hoje eu entendo e te vejo e te honro. Eu fui a primeira neta e tão querida de seu filho, meu avô amado. Meu amor por ele e o amor dele por mim e pela senhora se emaranharam em uma história que hoje me liberto e liberto minha filha, para que possa ter seus filhos tranquilamente e com muita saúde e alegrias, sendo que a senhora fica com o que lhe pertence e eu sigo fazendo diferente.

Nesta carta começo escrevendo sobre a minha bisavó e gostaria de continuar me referindo às mulheres da minha ancestralidade. Continuando na minha família paterna, tenho breves relatos sobre minha bisavó paterna, mãe da minha doce avó, mãe de meu pai.

Das histórias mais marcantes era de que meu bisavô, um administrador e negociante, saía com seu motor (motocicleta da época) e ia pelas fazendas afora fazer negócios com o café e nestes períodos longos você se via sozinha a cuidar de tudo e dos filhos, às vezes com parcos recursos, tendo que cozinhar pra pensão e manter os filhos cuidados.

Mas vinha de uma linhagem educada e fina, tanto que assim nasceu a querida vozinha que era uma delicadeza, fineza em pessoa. Às vezes sinto sua solidão e penso que posso fazer diferente, pois também já vivenciei longas ausências de tantos amores. Hoje te vejo com amor e sigo com o que é meu e agradeço imensamente por me dar esse doce de avó, com a qual convivi e aprendi muito. 

Essa avó que infelizmente foi reprimida pelo marido, meu avô, que nem sempre a respeitou como mulher, mas nunca deixei de amar os dois por esses motivos.

Continuo me dirigindo às mulheres fantásticas de minha família, incluindo a minha tão adorada e amada mãe, filha da minha avó, tão sublime e tão doce. Convivemos pouco tempo lado a lado, pois a distância sempre se impôs entre nós pois fui criada em cidade diferente da sua, embora tenha nascido em sua cama, em sua casa, tendo a senhora bem pertinho da minha mãe e de mim nos primeiros momentos da minha vida.

Isso me alegra muito e me dá muita segurança.

Sempre pergunto tudo sobre a senhora para minha mãe e ela só tem coisas boas, tranquilas e especiais para falar. E apesar disso pouco se sabe de sua família, de sua mãe e de seu pai e a distância se estabelece aí, novamente. Sua mãe morava em outra cidade e a convivência com a neta, minha mãe, fora pouca. Sei que você veio de uma família totalmente italiana, mas que nasceu aqui no Brasil. Estou com a missão dentro de mim de saber e pesquisar toda a sua origem. Sei de tantos sofrimentos e de ter ficado viúva com minha mãe, sua caçula com apenas 14 anos. Sei de seu sofrimento por perder uma filha bebê, uma filha com 19 anos e uma filha de 34, que te deixou três lindos netos.

Sei de quanto teve que se calar e de que quando falava era sabedoria e amor. Agradeço eternamente a mãe que a senhora gerou para mim, uma pessoa tão especial, tão maravilhosa. Hoje vejo melhor a senhora e a gratidão é imensa e sei que posso fazer o meu melhor, com a força que tomo da senhora e deixando o que é da senhora com a senhora.

E seguindo agora, vou me referir à nona Luiza que é a mais falada da família, pois foi a que minha mãe mais conviveu, pois era mãe de seu pai e moravam na mesma cidade. Sei de sua pompa de mulher rica e dondoca, pois minha mãe se lembra de sua casa bela e cheia de coisas lindas e que a senhora sempre se encontrava sentada em uma cadeira, como uma dama com pessoas a lhe servir. A senhora gerou meu avô, que eu não cheguei a conhecer, mas que minha mãe conta com ternura o pai querido que foi. Agradeço por ter gerado meu avô que um dia teve como filha minha mãe.

Escrevo primeiramente esta carta às mulheres que compõem o meu sistema mais próximo, pois são de vocês que sei um pouco sei. As escrevo e as vejo com tanto carinho, apesar de qualquer história que tenham me contado, pois pra mim há uma referência das mulheres que conheci e das bisavós somente relatos familiares, que provavelmente são da visão de cada um.

Fico com a minha própria visão e do que me toca profundamente sobre vocês e principalmente o sentir de que o quanto tiveram que lutar, se fortalecer neste mundo onde os homens sempre comandaram e tiveram, inclusive, poder sobre vocês, mas em nenhum momento as vi como fracas e oprimidas, embora submissas sempre se posicionaram em relação à vida. Agradeço a vocês, mulheres fortes, que fazem parte de meu sistema e agradeço por fazer parte de tudo integralmente.

Aos meus antepassados homens tenho muita gratidão também, meu bisavô materno, pai de meu avô, que veio sozinho da Itália, aos dezessete anos, com um tutor. Sua história sempre foi muito velada, pois chegou da Itália com dinheiro e pode se tornar dono de terras e ter uma fazenda de café. Sei que não podiam falar a língua e este calar eu vi e percebi no pai de minha mãe quando criança, em uma vivência.

Isto me reportou aos meus problemas sérios e solucionados que tive na tireoide, hoje entendidos. Do meu bisavô materno, pai de minha avó, pouco sei a não ser o seu nome, mas tenho como missão de buscar essa origem que ficou esquecida.

Quero, enfim, nesta carta dizer a todos os meus antepassados, os citados e os que não foram citados, que estão todos lembrados e incluídos da melhor forma que posso e conheço. Sinto imensa gratidão pela vida de vocês por terem sido o melhor que puderam para que eu chegasse a nascer. Só posso sentir gratidão e dizer que os vejo, os honro e incluo da forma mais bonita possível.

Aos meus pais, agradeço a vida que me deram. Agradeço todo o cuidado que tiveram comigo e o amor tão grande. Hoje sei que muitas das coisas que tive que passar nesta vida, foi por ter defendido minha mãe, pois na minha arrogância não achei que ela era capaz de resolver seu relacionamento com meu pai, de sua maneira e de sua forma como sempre fez.

Hoje, humildemente, me ajoelho aos seus pés e digo que eu achava que estava te fazendo o bem, agora sei o quanto isso refletiu negativamente em minha vida. Hoje eu entendi que a senhora fica com o que lhe pertence e eu sigo minha vida, tomando a sua força.

A você, pai que eu julguei muito por muitos motivos, hoje entendo a sua vivência e os porquês de tantos erros e acertos. Me ajoelho humildemente e deixo com o senhor o que lhe pertence e sigo a minha vida fazendo diferente e tomando a sua força. Enorme gratidão pela vida, pelo amor e por entender que vocês são maiores. Eu volto para o meu lugar de filha, sentindo um grande conforto e pronta para seguir em frente somente com o que é meu.

Sinceramente,

Maria Helena Ferraz


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