TEXTO AUTORIA: FABRÍCIO CARPINEJAR
Eu sempre fico paralisado quando olho um arco-íris. Pode dizer que é cafona, pode avisar que é piegas, não me importo. Entre o arco-íris e a lua cheia, corro para ver o primeiro.
Óbvio que surge dentro de mim os bordões infantis: “chuva e sol casamento de espanhol” ou “sol com chuva casamento da viúva”.
Não há como desligar a trilha do meu arrebatamento.
Mas minha preferência se faz pela união dos opostos, o encontro de duas potências contrárias do tempo e do nosso humor.
Assim como festejo também o choro da alegria. O choro com o sorriso. O choro da emoção pura, do arrepio.
Aquele choro da surpresa positiva. Das palavras inesperadas ouvidas. De uma jura de amor um tanto desejada.
Não há como disfarçar as lágrimas do contentamento. Você pode fingir o choro de tristeza, mas nunca esse que não permite manha ou simulação.
Não existe como falsificar essa confissão de todo o corpo, essa mistura repentina entre a boca e os olhos.
Sua natureza é tão espontânea, que nunca sabemos de onde vem e como surgiu. É de dentro para fora.
Não se percebe gemidos e soluços em sua correnteza, talvez apenas suspiros - o suspiro é o coração respirando.
Tampouco vamos nos preocupar em limpar o nariz, ou conter as águas pelo rosto. Não temos vergonha, nem a necessidade de esconder a sua manifestação com as mãos.
No choro da tristeza, somos gatos, miando. No choro da alegria, somos cachorros, latindo.
A vontade de gritar se transforma numa gargalhada incontrolável. Não conseguimos nem falar, porque aquilo que queríamos foi dito.
É o choro do orgulho de dar a volta por cima.
É o choro sublime da gratidão, do agradecimento por estar testemunhando a própria superação.
O choro da alegria é a resiliência abençoada: só é capaz de experimentá-lo quem sofreu antes.
É uma vingança às mágoas, agora iluminadas.
Quantas vezes você já chorou de alegria?
Quantos arco-íris já teve em sua vida?