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UMA HISTÓRIA DE DOR, DIFERENTES EMARANHAMENTOS

UMA HISTÓRIA DE DOR, DIFERENTES EMARANHAMENTOS
Shirley Martins Menezes Svazati
fev. 16 - 3 min de leitura
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Quando as fichas vão caindo é interessante ver como um único fato pode modificar a memória epigenética de pessoas distintas e de maneiras diferentes.

Há algum tempo a epilepsia era vista pela sociedade como algo muito ruim. Miro viveu de maneira dura essa realidade. A igreja o via como endemoniado, médicos lhe internaram num hospital psiquiátrico e as empresas não lhe davam a oportunidade de trabalhar. Sua mãe, que tanto cobrava que os filhos trabalhassem, o tratava diferente dos demais.

Sim, ele precisava dessa diferenciação, de mais cuidados, mas possivelmente todo contexto contribuiu para que se sentisse incapaz e excluído da sociedade. A pressão foi tão forte que o jovem cometeu um ato de desespero, se atirou embaixo de um caminhão.

Anos depois, dois sobrinhos que não conheceram o tio Miro, e pouco sabiam de sua história, apresentavam dificuldades que não condiziam com o contexto em que viviam. Eram dois irmãos, um homem e uma mulher.

No caso do homem, embora fosse uma pessoa muitíssimo inteligente e um profissional dedicado, sempre teve grande dificuldade para conseguir um trabalho. Sobretudo uma profissão onde seu potencial e sua boa atuação fossem reconhecidos.

Estudou em boas escolas, inclusive fez curso superior e pós-graduação, mas isso nem parecia ser considerado. Em certos casos, a formação acabava até mesmo sendo considerada um impeditivo para quem ainda precisava começar “de baixo”. Uma série de frustrações na área profissional endossava, cada vez mais, o sentimento de incapacidade e de exclusão, que definitivamente não pertencia a ele.

A mulher, por sua vez, evitava dirigir na rodovia. O medo de que os caminhões passassem por cima de seu automóvel, fez com que enfrentasse uma rotina exaustiva para ida e vinda do trabalho durante muitos anos. Embora o uso do transporte público trouxesse uma série de dificuldades, a impressão era de que num veículo mais alto, estaria mais protegida. Esse medo também não lhe pertencia.

Obviamente, outros aspectos pessoais desses irmãos também influenciavam para que ambos, já maiores de 40 anos, vivessem suas vidas com sentimento de incapacidade e medo, mas a memória advinda do tio, que partiu antes mesmo dos dois serem gerados, parece fazer muito sentido.

Refletindo sobre esse exemplo, vejo algo bom: a resolução de uma questão do passado pode reverberar de maneira positiva em situações que, num primeiro momento, não possuíam nenhuma associação com o tema tratado.

Que a constelação aconteça e beneficie, de muitas maneiras, uma porção de gente, neste e em outros sistemas.

Uma constelação, diferentes soluções!

Gratidão!


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