Hoje amanheceu uma linda manhã de segunda! Dormi tarde, acordei tarde. A mente começou a dar voltas: acho que vou correr a noite porque já são quase nove. Já sei que isso é a sabotadora querendo poder. Dei um chega pra lá nela, calcei o tênis e parti!
Me alonguei e comecei a correr, o que me alegrou. Geralmente corro na volta.
Depois alternei com caminhadas, ficou muito interessante. Olhando a paisagem eu percebi um milharal e um caminhãozinho me lembrou a minha infância. Uma coisa puxa a outra...
Várias imagens me visitaram, imagens dos meus parentes. Me lembrei que sou do campo, da roça, eu sou do mato e como gosto dele! Devo ter muito de ancestralidade indígena, só pode. Se tiver água por perto é paraíso.
Essas imagens puxaram outras: o doce da cana caiana, o mingau de milho, a pinguelinha do quintal de Maria Rita e Dona Totota, o cheiro do verde. Ah, se eu soubesse desenharia esse quintal... Pensei no chuchu novinho, no poema de Adélia Prado.
Eu inspirava, expirava, observava essas imagens e emoções, sentia os meus passos tocando o chão, e escolhia ficar com essas lembranças porque elas me traziam uma imensa alegria. A manhã estava fresca com um sol generoso. Do fogão à lenha veio a panela de ferro.
Fiquei com vontade de repetir as memórias. Não tenho nada disso em casa, saí pra caminhar e não trouxe dinheiro. Nesse instante, como um presente dos deuses, vi um mercadinho e não hesitei em entrar.
- Se você confiar em mim eu comprarei umas coisinhas e te pagarei amanhã pela manhã.
- Claro, sem problemas!
O meu prato foi uma oferenda aos meus ancestrais, à cultura alimentar da minha família. Me alimentei de memórias e de boas lembranças, de carinho por mim mesma, de amor pelos meus. Hoje me alimentei de alegria em ver a cortina de imagens que começou com um possível boicote. Ainda bem que aprendi que muita coisa posso escolher.
Caminhar tem disso: A gente se exercita, mas também se distrai, lembra, cria, se alegra. É só estar com a atenção plena. Viver o agora não é esquecer o passado e todo o resto. É Ressignificar a nossa vida no presente.
É fazer escolhas. É perceber o que nos faz vibrar. É sentir-se. É Viver na presença e ser grata por este instante que é uma dádiva sempre renovada.
E você, que imagens te alimentaram nesta manhã?
O que você permitiu que ficasse e o que deletou?
Respira agora e sinta tudo o que você pode.
Você pode!