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VIDAS CRUZADAS

VIDAS CRUZADAS
Tania Mara Scheid Carrilho
fev. 9 - 6 min de leitura
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A infância de meu querido pai, pelo que sei, foi difícil.

Quarto de 8 irmãos, filho de Arno Alfedro Scheid e Elza Amélia Hermann, a qual perdeu aos 10 anos, recebendo então sua segunda mãe mais ou menos aos 18 anos. Penso que não foi um momento fácil. Perdeu sua mãe e um irmão, pois ao falecer sua mãe estava grávida.

Morreu por complicações no parto.

Seu pai, um homem muito rígido e de poucos afagos, casou-se novamente com Alzira Klein, a qual já tinha 4 filhos vivos, vindo a ter mais outros dois filhos com meu avô.

Apesar de uma infância difícil, encontravam tempo e disposição para a diversão, realizavam festas, cantavam e tocavam gaita e bandonha. Meu pai era músico por natureza.

Cantavam muito músicas alemãs, pois são descendentes destes. As cantorias e festas eram raras, trabalhavam muito de sol a sol, tinham uma fábrica de madeira e cachaça, além das plantações e criação de gado. A família, apesar dos percalços, era muito unida.

Meu pai viu muitas coisas, o nascimento de irmãos, a morte da mãe e de irmãos, de maneiras trágicas, um irmão ficando insano e tantas outras coisas.

A infância da minha mãe foi, pelo que sei, mais tranquila, mas de muito trabalho. Minha mãe nasceu em meio as palhas, pois não havia cama. Alias, a cama era feita de palhas. A família veio do Rio Grande do Sul, descendentes de italianos. Vieram de lá 3 famílias, se estabelecendo em Porto Vitória.

No começo moravam todos juntos, formando assim uma grande família.

Minha mãe era a mais velha e consequentemente pesava sobre ela esse título, pois tinha que organizar tudo e todos. Quando minha mãe ficou adolescente as famílias se separaram e foram cada uma para suas novas residências. Minha mãe é a primeira de 6 filhos. Sua adolescência segue tranquila, mas de muito trabalho, tinham uma serraria, plantações e criação de gado.

Mais tarde só plantações e gado.

Ao se conhecerem, meus pais namoraram. Meu pai, além de trabalhar na família aos fins de semana, tinha um grupo de música. Alegravam os fins de semana da comunidade. Minha mãe o conheceu nestes momentos. Namoraram 3 anos e casaram-se. Tiveram 4 filhos, sou a primogênita. O 3º filho nasceu sem vida.

Nos primeiros anos de casamento eles viviam tranquilos e felizes com a vida de casados e com duas filhas. Quando eu tinha 3 anos eles resolveram vir para União da Vitória, pois aqui ficaram sócios de uma firma de madeira. Fabricavam portas e janelas bem como madeira. Aqui tudo foi mudando, meu pai, talvez por desilusão, começou a beber, saiu da banda devido ao seu estado de embriagues. Na firma as coisas iam aparentemente bem, mas não era o que aparentava.

Meu pai e minha mãe trabalhavam muito na firma, apesar de sócios, trabalhavam como peões por assim dizer, não que isso fosse uma vergonha, só achava injusto perante os outros. Não estavam nunca a par dos lucros e do andamento da firma. Até hoje não entendo bem o porquê, talvez, penso eu, por serem muito acanhados os outros não achavam que isso importava à eles.

Meu pai, talvez por não se sentir reconhecido, começou a beber nos fins de semana, chegando sempre bêbado e violento.

Os fins de semana se tornaram muito ruins para minha família. Isso durou uns 10 anos. Então minha mãe o levou ao médico e ele começou tomar um remédio para auxiliar na dependência, penso eu. Ele ao beber passava mal, pois tomava o remédio e bebia. Parou de tomar o remédio e continuou a beber nos fins de semana.

Minha mãe no desespero dava e fazia nós darmos o remédio para ele escondido.

Por um tempo nossa vida sossegou. Meu pai, penso agora, além dos problemas com a firma, também  sentia falta da minha mãe, pois ela trabalha muito na firma e em uma plantação que tinha, além de vender roupas. Quase nunca estava dentro de casa. Meu pai para com nós, principalmente comigo, era um tanto rude e de poucos afagos ou quase nada. Minha mãe também. A mim colocaram o peso de mais velha, tendo eu que cuidar dos irmãos e casa.

Minha infância e adolescência não foram fáceis devido a muita discussão e percalços de família.

Eu colocava em meu pai muita culpa. Agora vejo que não era culpa exatamente dele. Ele teve uma infância e adolescência nada fácil. Depois de adulto, muitos problemas. Além desses, seu pai, meu avô, tirou a vida! Mais um baque que o fez voltar a fumar. Tinha parado por motivos de saúde.

Na firma nada ia bem, faliu. Ficaram dívidas.

Ele estava no seu limite! Penso que se fosse agora, com minha sabedoria e vivência, faria muitas coisas diferentes. Não iria discutir tanto com ele. O entenderia mais e talvez até desse apoio, pois minha mãe o cobrava muito de tudo que acontecia. Eu o via como vilão da história e na realidade não era. Tudo era consequência dos fatos. Hoje o que tenho a fazer é agradecê-lo pela vida e por ter tentado de sua maneira fazer o melhor.

Ele não sabia e não conseguia fazer diferente.

Obrigado, obrigado, obrigado. Gratidão pela vida meu pai!

 

Russian boys


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