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VIDAS DE MAMÃE E PAPAI - O QUE APRENDI

VIDAS DE MAMÃE E PAPAI - O QUE APRENDI
Caroline Castro de Mello
out. 4 - 6 min de leitura
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Meus pais se conheceram no casamento de seus irmãos: minha mãe irmã da noiva e meu pai, irmão do noivo. Foi o primeiro relacionamento amoroso da minha mãe, que casou com meu pai três anos depois desse dia, quando ela tinha dezoito anos e ele vinte e sete.

Meu pai morava em outro estado, então passaram esses três anos de namoro tendo poucos encontros, sempre vigiados por alguém da família de minha mãe: irmãs mais novas ou mesmo o vô e a vó.

Para minha mãe, o casamento representava a glória de sair da casa de seus pais, onde a miséria humana era expressada diariamente nas relações. Não faltava comida, roupa ou um teto, na materialidade tinham o essencial, mas todo o resto das necessidades humanas não se via ali.

Para meu pai, o casamento era a afirmação de uma vida de compromisso e vontade de formar família. Ele já tinha alcançado uma certa segurança financeira, tinha tidos muitas namoradas e viajado para muitos lugares (principalmente a trabalho), e, o seu irmão mais novo já tinha casado (situação em que ele conheceu minha mãe), então era chegada a sua hora. 

Meu pai começou a trabalhar com nove anos de idade, como engraxate na rodoviária da cidade (que ficava a muitos quilômetros da sua casa). Ele e seu irmão mais novo (8 anos) iam até o local diariamente para engraxar sapatos.

Com 11 anos meu pai conseguiu um emprego em uma oficina mecânica (de carteira assinada - o que era permitido na época), e então, após se firmar ali, levou também o irmão para trabalhar junto.

Os dois tornaram-se mecânicos.

Meu pai foi para a área de mecânica agrícola, e meu tio seguiu na mecânica de automóveis. Completaram apenas a escola primária, mas meu pai seguiu estudando e abraçando as oportunidades que as empresas ofereciam de cursos, para se especializar na área agrícola.

Foi empregado assalariado até a época da minha chegada. Quando minha mãe engravidou de mim ele formou sociedade com outros dois amigos e montaram uma oficina. Hoje, ele trabalha como autônomo, tem sua própria oficina e meu irmão (3 anos mais novo que eu) trabalha com ele. 

Minha mãe não terminou a escola primária, parou quando estava no equivalente à quarta série hoje. Dizia que sentia muita vergonha de ir à escola e tinha dificuldade de aprender.

Um dia perguntei o que ela sonhava em fazer, quando era criança, se sonhava em ter alguma profissão e ela disse que não lembrava, o que lembrava era que gostava de desenhar.

Ela chegou a trabalhar como atendente em um mini mercado perto da casa dela mas, assim que marcou casamento já não trabalhou mais, meu pai disse que assumiria a parte financeira e assim fez. Minha mãe conta que gostaria de ter continuado a trabalhar e ter seu próprio dinheiro. 

Tiveram quatro filhos nascidos (eu sou a terceira e segunda nascida). Meu pai tornou-se alcoólatra e bebia sempre que saia do trabalho. Chegava em casa já muito embriagado e sempre brigava por tudo.

Ele tinha amigos, e em alguns finais de semana saiam para pescar.

Minha mãe ficava sempre restrita ao convívio com sua família de origem e se relacionava superficialmente com as esposas dos amigos do meu pai. Ela sempre teve muita dificuldade de confiar em quer que seja. Sempre achava que as pessoas podiam estar querendo fazer algo de ruim para ela e, acredito que por isso, não conseguiu ter amizades verdadeiras.

Meus pais brigavam e se desprezavam mutuamente o tempo todo. Quando eu já era adulta e estava me formando, minha mãe teve um envolvimento com outro homem e resolveu contar para mim, pedindo segredo.

Não consegui permanecer em convívio direto com eles e resolvi me casar no mesmo dia da formatura.

(hoje vejo que casei para fugir de casa, como ela fez. O casamento durou seis anos, até eu conhecer as constelações familiares).

Por um tempo fiquei ainda muito envolvida nos conflitos deles. Se separaram e voltaram algumas vezes mas, na primeira vez me envolvi demasiadamente, pois minha mãe resolveu contar do caso e meu pai queria matar o homem e ela. Enfim, fiquei eu, morando ao lado do pai, e "dando suporte" nesse momento.

Em seguida ele teve câncer, fez cirurgia e tratamento.

Eu também fiquei alguns meses com ele até ele terminar o tratamento, pois era a única pessoa que na época podia tirar uma licença do trabalho e ficar tanto tempo no apoio. Depois, por um tempo, fiquei dando suporte para a mãe, pagando aluguel, as contas até ela conseguir se resolver com meu pai.

Hoje continuam separados, mas já se resolveram nessas organizações em que eu me envolvia.

As constelações familiares me auxiliaram para que eu conseguisse perceber o meu lugar e poder dedicar energia e atenção para minha vida, minha cura e poder me preparar para criar uma outra realidade na minha vida. 

Certa vez, eu estava encerrando um curso de extensão em Pedagogia e Educação Sistêmica, que ministrei no meu trabalho (IFRS) e um participante comentou assim, ao fazer sua fala de fechamento:

"- Eu, como não tive a oportunidade de nascer em um local que me possibilitasse ter essa paz que você tem professora.... "

Assim seguiu seus comentários, justificando o quanto ele ainda não conseguia sentir e transmitir paz ao seu entorno devido à sua história de vida e relações parentais disfuncionais, apesar de tudo que já tinha aprendido ali no curso.

No momento não expressei em detalhes minha história, apenas respondi:

- Quem vive em paz dificilmente vai querer trabalhar pela paz, apenas a transmitirá, em tudo que fizer. No meu caso, ainda sinto necessidade de trabalhar pela paz e assim faço, para curar meu coração e acreditar que outro modo de existir no mundo é possível, que não esse mundo de guerra, que existiu dentro de mim.


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