A infância do meu pai foi muito difícil. Filho temporão, muitos irmãos, família rígida. Unida, porém rígida. Muitas confusões aconteceram na infância do meu pai. Perdeu o irmão mais velho cedo, logo em seguida os pais, que viveram de tristeza e nunca superaram a perda do filho.
Muitas doenças e confusões na família.
Teve pouca atenção, em uma família onde criança não tinha vez, e ele ainda temporão. A mãe sentia pena dele, dizendo que morreria com ele ainda novo, já que era temporão. Diante de todo esse cenário, cresceu um homem sério, forte, rígido e com um coração e uma humanidade gigantes. O álcool sempre muito presente.
A infância da minha mãe eu não sei quase nada. Ela conta que era esperta com os irmãos, fazendo-os passar poucas e boas. A mãe muito ausente. Não fazia pelos filhos. Ela relata muito sobre como tinha sempre que se virar para correr atrás do que queria. Minha mãe nunca me contou da infância dela. O pouco que sei foi por perguntar.
A minha infância eu tive tudo do bom e do melhor: Casa boa, bons estudos, conforto, tudo. Sou caçula na família de três filhos. Meus aniversários eram comemorados e festejados. A casa dos meus pais sempre foi cheia de gente e de comemorações.
E como eu gostava disso! De gente! Desde sempre...
Mas atenção, cuidados com a formação, conversas e intimidades, isso não tinha. Parece que a atenção estava sempre para fora, para os outros. Cresci carente, e levei esse corpo de dor comigo por muito tempo.
Carrego uma orfandade, um abandono existente em ambas as famílias.
Também trouxe comigo o álcool. Aprendi a beber ainda adolescente, e gostei daquilo. Parecia divertido. Festas, álcool, um lugar bem conhecido para mim. Isso me fez perder muito tempo na vida. Tempo esse, que hoje valorizo cada segundo, cada momento. Quero fazer algo bom da minha vida.
Trabalhar para minha felicidade, do meu bem viver. Sigo em frente, procurando tomar consciência daquilo que se apresenta a mim através da minha jornada.