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A ORDEM PRECEDE O AMOR

A ORDEM PRECEDE O AMOR
Márcia Campos
jul. 25 - 10 min de leitura
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Êh, vida, que amor brincadeira, à vera

Eles se amaram de qualquer maneira, à vera

Qualquer maneira de amor vale à pena

Qualquer maneira de amor vale amar (trecho da Canção Paula e Bebeto,  Milton Nascimento e Caetano Veloso, 1975)

Não sei dizer quantas vezes cantei esta música. A sonoridade do trecho destacado me seduzia e eu não atinava no oculto do aparente em sua letra. Bastava-me cantá-la, na ingênua suposição de que qualquer maneira de amor vale amar.

Acho que a exuberância dos hormônios (eu tinha 15 anos e me sentia a própria musa inspiradora de Milton Nascimento - Paula) é que sustentava tal ilusão.

Nessa época, apesar de crer piamente que 'qualquer forma de amor vale amar', havia algo que para mim não ficava bem: eu conhecia casais que se amavam muito e cujos relacionamentos os faziam sofrer e chorar, vivendo um eterno terminar e recomeçar de suas relações amorosas tumultuadas.

Conhecia, ainda, pessoas que faziam parte de grupos familiares cujos membros viviam em permanente atrito entre si mesmos, embora se estimassem. Era nesse tipo de grupo familiar em que eu também me encontrava.

Desconheço o ponto de vista do autor da letra e não tenho intenção de tecer nenhuma crítica a ela, porém algo aconteceu comigo e não posso mais cantá-la sem que me sinta desconfortável. Já não soa boa aos meus ouvidos.

'Êh, vida, que amor brincadeira, à vera'

Amor e brincadeira não se harmonizam, hoje sei disso!

A culpa desse desconforto é de Bert Hellinger e da sua filosofia sistêmica que mudou o meu olhar para o amor.

Começou com ele dizendo que primeiro vem a ordem, depois o amor. Que o amor não basta. Que o amor precisa da ordem para se desenvolver.

Talvez isso explique outro trecho da canção:

'Eles partiram por outros assuntos, muitos

Mas no meu canto estarão sempre juntos, muito'

Paula e Bebeto muito se amaram (segundo se diz, chegaram a ficar noivos, ela com 15 e ele com 17 anos) mas 'partiram por outros assuntos, muitos'. Ou seja, eles se separaram e por outros assuntos.

Posso então supor que o amor deles não era o amor que Bert Hellinger diz que cura, que nos faz inteiros e que dura. Não, não era.

Foi com Bert Hellinger que descobri que, numa relação conjugal, não sou eu e outra pessoa. Somos dois, eu e ela, acompanhados da nossa ancestralidade. Somos um grupo de pessoas que formam um sistema cujos membros atuam inconscientemente uns sobre os outros.

Descobri que os sistemas familiares são tutelados pelo amor, o qual exerce severa ação e impõe regras para o êxito das relações entre os seus membros. Regras preestabelecidas que podem, se não atendidas, levar ao fracasso.

Tais regras, que Bert Hellinger as chamou de Leis do Amor, estabelecem as condições do bom ou do mau relacionamento, seja entre parceiros conjugais, seja entre pais e filhos, seja entre irmãos, até alcançando pessoas fora da conseguinidade, mas que guardam vínculo com o grupo familiar. Aliás, elas repercutem nos relacionamentos sociais e profissionais.

Condições que são sentidas como necessidades básicas, cuja satisfação proporciona prosperidade, bem estar, saúde, felicidade e paz; e, a não satisfação dessas condições, torna-se causa de penúria, falta de bem estar, doenças, infelicidade e intranquilidade.

Que regras do Amor são essas? Basicamente se resumem no Pertencimento, na Compensação e na Ordem.

Pertencimento se refere ao direito inalienável de fazer parte do sistema, seja pela consaguinidade ou pelo vínculo. E uma vez que entrou no sistema, este não admite que seja excluído, não visto ou esquecido.

Compensação se refere ao equilíbrio nas trocas, entre o dar e o tomar que é o móvel dos relacionamentos, em todos os âmbitos da vida.

Ordem se refere à hierarquia de origem, indicando a precedência de chegada no sistema. Quem entrou antes no sistema e quem entrou depois.

Essas regras igualmente se aplicam no relacionamento entre Sistemas Familiares e nos Sistemas Organizacionais. Nada nem ninguém foge ao controle do amor.

Quando se desconhece a existência das leis do amor, o que ocorre com frequência, é possível inconscientemente agir de forma a violá-las. E mesmo que se suponha estar agindo amorosamente, a ação violadora enseja o surgimento daquilo que se chama envolvimento sistêmico.

A violação dessas leis, que pode ser cometida por um ou por vários membros do sistema, exige sempre a sua reparação, custe o que custar, no interesse direto do grupo como um todo. E alguém pertencente ao grupo expiará a culpa.

Estar emaranhado é estar envolvido com uma ou mais violações das leis do amor, mesmo que ele não tenha sido o infrator direto dela(s).

Mesmo sendo severo na sua tutela, o amor é atencioso e se encarrega de achar um buscador de solução ou de cura naquele grupo que violou as suas leis, a fim de trazer paz para todos.

Como normalmente a(s) violação(ões) é(são) cometida(s) em geração pregressa daquele que está emaranhado, é difícil para o buscador perceber que está no envolvimento sistêmico (emaranhamento) e que toda a sua problemática de vida pode resultar dessa(s) violação(ões).

Entretanto, 'cada um tem a força para o seu problema e para a sua solução'.

Bert Hellinger, que identificou a existência das leis do amor, identificou junto que existe um processo terapêutico altamente eficaz para curar os sistemas e achar solução para aqueles que estão emaranhados nisso. A esse processo ele chamou de Constelações Sistêmicas Familiares.

Antes dele, outros terapeutas usavam as Constelações Familiares e Bert Hellinger foi aprender com eles as suas técnicas de ajuda para as pessoas e as suas famílias, que eram, muitas vezes, a causa dos problemas de seus clientes; porém, Bert Hellinger teve o mérito de perceber que o indivíduo faz parte de um sistema do qual não pode ser dissociado, e, principalmente, descobriu que a cura e a solução estão exatamente na origem do próprio problema. Daí dar o nome de Sistêmica às suas constelações familiares.

Bert Hellinger teve ainda outros insights:

- Sobre o amor: ele atua por trás de todos os comportamentos humanos e está por trás de todos os sintomas de uma pessoa.

- Sobre a compensação: ela atua em todos os níveis, exercendo permanente pressão sobre a pessoa, que é sentida como necessidade compulsiva de se livrar dela.

- Sobre o pertencimento: é a causa mais importante dos envolvimentos sistêmicos e dos problemas mais graves deles resultantes, reinando na família uma lei de igualdade para todos.

Outro insight de Bert Hellinger é a existência de um campo ciente que ele chamou de Alma (Individual), o qual é dotado de saber e que transcende e dirige o indivíduo, procurando e encontrando solução para os seus problemas. O mesmo se dando para o grupo familiar e para o conjunto de todos os grupos, que seriam a Alma Grupal e a Grande Alma, respectivamente.

Justamente esse campo ciente, conhecedor das necessidades individuais e coletivas é que pode se revelar e informar nas Constelações Sistêmicas Familiares, trazendo à luz o envolvimento sistêmico que estava na sombra, abrindo-se possibilidade de se ficar livre dele.

Para construir a sua filosofia sistêmica, o ajudante de almas - como Bert Hellinger se auto intitulava e que foi para outra jornada em 16/9/2019 - não desprezou o conhecimento de muitos outros terapeutas com quem foi conhecer técnicas e processos de cura, exemplificadamente a Hipnoterapia de Milton Erickson e seus discípulos, a Programação Neuro Linguística, a Análise Transacional e a Terapia Primal; nem desconsiderou a sabedoria inata em grupos não científicos como, por exemplo, a do povo Zulu, da África do Sul, com quem ele conviveu certo período.

Tampouco menosprezou ele a sua própria experiência dolorosa na infância e a decorrente do serviço prestado nos campos nazistas, o que dilatou a sua compreensão das dinâmicas humanas e a sua corte de problemas e de sofrimentos.

Bem como, ele não desvalorizou o profundo conhecimento que detinha da dogmática religiosa, obtida enquanto esteve a serviço do sacerdócio católico.

Todos esses conhecimentos lhe permitiram ampliar a visão geral e reconhecer que, enquanto colaborador nas Constelações Sistêmicas Familiares, estava a serviço e em contato com algo que ia além dele, que é a alma e que somente ela poderia revelar a imagem de solução ou de cura, externando, assim, uma postura íntima de humildade diante do fenômeno e das leis que regem a vida e confiando plenamente na força desse saber que pode conduzir à reconciliação e, portanto, à paz no grupo.

Para encerrar esta síntese sobre Bert Hellinger e sua filosofia sistêmica, é preciso recordar que ele teve insights outros valiosos, a saber: a) o movimento do amor em direção aos pais interrompido; b) os sentimentos adotados; e, c) a representação dos excluídos.

Estudar Bert Hellinger e fazer o Curso de Formação Real em Constelações Sistêmicas Familiares, com o auxílio amoroso de Olinda Guedes e a tutela do Saber Sistêmico, tem se mostrado um processo de cura para a minha alma que esteve tanto tempo sob o jugo árido do envolvimento sistêmico e, por isso, carregou pesado fardo.

A realização de cada tarefa proposta nas aulas é uma espécie de catarse que faz com que emoções traumáticas inconscientemente acalentadas passem a ser vistas e, desse modo, possam ser tratadas.

É apenas o início da longa jornada de aprendizagem e de auto amor, mas já estou nela e confio na boa assistência da minha alma, da alma do meu grupo e, principalmente, da Grande Alma. A cura ocorrerá. Terei êxito. Serei feliz, saudável, próspera e terei verdadeiramente paz.

'Mas eu, alheio sempre, sempre entrando

O mais íntimo ser da minha vida,

Vou dentro em mim a sombra procurando.' (Fernando Pessoa, 1929)

*Referencias Bibliográficas

- Ordens do Amor, por Bert Hellinger, 12ª edição,Cultrix

- Simetria Oculta do Amor, por Bert Hellinger, Gunthard Weber e Hunter Beaumont, 10ª edição, Cultrix 

- Meu Trabalho. Minha Vida, por Bert Hellinger con Hanne-Lore Heilmann, 1ª edição, Cultrix

- Obra Poética de Fernando Pessoa - Poesia I, LB Europa-América (lb436), 3ª edição.

 

 

 

 

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