Estive refletindo hoje de manhã o quanto carrego a sensação de não estar cumprindo minhas tarefas de forma adequada: como se estivesse sempre devendo algo para os outros.
A minha criança interior ao se defrontar com inúmeras situações, em que ela não deu conta, começa a crer que é a culpada. Culpada pela separação dos pais. Culpada pela tristeza da irmã. Pela dificuldade financeira e por gerar despesas, que ela nem sabe exatamente o que é. Pelos conflitos e brigas vivenciados. Pelo desequilíbrio emocional das pessoas, cujos gritos e choros a assusta e a deixa acuada.
Sobre esse mecanismo, Hellinger diz que a criança se sacrifica por amor, em nome dos pesos familiares. Sem perceber, cria um pacto interno e se coloca responsável por “consertar” a situação. Lembro-me que foi nos meus primeiros seis anos de idade que comecei a imaginar que podia salvar minha família.
Assim, inocentemente, meu ego começou a se formar em torno da ideia quase santificada de um salvador. Tipo um Jesus que poderia redimir os pecados, e através do carregar a sua cruz, salvaria a todos. E eu mal dava conta de carregar minha mochila escolar…
Crescendo, meu padrão de pensar e agir foi girando em torno dessa ideia: salvar minha mãe, que nos criou sozinha, minha irmã, meus avós. Lógico que não deu certo. Um pensamento mágico infantil nunca está alicerçado na realidade. Então, direcionei minha obsessão para os outros. Tornei-me solícita, espiritualista, dedicada.
Porém, sempre a vida me mostrava: você não dá conta. Você é pequena, e as coisas são como são.
Hoje, caiu a ficha. Percebo que minha tarefa é muito pequena. Não posso ajudar e não dou conta de carregar as dores do mundo. Posso fazer só um pouquinho, e talvez isso seja o suficiente. E se não for, é o possível. A frustração é a mãe da humildade.