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A TODAS AS CRIANÇAS DO MEU SISTEMA

A TODAS AS CRIANÇAS DO MEU SISTEMA
Fernanda Maria Freire de Amorim
abr. 26 - 2 min de leitura
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Quantas crianças temos em nosso sistema que nem sabemos. Segredos, vergonhas, frutos de traição, abandono e tantos outros motivos desconhecidos.

Na minha infância, quando os adultos estavam conversando na sala, as crianças tinham que sair, as conversas não eram para nós, era hora dos adultos, então, eu me escondia atrás das portas, queria saber o que eles estavam conversando e pensava em descobrir um segredo, muitas vezes passava na minha imaginação que talvez quem sabe, eu ouviria que tal prima(o) não era filha(o) daquele tio, em meio aos cochichos; era o que ia em minha mente.

Muitas vezes enquanto brincava, escutava choros de bebê, não comentava com ninguém, achava que não seria levada a sério ou iam me levar para benzer, como faziam com a minha irmã mais velha que tinha uns amiguinhos imaginários com quem brincava, falava, corria, e minha avó mandava rezar nela. Tinha medo, não entendia o que era me rezar e me calava.

Outra coisa que me lembro de criança é que sempre quis e dizia que seria mãe de gêmeos, um casal, o curioso que só tinha um nome, Rodrigo, não conseguia definir o nome de menina.

Cresci, tive dois casamentos e não engravidei, fiz inseminação e nada, pela medicina nada impedia, nem a mim nem aos maridos. Me disseram certa vez que eu poderia ter sido mulher da vida em outra vida e que devia ter feito vários abortos e que, por isso nessa vida não conseguia ser mãe por via biológica. Isso ficou na minha cabeça por alguns anos.

A pouco tempo, já adulta,  a procura das histórias de família, fiquei sabendo que uma tia irmã de meu pai estava noiva, engravidou e o noivo a abandonou; naquela época seria um escândalo, acredito que nem a mãe dela ficou sabendo, ela abortou. E foi infeliz e solteira até o fim da vida.

Agora eu sei o porquê de tantas crises de choro sem aparente motivo, por tanta falta de amor em viver.

Por todas essas crianças não nascidas, nascidas e que partiram logo, pelas que não vieram e tantas outras que não conheci a história, eu quero dar um lugar no meu coração, eu vejo todas vocês, sinto cada uma, amo cada uma, incluo cada uma, do jeito que foi e como foi.

Eu vejo vocês!

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