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AH! QUE BOM QUE EU SEI!

AH! QUE BOM QUE EU SEI!
Paula Azevedo
mai. 13 - 6 min de leitura
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Desde sempre gostei muito de histórias, mas não conseguia traçar nenhuma identificação com os contos de fadas. Nem me lembrar de filmes que tivessem me marcado na infância, na adolescência... Simplesmente tudo havia desaparecido!

Até que um dia, algo se iluminou e agora eu sei...

Demorei até perceber minha identificação com Rapunzel, pois é uma história europeia, atribuída aos irmãos Grimm, de uma menina branca com longos e lisos cabelos louros, pelo menos, é assim que a história é retratada... Eu fui uma menina de pele escura, não tinha cabelos lisos, nem longos, mas tinha tranças... Porém, aceitei a história no meu coração e de repente eu me lembrei do fascínio que ela me causava.

Antes de mergulhar no significado sistêmico, procurei pelo significado psicanalítico, baseado no livro “As fadas no divã – a psicanálise nos contos de fadas” e em outras obras de Von Franz, Helen Reis Mourão[1]  escreveu um artigo analisando a história de Rapunzel que me tocou profundamente.

Nesta análise, Helen pontua que a mãe de Rapunzel é infantil demais para se tornar uma cuidadora, esta atitude foi demonstrada pela sua incapacidade de abrir mão dos próprios desejos e comer o rabanete dos vizinhos a qualquer custo, assim como o pai foi incapaz de colocar limites ao desejo da esposa. Tais atitudes levaram o casal da história a perder o lugar de pais. Me lembrei da Olinda quando faz distinção entre pais e genitores, e de determinadas situações extremas em que os pais perdem os direitos sobre seus filhos.

De certa forma, mesmo com a presença sufocante da bruxa, que representa uma mãe má e perpetradora, a história de Rapunzel também é uma história de solidão e orfandade, situações muito presentes em meu sistema.

As tranças são símbolo da manutenção do cordão umbilical, e a torre símbolo da proteção excessiva que leva ao aprisionamento.

Ainda segundo esta autora “Os cabelos ainda podem ser interpretados como ideias e pensamentos muito fortes, que crescem simbolicamente e não encontram uma forma de se expressar no mundo exterior. A mulher enclausurada em um complexo materno não tem como dar vazão às suas ideias criativas, ele deve apenas viver para servir à mãe”.

Viver para servir somente à mãe, significa ser leal à linhagem feminina do sistema que não respeita os homens, que os perde por não saber sustentar uma relação de forma adulta ou simplesmente não os tem porque não se abrem para o relacionamento com eles.

Já em 2004, em meu curso de aconselhamento familiar sistêmico, ouvi minha professora na época dizer que os conflitos no relacionamento de casal se dão por causa da bagagem que trazem da família de origem para sua nova relação. Gross e Schneider afirmam o mesmo em sua obra: “Os conflitos entre muitos casais ocorrem porque um desconta no outro problemas que não tem nada a ver com o relacionamento dos dois.” (p.97)

No ano passado, fui constelada e meu tema foi dinheiro.

O campo nos mostrou a imagem de uma criança perdida... Uma criança gerada em um ambiente de orgia e álcool, que meu pai não assumiu... Uma criança para quem o alimento e a nutrição não chegaram, era por causa do meu vínculo com esta criança, um irmão excluído, que eu estava perdendo dinheiro. Meu primeiro ímpeto foi negar a informação, por lealdade ao sistema, ao segredo, ao mesmo tempo que ao consultar meu corpo tudo fazia sentido. Agora, eu sei!

Gross e Schneider declaram que nos sistemas familiares, excluem-se com frequência determinadas pessoas, isto é, frequentemente há informações ocultadas de filhos ilegítimos, indesejados, bem como os parceiros de relacionamentos anteriores ao casamento dos pais e avós. Histórias são escondidas e mantidas em segredo por causa de sentimentos de culpa, vergonha e humilhação vividas por seus protagonistas.

No caso específico do conto da Rapunzel, Gross e Schneider, explicam que “se um pai entregar uma criança, talvez por não ter coragem de assumi-la, uma filha de um casamento posterior cria um vínculo com essa criança rejeitada, sentindo-se como ela. A filha sente raiva do pai, ficando de mal com ele. Mas já que tanto ela como todas as filhas amam os pais, quem recebe essa raiva é o amado e é nele que ela se vinga do pai pelo irmão ou irmã entregue a outrem. O homem paga por isso, sentindo-se confuso e temeroso. A mulher pega com a solidão”.

Ao ler este parágrafo lembrei-me imediatamente da minha constelação, do meu irmão excluído e omitido, e também da raiva desproporcional que muitas vezes sentia do meu marido. Muitos sentimentos que experimentamos numa relação de casal, não são nossos...

Agora eu sei! Respeito o destino e a dor desta criança,  deixo de querer dar minha felicidade em troca da vida do meu irmão.

Ainda apontando para as relações de casal, a professora Olinda relaciona o conto da Rapunzel com um feminino que não amadurece, e que por isso atrai e mantém relações com um masculino também frágil e infantilizado. Tais relações, muitas vezes abusivas, acionam memórias sistêmicas que limitam os relacionamentos, impedindo-os de evoluir, perpetuando sofrimentos e traumas sistêmicos.

Em um sábado pela manhã, quando fiz minha meditação sobre este conto bem cedinho, algumas horas depois, meu filho pediu para ligar a TV e assistir a um desenho, vocês acreditam que o desenho que ele estava assistindo retratava uma Rapunzel Negra igualzinha a mim? (Até tirei uma foto). Meus amigos, o campo informa o tempo todo!

Quando ao que me cabe, preciso cortar minhas tranças e me lançar da torre direto para os braços do meu amado.

 


[1] https://www.personare.com.br/cabelos-de-rapunzel-simbolizam-apego-a-mae-m6905

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