Cada família tem sua história e problemas a superar.
É preciso conhece-los, se interessar, perguntar, descobrir os que foram esquecidos e excluídos, pois do mesmo jeito que herdamos o tipo físico e os bens materiais, herdamos também as tristezas, fraquezas, dificuldades e sofrimentos. A memória transgeracional está gravada em nós do mesmo jeito que a cor da pele e dos olhos.
Ficamos atrelados à nossa história familiar e, para pertencermos, sacrificamos até a nossa saúde, prosperidade e felicidade. Essa lealdade pode até fazer com que não se perceba as coisas boas que a vida nos apresenta.
Quando vivemos situações em que os sentimentos e reações são desproporcionais ao contexto, há um emaranhamento. Vemos isso em situações de fracasso, doença, infelicidade, pobreza, obesidade, auto sabotagem.
Precisamos trabalhar as crenças familiares, que são também uma forma de lealdade: Dinheiro é sujo, homem não presta, precisa comer tudo para não passar fome, etc. Tais crenças, arraigadas nas famílias, podem levar a comportamentos não condizentes com a vida atual.
Também é preciso que cada um ocupe o seu devido lugar. Filhos são filhos e pais são pais. Não se pode inverter essa ordem. A cura só acontece se estamos no lugar certo e quando olhamos para os antepassados, reconhecemos o que aconteceu, pedimos perdão, agradecemos, procuramos completar o que faltou e declaramos o nosso amor. Incorporam-se os aspectos positivos, deixa-se para trás o que foi ruim e os padrões, estabelecidos, para viver uma vida livre e deixar com que as próximas gerações estejam livres também.
Constelar é completar, compreender, entender e se livrar das lealdades e emaranhamentos ao mesmo tempo em que fortalece o pertencimento pelo amor.
Nesse processo, é necessário não julgar as pessoas, ter compaixão e empatia. É preciso concordar (no sentido de aceitar os fatos), agradecer, pedir o que precisa e reparar os danos, da maneira que for possível.
É preciso também olhar para os vínculos de amor interrompido, que são situações em que o amor não pode ser vivido.
Na minha história, acredito que tive um vínculo de amor interrompido com o meu pai. Meus pais se separaram quando eu tinha oito anos. A situação em casa não era das melhores, mas nunca houve agressão, bebida ou traições. Mas, o relacionamento era difícil e o casamento já tinha acabado mesmo.
Os anos seguintes foram ruins, com relação a ele. As visitas eram desagradáveis e, com o tempo, deixaram de existir. Ele foi mudando, sempre tentava me procurar, mas eu mantinha distância. Minha mãe nunca incentivou nosso contato, pelo contrário. Nem com a família da parte paterna me mantive próxima.
Muitos anos mais tarde, já depois dos quarenta anos e mãe de duas meninas, resolvi fazer esse resgate, antes que ele fosse embora. Passamos a nos falar por telefone regularmente e passei a visita-lo de vez em quando. Revi minhas tias e primas e chorei por ver o quanto perdi por não ter convivido com essa família tão unida e amorosa.
Mas, tenho tentado, dentro do possível, reparar isso.
Por incrível que pareça, hoje consigo conversar mais com ele do que com a minha mãe, que teve um AVC e ficou muito prejudicada. Parece-me que, de certa forma, nesse fim de vida de ambos, ela deixou um espaço para ele.
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