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AS NOITES ESCURAS DA ALMA

AS NOITES ESCURAS DA ALMA
Jordana Rosa da Silva
ago. 2 - 5 min de leitura
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As noites escuras da alma!

Sinto gratidão por hoje enxergar as noites escuras do meu sistema.

Minha bisavó materna, mãe da minha avó, vivia diariamente noites escuras da alma, com uma psicose constante. Corria atrás de nós ainda pequenos, pelo quintal, com o pau na mão; via coisas que não víamos; falava história fora de contexto; tinha alguns poucos momentos de lucidez, mas sempre foi muito brava.

Minha avó paterna também viveu noites escuras da alma, diária. Vivia infeliz, doente e com muitas dificuldades. Eu tenho muitas lembranças dela, porém o ar triste e pesado por carregar nas costas um casamento infeliz sobressaía, e eu até acho que ela desistiu da vida em determinado momento.

Minha tia, irmã mais nova do meu pai, teve suas noites escuras, e foram longas e muito duras. Sua psicose foi tão séria que precisou de internamento no hospital psiquiátrico por algumas vezes, pois fazia coisas inacreditáveis aos nossos olhos ignorantes, mas graças a Deus, hoje ela está ótima.

Minha outra tia, irmã do meio do meu pai, ohhh coitadinha, essa vive uma eterna noite escura! Quanto sofrimento esse ser humano já passou nessa vida, e a vida dela nunca foi fácil. Eu vejo que ela é, de certa forma, excluída, uma excluída que vive junto, porém não a vêem, parece que as suas dores não importam, nem suas fraquezas e angústias, mas eu tenho compaixão por ela, sempre tive.

Consigo olhar para sua história com empatia, e ela sabe disso, já até falou comigo um dia, que eu entendia os porquês de ela viver essa profunda depressão.

A minha mãe recentemente passou pelas noites escuras da alma: angústia, insônia, ansiedade e  medo dominaram o seu corpo e a sua mente, e foram momentos difíceis, porém foram necessários. Ela mudou bastante após esse período, ainda está em tratamento mas já vejo o quão bem esse difícil processo fez a ela, pois está vendo a vida com outros olhos, dando importância ao que realmente precisa ter importância.

Minha mãe teve noites escuras também durante a minha gestação. Além disso, lembro bem que no pós parto do meu irmão vieram episódios de ansiedade e angústia. Eu era uma criança e não entendia muito bem, mas com o passar do tempo soube o que era puerpério, depressão e entendi o que minha mãe teve.

Enfim, cheguei nas minhas noites escuras: sempre tive muito medo de engravidar, medo do parto em si, era algo que me causava arrepios só de imaginar.

Aos 30 anos engravidei, e me deparei com a minha primeira noite escura, com crises de ansiedade, medo, pânico, insônia, juntamente com vômitos durante toda a gestação, além de uma dermatite nas mãos que me deixou com os dedos em carne viva, e após 30 semanas, chegamos ao risco de parto prematuro mas no fim vencemos essa batalha.

Em casa com o bebê, o peito jorrava leite, comida à vontade, graças a Deus, mas sentia o pânico de faltar alimentação, imaginava todas as crianças que não tinham o que comer, as mães que não tinham leite e isso me dava uma angústia tão absurda que, mesmo com o peito jorrando leite, o meu bebê não podia resmungar que eu corria fazer uma mamadeira pra ele. Isso passou, tive um anjo que conversou muito comigo sobre isso e me ajudou muito.

Aos 32 anos, engravidei novamente, depois de muito conversar com Deus sobre se era da sua vontade que eu fosse mãe novamente.  Mais uma vez uma gestação sofrida, o enjôo constante, até que chegaram as crises de ansiedade e pânico.  O medo do parto, dessa vez, era muito maior, passava noites e noites limpando, lavando, rezando para ocupar a minha mente. O cansaço tomava conta do meu corpo mas era impossível descansar porque minha mente estava num poço profundo.

Chegou o dia do nascimento da minha filha, e no momento em que a médica a tirou da minha barriga, parecia que saiu outra pessoa além dela de dentro de mim, parecia que todo aquele peso, aquele medo tinha ido embora, e eu senti fisicamente mesmo aquela saída das minhas costas.
 
Fato é que não aproveitei nenhuma gestação, meus filhos foram planejados e desejados, mas eu não tinha condições emocionais, por mais que eu tentasse aproveitar a barriga, sentir as mexidas, conversar com o bebê, tudo que eu sentia me fazia imaginar que gestar era um peso muito grande.

As minhas noites escuras vieram no momento em que mais eu precisava de calma e tranquilidade, e no quinto mês de gestação da minha pequena, eu falei: Deus porque eu sinto isso?

Meus filhos são planejados, temos casa, comida condições de cuidar deles, eu não quero sentir isso, e foi como se uma lâmpada se acendeu na minha frente, e a resposta veio: eu não fui planejada, meus pais namoravam ainda.

Em 1982, uma moça engravidar era uma vergonha, mas eu queria tanto vir ao mundo que, embora meus pais não chegaram às vias de fato, na única oportunidade que tive, eu aproveitei e estou aqui! 

E nesse dia eu imaginei o quanto minha mãe sofreu, o medo que ela passou, as dificuldades, e entendi que eu estava sendo leal a tudo isso. 
 

Jordana Rosa

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