Oi Mãe,
quero te dizer, que me sinto muito triste com as coisas que a senhora me fez, para mim foram muito erradas, elas me trouxeram muita dor e sofrimento.
A senhora por muitas vezes, me esperava ir tomar banho, para me bater despida no chuveiro, com cipó ou chinelo. Minhas pernas ficavam marcadas, ardiam e isso me magoava muito.
As vezes a senhora me batia, e se eu chorasse você dizia para calar a boca, e se eu ficasse calada, você dizia: Você não vai chorar ?? e me batia até eu chorar.
Como era difícil pra mim esse momento, e por muitas vezes sem eu ter feito algo que merecesse; apesar que hoje tenho uma filha e entendo que conversando é possível o entendimento.
Eu sei que você apenas replicou o que foi recebido.
Existe uma orfandade muito grande no nosso sistema; inclusive você, que desde o ventre da minha avó, foi prometida a ser doada por sua mãe, para a sua avó, minha bisa, caso nascesse com vida. Isso porque sua mãe perdeu um bebê antes de você, ainda na barriga.
Sinto muito por você!
Outrora a senhora me batia com a mão, onde ela pegasse, na cabeça, onde desse certo, assim acontecia, o sentimento era de ser um saco de pancadas.
A senhora falava que eu estava feia, quando me arrumava pra sair com meus amigos, acredito que era para eu ficar em casa com você, né?
Mas não resolvia. Eu saía assim mesmo, e jogava essas falas para debaixo do tapete e pensava: queria tanto um beijo seu, mas quando te abraçava e beijava, você me perguntava o que eu estava querendo.
Oh Mãe era tão, tão doído essa fala, que me emociono ao escrevê-la aqui, e nunca mais me aproximei, a não ser em datas comemorativas; que nessas datas era permitido por você.
Mãe, estou apenas tendo coragem de escrever essa cartinha, indicada por uma pessoa abençoada por Deus, a mestra Olinda Guedes, para relatar que tudo isso me trouxe dor e sofrimento.
Mas estou ressignificando isso, porque mereço ser próspera.
Eu vejo você!
Um beijo!