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BORDANDO UM JARDIM

BORDANDO UM JARDIM
Ana Lúcia S. Rodrigues
abr. 5 - 5 min de leitura
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Durante uma das aulas sobre constelações épicas, da Olinda Guedes, senti meu coração acelerar, minha garganta doer e uma necessidade imensa de falar dos bebês que não vingaram em meu sistema.
Durante toda a minha infância, e isso seguiu pela vida adulta, sempre me impressionou muito o numero de bebês que meus avós maternos perderam, 11 ao total.

E depois de casar um medo profundo surgiu, um medo que tirava meu sono e meu sossego muitas vezes.

Muitas mulheres do meu sistema, inclusive minha irmã e minha mãe, perderam seus primogênitos, isso me apavorava, eu tinha medo de perder meus filhos.

Mesmo após nascerem meus meninos, mesmo estando saudáveis, ainda assim passei por um pavor assustador ate uns cinco anos após o parto.
Não foram gestações planejadas e eu não desejava ter filhos, mas quando a gravidez se confirmava, uma alegria profunda me tomava, tanto que eu nesses períodos, desejava conseguir ter estabilidade para ter mais uns seis filhos.
Enfim, pedi permissão à Olinda para compartilhar sobre os bebês de minha avó. Olinda perguntou se eu tivera algum aborto e, por algum motivo além do que eu compreendi naquele momento, respondi pela primeira vez de uma forma diferente do que normalmente respondo.

Falei: não que eu saiba , nunca perdi nenhum filho, nunca tive nenhum aborto. Olinda conversou comigo e me propôs uma tarefa, fazer um bordado que representasse para mim, a inclusão de todos os bebês perdidos em meu sistema. Perguntou se isso fazia sentido para mim e se eu poderia concluir esse trabalho até a Páscoa.

Sim, isso fez completo sentido, senti meu peito se aquecer e vontade de chorar, mas um choro como quando passei um tempo longe do lar e sem ver a família, quando retornei havia uma ansiedade , uma tremedeira e um choro de felicidade e saudade.

Minha vó me ensinou a bordar.
Então comecei a planejar o bordado, porém, algo me intrigava.

Porque eu não havia respondido como sempre respondia, quando questionada sobre abortos?

Porque isso estava me intrigando tanto?

Fiquei dois dias pensando e refletindo, então meu segundo filho veio me visitar, algo o incomodava e ele simplesmente veio.

Ele chegou, estava triste, me abraçou e disse: mãe eu estou tão cansado de não conseguir ser só eu.

Eu me sinto tão cansado e não consigo achar nada que me de alegria, me sinto só. Meu filho me abraçou e tudo que eu ouvia me lembrava a aula da Olinda.

Comecei a lembrar da gravidez desse filho, de como tinha sido difícil manter, tive sangramentos no quarto e oitavo mês de gestação, precisei ir para o hospital, foi uma gravidez de risco e precisou de muitos cuidados, mesmo assim quase perdi meu filho na hora do parto, estava se asfixiado no cordão umbilical.

Tudo passou em minha mente como trailer de um filme.

Lembro de escolhermos o nome, não quis saber o sexo antes do parto, então escolhi Rodrigo e depois do primeiro sangramento já não quis mais e escolhi Thiago, mas também escolhi um nome de menina, caso fosse uma, Raquel.

Quando meu filho nasceu o pai foi registrar e simplesmente registrou como Thiago Rodrigo.

Lembrei de tantas coisas e tudo fez tanto sentido, Thiago tem hoje 30 anos, desde o aniversario de 10 anos começou a ficar triste e teve depressão chegando a tentar o suicídio há uns cinco anos atrás.

Uma coisa que também me chamou a atenção é que ele está casado com uma moça que se chama Raquel.

Eu sinto em minha alma que nessa gestação perdi dois bebês.
Agora percebo também o que antes eu não via, meu pai, minha vó e meu avô maternos, todos ficaram órfãos de mãe aos dois anos de idade.

Percebi que essas mães não puderam acalentar, proteger e conviver com seus filhos, esses filhos não receberam o amor de graça, os pais não conseguiram lidar com eles.

Percebi como foi desafiador para as crianças crescerem sem as mães.

Quantas mães choraram com seus colos vazios e quantas crianças choraram querendo um colo.
Hoje sou ainda muito mais grata pelos pais que tenho e pelos filhos que tive a benção de gerar e criar.

Sou infinitamente grata por minha própria vida, pois, eu queria mesmo nascer.
Gratidão, Olinda Guedes, por me facilitar esse olhar.
Agora as crianças podem nascer e ficar, pois existem mães para embalá-las no aconchego de seus colos.
Eu, como filha e também como mãe, honro amorosamente todas as mães que partiram cedo.
🌹
Gratidão!


 

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