FICHAMENTO DE LEITURA
DADOS DA LEITORA
Nome: Maria Seleta Machado
Título: Carta ao Pai
Autor: Franz Kafka
Ed. Companhia das Letras, 1997 17ª reimpressão – SP
No ano de 1919, aos 36 anos, por
10 dias, Franz Kafka escreve uma carta de 50 páginas a seu pai. Após um
desentendimento com o pai que interviu negativamente na sua terceira tentativa
de casamento, por não considerar a noiva adequada socialmente à família Kafka,
o autor faz uma imersão em seus sentimentos numa forte tentativa de
reconciliação com o pai, no entanto a carta nunca chegou a ser entregue.
A relação entre pai e filho
sempre foi distante, um pai que não esteve acessível ao filho, nem em presença
física e companheirismo, nem em afetividade.
Kafka atribui o seu afastamento
do pai e da própria família ao tratamento de humilhações e autoritarismo.
Oscilando entre sentimentos de vitima e uma certa compaixão pelo seu pai, por
vezes, se sente culpado por não ter conseguido ser o filho desejado. Em outras,
justifica seu comportamento desajustado, extravagante e os sentimentos de
nulidade, à pouca intimidade e a educação opressora que recebeu. O filho queria
abertura, amabilidade, estímulo positivo e o que recebeu foi uma educação que
mais fechava os caminhos do que mostrava a direção.
Ao escrever o filho já se julga
“velho” demais para o que ele chama de nova vida para ambos, mas anseia por paz
interior e por mais leveza.
Sentimentos negativos e positivos
se alternam em toda extensão do documento. Um pai forte, severo é trazido por
Kafka como sendo uma sobrecarga emocional. A criança se anula para atender aos
desmandos e as humilhações do pai e não se sente a altura do homem que a oprime,
em contrapartida a quem nutre amor e admiração. Havia uma forte auto cobrança
do filho para tornar-se o homem que o pai esperava dele.
O autor reconhece que a vida
deixou no pai suas marcas. Compreende que o pai só estava dando o que havia
recebido, que a pouca expressão de amorosidade e segurança nem de longe
significavam um descaso ou desamor, ao contrário a intenção era torná-lo um
homem forte e corajoso.
“Depois que algumas ameaças severas não tinham adiantado, você me tirou da cama, me levou para a pawlatsche e me deixou ali sozinho, por um momento , de camisola de dormir, diante da porta fechada. Não quero dizer que isso não estava certo, talvez então não fosse realmente possível conseguir o sossego noturno de outra maneira; mas quero caracterizar com isso seus recursos educativos e os
efeitos que eles tiveram sobre mim. Sem dúvida, a partir daquele momento eu me
tornei obediente, mas fiquei internamente lesado.” Pág 13.
Preso na dor da criança , o adulto ora se percebe vítima, ora sente culpa e tenta explicar as atitudes do pai. O filho adulto sente os efeitos de sua criação e vive uma vida de contradições e fracassos.
Carta ao pai nos conecta a pureza da alma ao autor. Certamente, todos nós em algum momento sentimos o peso da educação parental e o quanto foi representativo nas nosas relações de adulto.
Eu indico, eu sou grata.