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CARTA AOS ANCESTRAIS

CARTA AOS ANCESTRAIS
Naiara Nai
set. 10 - 8 min de leitura
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Queridos antepassados, sou grata por tudo o que vocês fizeram até aqui, pelos caminhos que vocês abriram para que eu pudesse ocupar meu lugar hoje, por toda a história que vocês antecederam a mim.

Aos meus antepassados Paternos, quero dizer que eu sinto muito pelo pouco conhecimento que tenho da história sobre vocês, quase não tivemos convivência e a minha difícil trajetória com meu pai fizeram eu tomar a decisão de me afastar, assim achei que seria melhor para a minha saúde.

Minha avó Romilda, meu avó Ari Ribeiro, o pouco que eu sei foi da difícil jornada de vocês, minha avó mãe de 13 filhos 2 falecidos e muito católica, meu avô nunca soube a sua profissão. O que eu sei? - Da sua escassez financeira, severidade, pouco afetivo, poucas palavras, problemas com bebidas, nunca soube se foi um homem agressivo ou se pôr de trás das aparências tinha um coração amoroso.

Lembro do meu pai chorando no dia da sua partida, morreu de câncer no fígado, conversando com meu pai, internado no hospital, e pouco tempo depois minha avó também faleceu, não me recordo da causa.

Tios? Primos? Não conheço todos, aliás alguns nunca nem vi ou nem mesmo sei os seus nomes quem dirá da história de vida, o que eu sei é que alguns seguem na vida de escassez, bebidas, drogas, gestações com pouca idade, relacionamentos abusivos ou até mesmo sozinhas.

O que eu lembro da casa dos meus parentes é que era um lugar onde eu não me sentia bem, desde muito pequena não gostava da frieza daquele lugar, não me identificava com suas conversas, não lembro de risadas ou brincadeiras, me sentia com medo e aflita.

Hoje eu sei que também pertenço a vocês, mas por muitos anos ignorei a minha história. Hoje busco minhas respostas.

Meu pai me feriu muito, a mim e a minha família materna, sofri opressão, abuso, imposições, sofri financeiramente, sofri abandono, eu vi em meu pai a frieza, a maldade a manipulação.Mas, eu o amei verdadeiramente e sinceramente ainda o amo.

E pouco sei sobre vocês, meus queridos antepassados.

Meu lado materno, o nome já fala, não posso reclamar foi verdadeiramente materno, dentro das condições possíveis para época.

Convivi com meus bisavós, minha Nona mulher esperta, inteligente, viva, assim lembro dela andando colhendo flores, plantando, cozinhando, limpando, rindo, cantando, contando histórias, gritando com tantas crianças na sua casa.

Ela queria viver, lembro da sua força e vontade da vida. Lembro também da sua firmeza, da percepção real que ela tinha da vida, da vontade de sair daquele pequeno mundo e ir para a cidade grande, das suas ordens e organizações.

Meu Nono, calmo, sereno, tranquilo, olhos de muita bondade, carinhoso, amoroso, risonho, delicioso era sentar-se na varanda e ouvir contar as histórias de como chegaram no Brasil, como viviam, como trabalhavam como ele construiu a própria casa quando casou, como o furacão da cidade destruiu tudo.

Pai de 11 filhos, trabalhadores meus tios avós, casados e com suas famílias, são pessoas integras, honestas, divertidas, com as suas rusgas familiares, sempre com uma desavença aqui ou ali, mas sempre todos se encontram nas grandes festas de Bodas ou aniversários.

Minha avó.... amo você.

Você é incrível, mãe de 6 filhos, 4 mulheres e 2 homens, viúva aos 38 anos, com um casamento difícil, amo ouvir suas histórias, seus ensinamentos, sua vivência, amo ver como fica feliz quando está com seus bisnetos, que já são 6.

Fecho os meus olhos e tudo vem a minha cabeça, o cheiro de cremes, sua paciência quando destruímos toda a casa, das maquiagens e desfile de bolsas, dou risada quando lembro que você dava a cada neto dinheiro para irmos na distribuidora de doces, quando a vó abria uma lata de leite condensado para cada neto e ficamos tomando.

Sua vida foi muito difícil, sofreu financeiramente, ficou sozinha, sem apoio da família foi a luta, trabalhava como enfermeira e assim criou e formou seus filhos, construiu a sua casa, aliás não só uma, mas duas e mais a sua chácara que eu amo... me sinto em casa com você nesse lugar.

Amo como você nos acolhe, como fica esperando ansiosa a nossa chegada, mesmo já cansada com os seus 83 anos, a vontade de servir ainda está ali, apesar do corpo não aguentar, mais como a sua memória ainda faz você lembrar.

Cometeu erros, sim é claro, ainda os comete. Alguns mais graves do que outros, fez vista grossas para as situações de abuso do meu pai com minha tia, duvidou quando minha prima também viveu a mesma situação anos depois.

Hoje penso como teria sido se você tivesse acreditado na tia, mas compreendo o seu medo de achar que minha mãe passaria por tudo o que você passou, sozinha, sem dinheiro, sofrendo de depressão e com filhos pequenos para cuidar.

Acho que por amor você tomou uma decisão muito errada que refletiu na vida de outras pessoas, mas nessa altura da vida não importa mais. Você teve a oportunidade de dar um basta nos erros dele, não o fez, mas eu hoje adulta o faço, não vou perder essa chance de mudar nossa história familiar.

Minhas tias o que falar de vocês guerreiras, fortes, sempre para frente.... acho que são quase imbatíveis, amorosas todas vocês, sempre dispostas a ajudar, aliás não sei se existe alguma coisa que vocês não possam resolver, será que tem? Acho que não. Mulheres, mães fantásticas e profissionais, perfeitas? Não claro que não, são humanas, mas nenhum defeito é superior as qualidades.

Meus tios, homens dedicados, esforçados, pais amorosos participativos, presentes, homens que estão sempre na luta para ter e ser pessoas melhores e proporcionar vida melhor para meus primos.

Minha mãe, demorei a te entender, vi em você por muitos anos uma mulher frágil, uma pessoa que precisava de cuidado, e eu cuidei de você por muitos anos.

Eu senti a sua falta, senti falta dos seus cuidados como mãe, mas você doente, com depressão, vivendo um caos de tristeza e insatisfação com a sua vida, mesmo assim nunca me faltou amor, quando era possível os seus cuidados vinham.

Nunca fomos 100% afinadas, nunca tivemos longas conversas de mãe e filha, faltou confiança ou será segurança? Não sei. Sei que recentemente eu vi você como filha, como mãe, como mulher e o que você fez foi muito, entendo e acolho, sei que você fez sem dúvida o seu melhor.

Ainda te dou mais conselhos do que eu recebo, ainda te oriento mais do que sou orientada, mas não acho mais você frágil ,vejo a sua luta, a sua busca em melhorar em se entender. Consigo me satisfazer vendo você com a minha filha que te ama, como ela mesmo fala: Amo mais a vovó Ise, e sinto em mim o seu amor por ela, por nós todos e agora você sempre está aqui.

Pelos meus ancestrais eu conheci dois mundos, um deles de amor, cuidado, alegria, risos e como solucionar problemas, olhar a vida como deve ser, não ter medo de resolver as coisas ou de falar a verdade ou de assumir qualquer erro, porque afinal nos amamos e estamos sempre aqui um para o outro.

Do outro lado, minha outra metade meus outros 50%, tenho a falta, a ausência a distância, não só física, mas também de conhecimento, descobri o medo dentro da minha própria casa pelas mãos da pessoa que eu acreditei me amar, aprendi a brigar a me esconder, a fugir a mentir.

Me conecto e me identifico com os meus dois mundos, vaguei pelos dois, errei fiz coisas das quais me arrependi me afastei e voltei, porque o amor é maior, e hoje eu escolhi amar a mim, a minha vida a minha família e me curar.

A minha história não é tão linda, mas é minha.

 

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