Queridos antepassados,
Vovô Davi e vovó Dolorita,
Vovô Cesáreo e vovó Maria Vicência,
Vovô Manuel e vovó Leocádia, meus bisavós e
Vovô Dâmaso e vovó Doquinha,
Vovô Lucas e vovó Mariquinha, meus avós e meus pais:
Seu Dilmo e Dona Rutila, que eram primos, porque meus avós Dâmaso e Mariquinha eram irmãos.
Hoje me sinto preparada para iniciar esta jornada em busca da minha identidade e da vida que recebi através de vocês.
Um pouco confusa e com sentimentos de culpa que vêm entrecortando minhas noites.
Não sei se carrego de antes, mas racionalmente me vem coisas em relação às minhas filhas.
Vovôs e vovós por motivo de mudança fui afastada de sua convivência ainda muito pequena então fui privada de saber o que é ser paparicada, se é que seria possível com a quantidade de netos.
Mas o que importa é que cheguei até aqui através de vocês e de todos que vieram antes.
Infelizmente existem coisas que sei que era um padrão familiar, como o preconceito arraigado com pessoas negras e um machismo exagerado, que era comum na sua época.
E até na minha adolescência ainda me lembro, tive de ouvir quando uma mulher era abusada de alguma forma, que ela que tinha que se cuidar, porque homem é assim mesmo.
Tenho aprendido que não me cabe julgamento, pois foi dessa forma que os conceitos lhe foram passados.
Vocês que viveram na época que ainda existiam escravos e os negros que já estavam livres ficaram marginalizados pela sociedade.
Só que não me conformei em repetir e tentei escrever uma história diferente, muitas vezes com linhas bem tortas e é aí onde vejo que sacrifiquei um pouco minhas filhas, mas que hoje se mostram mulheres corajosas e cultas.
Olhando para tudo isso hoje meus queridos pais, só tenho a agradecer por ter vindo nesta família e ter a oportunidade de evoluir nesta vida, que recebi através de vocês e de todos que vieram antes.
Gratidão.