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CARTA AOS ANTEPASSADOS

CARTA AOS ANTEPASSADOS
ÁUREA MARIA ABRANCHES SOARES
abr. 1 - 5 min de leitura
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Queridos pais biológicos,

Passei anos sem saber do paradeiro de vocês e de como foi o nosso início de vida juntos. Fui adotada recém-nascida por meus pais Vera e João. Quando completei dois anos de idade, saímos da minha cidade natal e percorremos outras localidades, devido as transferências de trabalho de meu pai.

Vivi uma vida boa com meus pais adotivos que me deram amor e se comprometeram em cuidar de mim da melhor forma que puderam.

Sempre soube que eu era adotada e que minha mãe havia me dado por falta de condições financeiras e que nada sabiam sobre o meu pai biológico.

Tenho poucas informações e relatos da época e fico impressionada que, mesmo sem quase nada saber, fui manifestando sinais emocionais que estavam registrados em minhas memórias.

Em tenra idade, eu algumas vezes falava para minha mãe Vera que sentia um buraco no meu peito, e que nada cabia lá que o tampasse. Ocorria também episódios que eu dizia que meu coração estava doendo de saudades de quem eu não conhecia, mas eu amava; e ela me dizia: Reze para este amor que você sente falta. Eu seguia o seu conselho e a paz voltava em mim.

Na adolescência,  tomei conhecimento da existência de irmãs biológicas, que também foram adotadas por outras famílias, mas fui conhecê-las somente em 1996, quando eu já tinha 22 anos.

Foi um dia especial aquele. Fizemos telefonemas intermináveis e aquela  sede de vínculos, semelhanças e diferenças que todas nós tínhamos, se apresentaram, mas a vida havia me reservado outra surpresa.

Minha mãe havia sido também encontrada.

Então, ela veio a mim pessoalmente e este encontro foi emocionalmente assustador, abrupto e invasivo, que gerou um misto de felicidade e repulsa, eu tentava não rejeitar, mas meu corpo tremia na presença dela, percebi que mágoas pairavam entre nós e histórias ocultas começavam a surgir.

Eu e minha mãe tivemos muitos encontros, onde as conversas eram amigáveis e amenas, mas,  quando o assunto sobre minha origem surgia ou eu queria saber quem é o meu pai biológico, não havia mais entendimento e eu não recebia as informações que necessitava. Com o tempo eu fui afastando e me decepcionando pela ausência de clareza.

Ocorre que há uns 4 anos meus pais adotivos partiram para um novo plano de vida e aí senti novamente uma invasão emocional, uma cobrança expressa de tomar o lugar afetivo que minha mãe adotiva cultivou em nossa relação.

Eu digo a você, minha mãe biológica:

- Mãe, isto não é possível, os laços maternos criados ao longo dos anos são a base de amor, dedicação, sacrifício. São frutos diários de uma convivência íntima de cumplicidade e apoio mútuo. Mãe, você tem o meu amor e tem a minha admiração por permitir a minha vinda ao mundo e sou eternamente grata por isso. Reconheço que seus sacrifícios foram outros: o de me dar a vida e a adoção.

Te amo e te perdoo.

Minha mãe era uma menina da roça que passou a trabalhar e morar em casa de família para sobreviver. Ela foi tendo filhos e dando cada um para uma família. Sem apoio dos parceiros, os  genitores,  e com uma vida invisível socialmente, teve na escolha da adoção um caminho melhor para seus filhos. Lutadora e guerreira, se refez casou e teve um novo filho, que não sobreviveu. A vida passou e ela adotou a sobrinha do seu marido.

A vida é boa mesmo, olha como tudo se encaixa. Temos sempre a oportunidade de nos refazermos e Deus, na sua infinita bondade, providencia sempre o necessário.

Minha mãe biológica, eu sou sua filha, tenho muito da senhora, mas o que mais admiro é a capacidade de me refazer e de estar de bem com a vida. Respeito o seu destino,  silêncios e segredos, pois eles são seus.

Para mim, agora, não há segredos que não possam ser revelados, tenho meu pai em mim e todos os meus familiares paternos.

Por isto, querido pai, obrigada pela vida que o senhor me proporcionou. Eu não sei se chegou a saber sobre mim ou não, mas há boatos que soube que eu era filha do dono da casa que minha Mãe trabalhava, contudo, ela não confirma e nem desmente,.

Há um segredo aí, não é?

Perguntas como:

Quem você é?

Por onde anda e que faz da vida?

Com quem pareço?

Quem são meus avós e quais são as histórias de vida que eles trazem?

Talvez não sejam respondidas, mas não significa que não existam, muito pelo contrário eu posso afirmar que tenho um pai, que tive uma avó e um avô, e muitos parentes também, que faço parte da família.

Agora, eu pertenço.

Te amo pai!

Meus pais queridos! Eu os amo, sou grata pela minha vida tanto a voces, quanto a todos que vieram antes de nós.

 

#mod01; #cartaaosantepassados; #paisbiologicos

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