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CARTA AOS ANTEPASSADOS

CARTA AOS ANTEPASSADOS
Raquel de Magalhães Junqueira
abr. 8 - 8 min de leitura
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Eu sou Raquel de Magalhães Junqueira, 41 anos, casada, dois filhos, aluna na escola real.

Resolvi iniciar minha carta aos antepassados pelo momento presente.

Eu, dei início a essa jornada pela busca do autoconhecimento, por um estilo de vida sistêmico, rumo a alegria, a felicidade e ao fluxo da vida.

Tive uma infância que até pouco tempo atrás, achava que tinha sido funcional. Bem nascida, bem criada, boas escolas, dentro de uma tradicional família mineira.

Um pai provedor que nunca deixou faltar nada em casa e uma mãe que organizava os afazeres domésticos e dos filhos.

Por um bom tempo da minha vida eu os culpei por algumas questões minhas, por não me ensinarem determinadas coisas ou por relaxarem comigo em outras. Hoje, entendo que fizeram o melhor deles.

Queridos José Maria e Maria Angela, meus amados paizinhos, muito obrigada por tudo!

Hoje eu aceito que vocês foram o melhor que puderam, dentro do que podiam e aprenderam na vida.

Obrigada por me darem a vida, por me proporcionarem uma infância sem que nada me faltasse.

Muito obrigada por tantos bons momentos, e pelos ruins também, porque foi através deles que eu pude perceber determinadas questões internas, que pude vencer a mim mesma e me fortalecer.

Me perdoem por muitas vezes querer de vocês algo do qual simplesmente não poderiam oferecer.

Hoje eu entendo que estamos todos nessa jornada evolutiva chamada vida, e que todo mundo acorda dando o melhor de si.

Por diversas vezes tive que me afastar emocionalmente, mas hoje percebo que foi necessário não por vocês, mas para que eu voltasse a mim mesma, e entendesse o que se passava ali.

Pai, por tantos anos escutei suas histórias e não percebi quanta dor você carrega. Nono filho, temporão, nascido na fazenda dos pais no sul de Minas Gerais.

Perdeu os pais e o irmão mais velho ainda muito jovem.

Uma infância baseada no medo, na doença, na expectativa de perder as pessoas queridas e de ter que ser mais responsável do que deveria para a sua idade.

Uma criação rigorosa e com muitas crenças religiosas e machistas da época, baseada no sofrimento e na dor.

Hoje eu entendo perfeitamente meu querido pai que muitos afetos que eu esperava de você, você ainda não dava conta, e tudo bem.

Se você quiser e der conta, a partir de hoje você receberá esses afetos de mim, sua filha, que vem percebendo melhor esse fluxo da vida e encontrou o que precisava onde tinham para oferecer.

Você usou toda sua história para ser forte, construir tudo que construiu.

E hoje sei admirar essa história, seus feitos, a todos que você ajudou e contribuiu.

Você tem um coração enorme pai, cheio de amor para dar.

Sinta-se a vontade de fazer isso quando entender que não é fraqueza, é alegria de viver.

Irei me esforçar para a partir de hoje e a cada dia, não criar tantas expectativas em cima de você e saber saborear tudo aquilo que você pode e quer me oferecer. Eu te amo e sou grata por você, pelos seus pais, pelos pais de seus pais e por todos que vieram antes de nós e se esforçaram para que pudéssemos estar aqui hoje.

Graças a você e a vários da sua família, estou aqui e conheço muitas das histórias da família.

Meu avô, José Bento o qual você sempre conta.

Filho único, que agora nos meus 41 anos, descobri que não era único.

Existe uma filha que nasceu e morreu e que ninguém, nem mesmo os mais conhecedores das histórias da família falavam nela) conhecia ou sabia que existia.

Uma mulher.

Ninguém sabe qual o nome, quando morreu, e como foi realmente a história dela. Agora eu enxergo minha tia avó.

Dei o nome de Maria, comum a época e comum na família.

Honro e agradeço a ela, que já pertence ao meu sistema.

Agradeço muito a toda essa família paterna, aos excluídos, aos bem sucedidos, aos agregados, aos que lutaram, aos que cuidaram, aos que foram fazendo registros ou mesmo redescobrindo estes registros para que conhecêssemos nossa história.

Sei que nossa ancestralidade aqui no Brasil originou-se de quatro irmãos que vieram de São Simão da Junqueira, em Portugal, no século XVIII.

Mãe, muito obrigada pela vida.

Conheço pouco a suas histórias.

Como minha avó, você foi se deixando sem conhecer dentro da sua própria família.

Foi se anulando para atender prontamente seu marido, meu Pai.

E tudo bem.

Até pouco tempo atrás eu fazia o mesmo, com outras roupagens, achando que era totalmente diferente de você.

Hoje, nessa jornada do autoconhecimento, eu me trabalho para não me anular por nada nem ninguém.

E foi através de você que percebi e aprendi isso.

Te agradeço imensamente.

Para mim ainda é desafiador, mudança de paradigmas, de hábitos, novas escolhas e mais que isso, ter culhão emocional e material para bancar essas novas escolhas.

Estou treinando.

O primeiro passo, tomar consciência disso, eu consegui.

Agora me esforço para o segundo passo: minhas ações.

Buscarei ser um pouco melhor todos os dias, por min, por você, pela minha avó, e por todas as nossas ancestrais que deram seu melhor para que nós existíssemos.

Inclusive pelas mulheres da família do meu pai, que também tinham forte essa característica.

Você aprendeu assim e fez o melhor que você podia.

Também tomei consciência disso.

Sei que minha vó Anita, a única avó que conheci viva e amo demais.

Sua mãe, ficou órfã muito nova, foi criada pelo tio seu tutor.

Que quando casou com meu avô, teve toda sua herança doada, por ele.

Por puro machismo e honra distorcida.

Afinal, por honra de um homem do interior muito comum na época, meu avô não queria que os outros falassem por ai que ele casou por interesse.

Quanta coisa desalinhada.

Quanto sofrimento desnecessário, ou talvez necessário para que enxergássemos isso e os honrasse.

Dos pais dos meus avós eu nada sei, e você pouco sabe também né?

Afinal, na sua casa, sua mãe não falava nada dela, da família dela e de seus parentes.

É muito comum que você me relate que não tem registros da sua infância, que na sua casa sua mãe nada falava da família dela.

Pois eu quero saber tudo, de você, deles e de todos que ficaram anônimos por aí. Vamos juntas conhecendo e descobrindo todos que fizeram seus esforços para que existíssemos aqui.

Estarei com você nessa jornada de adentrar em nossas origens.

Eu agradeço muito a você minha mãe.

Honro e agradeço. Pela vida. Por tudo que fez por mim, para que eu fosse quem sou.

Por todo seu esforço.

Sei que você ao conceber meu irmão Daniel, teve uma ruptura de útero e quase morreu. Sua médica só não retirou seu útero, porque sabia que você e meu pai tinham sonhos de mais filhos.

Após os quatro anos determinados por ela, você corajosamente ainda me concebeu.

A terceira filha e a última tentativa. Eu agradeço tanto, mas tanto por isso.

Por seu esforço, por me querer, por me planejar, por se arriscar por mim! Nada pode ser mais importante que isso.

Todo meu amor por você e pelo meu pai por minha vida.

Quando penso nisso, outras coisas se tornam pequenas e me sinto feliz.

 

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