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CARTA AOS ANTEPASSADOS

CARTA AOS ANTEPASSADOS
Helane Cristina Barbosa Araújo Gonçalves
mai. 21 - 9 min de leitura
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Querida família, meus avós.

Como é difícil iniciar uma carta para vocês nesse momento, pois nosso convívio físico não foi tão grande em tempo mas sinto que houve amor entre nós.

Aos meus avós paternos, tive pouco mais de 18 anos para conviver com vocês 2, quando viajávamos para a casa de vós em São Francisco do Pará, um lugar pequeno e que na época era uma aventura ir visitá-los nos fins de semana já que a viagem de ônibus era demorada e tínhamos que sair bem cedo para pegar o veiculo.

Tenho memória de ônibus cheio e calorento.

Perdi as contas de quantas vezes meu irmão e eu fomos espremidos ou fomos ao lado de adultos desconhecidos. Era uma viagem intermunicipal e que mesmo assim gostávamos de ir porque nesse momento, papai sempre comprava laranjas descascadas ou rosquinhas de broa de milho para irmos nos deliciando na viagem. Também comprava água mineral de garrafa que era uma delicia provar.

A viagem apesar de demorada era gostosa porque atravessávamos uma parte da BR, passávamos por pequenos trechos onde víamos bois, cavalos, muitas árvores e também igarapés até chegar na casa de vocês. Sempre que chegávamos haviam outros tios e primos presentes, logo a casa que era de barro e grande, ficava cheia de gente. Almoçávamos e jantávamos juntos e íamos tomar banho de igarapé.

Me lembro de você minha vó Adelzira, sentada próxima da janela da cozinha com sua bengala de madeira, pois era cega devido a diabetes. Fazendo suas refeições ali e conversando com um filho e outro. Acabei de sentir sua mãos finas me abençoando (lágrimas transbordam em mim).

Você tinha uma papagaia que assobiava uma parte do Hino Nacional. Apesar de cega, você sempre conversava bastante e mesmo assim conseguia manter sua casa organizada. A cozinha era grande, onde tinha uma mesa de madeira que permitia  várias pessoas sentadas juntas. Como era gostoso sentar juntos com meus primos e fazer nossas refeições.

Me lembro de minha avó passando uns dias em nossa casa aqui na capital.

Era uma casa bem pequena. Não me recordo se a senhora dormiu conosco.

Quanto ao meu avô Antônio, o senhor era mais sério, não era de tanta conversas com netos e filhos. Lembro do senhor chegando na casa depois do dia de trabalho ou pescando ou vindo do terreno onde plantavam arroz, mandioca ou outro tipo de plantação. Sempre de calças compridas, camisa de botão, cigarro na mão e de chapéu de palha onde o senhor quando chegava em casa o pendurava atrás da porta e abençoando aquele monte de netos e filhos.

Parecia que ia ter uma festa quando os irmãos que moravam na capital, chegava em sua casa: meus pais e outros tios. Os que moravam em São Francisco iam nos ver. A casa tinha um terreno enorme, onde tinham criações de animais como porcos, picotes, galinhas, jabutis. Também grandes árvores como de abricó, jaca, pupunheira, Cuieira. Quantas vezes fazíamos grandes refeições no quintal.

Também tinha um girau grande. As casas ao lado eram de 2 filhos seus, irmãos de meu pai.

Me lembro quando eu tinha 9 anos de receber a noticia que minha vó tinha falecido no hospital, vitima de mais um AVC. Não fui para seu enterro e pedi para ficar com minha madrinha, minha tia materna. Meus pais me deixaram lá e depois de uns dias me buscaram e me levaram para a casa.

Não me recordo da tristeza de meu pai.

Mesmo com o falecimento da vovó, sempre que podíamos íamos visitar o vovô que agora morava só naquela enorme casa. O tio mais novo optou em morar na casa ao lado pra fazer companhia ao meu avô, pois minha tia que morava ali tinha saído de lá depois que vovó faleceu. Desde então quando meus tios mais velhos foram morar para outro lugar.

Quando íamos, continuávamos dormindo a casa do vovô.

Passando um tempo, meus tios e meu pai começaram a mudar a casa que era de barro, para casa de alvenaria e aquela estrutura antiga foi se modificando e de certa forma pareceu ficar mais escura, com menos claridade.

Ela já não representava aquela casa aconchegante que mesmo sem tantos moveis, parecia mais alegre mais cheia de vida. Logo as louças, as toalhas, as redes, os lençóis que outrora existia com minha vó, já não estavam mais lá.

Hoje me pergunto para onde esses objetos foram?

Após 10 anos de falecimento de minha vó, meu avô também se foi. Meu tio mais novo ligou para meu pai informando que o vovô tinha falecido como um passarinho. Ele morreu em casa nos braços de meu tio. Depois de algumas horas esse mesmo tio, com uma Kombi, pegou nós em casa, assim como os demais tios e primos e nos levou na viagem de volta para a casa de meu vô. Seu velório foi em sua casa e pela manhã seu corpo conduzido para o cemitério. Me recordo de ver meu pai na soleira da porta da rua, chorando abraçado com outra pessoa. A casa estava cheia e parecia que só nós crianças tínhamos dormido.

Nesse período eu soube que meu avô bebia muito e ficava de porre pelas esquinas da rua, que meus tios quando iam visitá-lo, ele se mostrava sempre chato e reclamão (era assim que meus tios falavam). Meu pai sempre dizia nesse período que você vovô já era velhinho e que tínhamos que lhe aceitar assim porque era sua natureza. (meu pai estava certo e está se parecendo com você vovô, só não bebe e deixou de fumar há tempos mas reclama de tudo e eu aceito ele assim, é da natureza de vocês serem assim e será de minha também).

Sabe meus avôs queridos depois que vocês se foram desse plano físico, eu não tive mais vontade de ir para a casa de vocês, pois não senti mais aquele calor de família. Os moveis que já eram tão escassos, já não existiam mais. Agora quando íamos a casa estava fechada e meu tio mais novo continuava lá e continua até hoje mas modificou sua casa e casou com uma nova esposa e adotou os filhos dela como seus.

Quando íamos para lá, ficávamos na casa de outros tios e eu sentia menos vontade de ir para lá porque eu já não sentia o amor. Com o tempo deixei de ir mesmo e só ia meus pais, na verdade sempre que podem, eles vão.

Lembro que a frente da casa tinha uma varanda e a entrada  da sala. De fora, na calçada, víamos a janela da sala( 2 na frente) que era bem altas e não dava para ver dentro.

Era pela varanda de madeira que entravamos para ter acesso a casa.

Ai sim, víamos a sala que tinha com as  janelas na frente e entre elas havia relógio de corda e um banco de madeira. Havia também uma janela lateral na sala que dava para a rua do lado, já que a casa era bem de canto entre 2 ruas. Na sala havia uma porta que dava acesso a outro quarto já sem janela e através deste uma outra porta que dava acesso a outro quarto mais escuro. Esse quarto dava acesso ao corredor da casa, mas quem quisesse podia vir pela varanda que acessava esse mesmo corredor.

No fim dele tínhamos acesso a cozinha e também ao quarto da vovó onde estava sua cama, seu baú e guarda-roupa.

Logo de onde vovó sentava dava pra ver quem chegava em sua casa.

Antes do senhor vovô nos deixar, a varanda já não existia. Havia, um pátio ainda por fazer e quando entravamos nele, conseguíamos olhar pela janela e ver a sala. Depois que o vovô nos deixou,  minha tia decidiu comprar a parte da casa dos irmãos eu pedi pro papai não vender a dele, porque a casa era de todos e pedi para tentarem arrumar ela pra ficar a casa do fim de semana para todo os tios que moravam em outro lugar não tinha casa em São Francisco.

Mesmo assim a casa foi vendida. 

Acho que me sinto arrependida de eu não ter comprado a casa e ter dado ela ao meu pai.  Faz mais de 4 anos que não vou em São Francisco. Na última vez que fui, lembro que a casa de vocês, meus avôs queridos, em nada se parecia com a da memória que eu guardava: hoje ela é toda de alvenaria e de 2 andares.

Sinto que é hora de voltar lá e ver vocês de novo meus avós queridos.

Olhar de novo o quintal, as árvores, me ver criança de novo.

Sentir vocês e agradecer pela infância maravilhosa que tive!

#mod01

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