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CARTA AOS MEUS ANTEPASSADOS

CARTA AOS MEUS ANTEPASSADOS
Leticia Monfardini
mai. 22 - 8 min de leitura
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Queridos antepassados, tão amados antepassados,

Que bom estar escrevendo para vocês agora! Venho aqui como uma criança que quer escrever uma cartinha aos pais e não sabe exatamente o que escrever... vou deixar as palavras fluírem... penso que gostaria de falar tantas coisas, mas me faltam palavras... porque não os conheço como eu gostaria.

Sei que vocês foram bravos guerreiros que com muita luta, suor, sangue e lágrimas tiveram coragem de viver para que hoje eu esteja aqui.

Gratidão, eu honro vocês!

O pouco que eu sei sobre vocês é que viviam na Itália e que a vida por lá não devia ser fácil e por isso decidiram deixar sua terra natal, suas origens, família e buscar pelo novo em uma terra distante e desconhecida.

Vocês foram muito corajosos!

Mesmo sem ter noção do que encontrariam aqui, enfrentaram seus medos em busca de um sonho, de uma vida melhor, chegando aqui “no fim do mundo”, muito distante do Porto de Santos, foram capazes de deixar sua marca, seu legado, seu nome... estou aqui hoje escrevendo essa carta, gratidão queridos antepassados!

Meus queridos bisavós paternos, de vocês sei um pouquinho mais... sei que foram pessoas ligadas a terra. Viviam do que cultivavam e o excedente era vendido na cidade para que pudessem viver.

Não existia fartura de alimentos, tudo era dividido e controlado para que todos os filhos tivessem o mínimo para viver. Todos ajudavam na roça até a idade de se casarem e sair de casa.

Ouvi histórias, bisa, de que você não foi muito boa para minha vovó quando ela se casou; entendo que a vida não devia ser fácil naquela época, sinto muito por isso.

Meus bisavós maternos, como queria saber mais sobre vocês... infelizmente sobre vocês não sei absolutamente nada. Isso me entristece, pois parece que vocês não existiram e isso não é verdade! Para mim, vocês existem e são muito presentes sim.

Tenho curiosidades. Fico buscando. Como eram seus rostos? Que histórias vocês contavam? Como era o cheiro de vocês? Será que a bisa gostava de cozinhar? De costurar? Quais eram suas maiores habilidades? Vocês eram divertidos, sofridos, bravos? Sabiam escrever?

Eu gostaria tanto de saber... Eu imagino vocês atrás de mim, me abençoando, mas meu coração dói por vocês não serem lembrados... lágrimas correm no meu rosto agora, sinto um calor no peito... onde posso encontra-los, como posso incluí-los?

Sim. Agora eu sei. Dentro de mim vocês sempre estarão e eu os encontrarei. Eu não sabia e penso que era por isso que me sentia assim, tão perdida no mundo.

É estranho isso tudo porque a família de origem da minha mãe parece que não existe... pouco se fala sobre vocês e quase não temos contato com familiares. Mesmo vocês, vovó e vovô, eu sei tão pouco sobre vocês... talvez seja pelo fato de você vovó ter falecido tão jovem...

Eu sinto muito amada vovó, sinto tanto, tanto que você tenha sofrido tanto a ponto do seu coraçãozinho não aguentar mais.

Lamento pelos seus filhos  terem ficado órfãos, por se sentirem culpados e desamparados, lamento pelo sofrimento das moças (incluindo a mamãe) que precisaram morar com parentes porque o vovô não podia dar conta de tantos filhos sozinho.

Minha mamãe conta que o senhor vovô era muito bravo e ruim... que batia nos filhos para valer e que a vovó tinha pena, mas que não conseguia defender os filhos... será que ela também tinha medo do senhor?

Muito provável.

Sinto que há coisas que não podiam ser ditas, por isso, esquecer é mais fácil... De você vovô, tenho duas lembranças apenas: a primeira de você deitado em uma cama, ligado a grandes tubos de oxigênio, devido a insuficiência pulmonar, e a segunda lembrança, só seu enterro. E olha vovô, eu tinha apenas 2 anos e como isso me marcou.

Não sei se você teria brincado comigo se pudesse, porque tenho a impressão de que você não era bondoso, mas talvez seja só uma imagem que eu criei de você de tanto ouvir o que a mãe contar da infância dela, pois suas irmãs, a tia Lúcia, a tia Maria e a tia Terezinha eram amáveis, anjos de Deus na terra e eu amava elas do fundo do coração, será que você não era assim, anjo de Deus,  também?

Sinto uma tristeza profunda em pensar em vocês vovós, meu peito dói, minha garganta aperta, parece que não consigo respirar.... eu vejo vocês, sinto as dores de vocês, respeito o destino de vocês... peço que me abençoem e me permitam levar ao fim o que espera para ser visto.

A meus avós paternos... com vocês eu vivi a minha infância toda, e tenho tantas lembranças! Sei que a vida de vocês não foi nada fácil, principalmente quando os filhos eram pequenos, mas vocês foram valentes, trabalhadores e conquistaram tanto! Criaram filhos incríveis e tenho orgulho dessa enorme e linda família, que ama “uma junção”, estar junto e confraternizar ou se reunir para orar.

É um orgulho pra mim, saber que você vovô era um homem com sabedoria e inteligência, um letrado por desejo de saber (e agora eu sei de onde vem essa minha sede por conhecimento). Lembro de todos os detalhes da casa de vocês, lembro do cheiro da casa, dos quadros com santos na parede da cozinha, da cama de molas com colchão de palha que eu dormia (e detestava! Kkkk), lembro das bolachas caseiras com açúcar que a vó sempre tinha para nos oferecer (que saudade).

Achava engraçado o jeito “munheca” da vovó, sempre brigando com os netos para que a gente não comesse as frutas do pomar (e a gente pegava escondido, rsrsrs).

Era uma aventura sem fim, comer sem ser surpreendidos pela vó, era um “defeito” seu, ser muito apegada aos bens materiais, nunca queria dar nada... mas eu te entendo vovó, nada foi fácil para você, e foi com muito esforço e trabalho duro que começava muito cedo e terminava muito tarde que vocês conseguiram ter uma vida digna, eu honro isso e peço desculpas por todas as vezes que te critiquei por ser assim.

Me perdoe! E você vô Angelo, lembro do seu sorriso, sentado no seu banquinho ao lado da porta, sempre mexendo com os netos, se divertindo com os cachorros...

Não lembro de ser abraçada, mas sinto o carinho de vocês até hoje.

Queridos avós, aprendi tanto com vocês! O amor pela terra, pela natureza e pelo natural, pelos animais e pela cura. Lembro de quantas vezes corria para receber um chá ou um benzimento quando algo não estava bem, vocês nos curavam de todos os males.

Quantas pessoas vinham para receber um benzimento da vó ou pedir pela devoção do vô? Muitas e vocês sempre acolheram a todos com muita fé e carinho. Falar com vocês e sobre vocês me dá forças, enche meu coração de amor e serenidade.

Que bom ser neta de vocês, gratidão! Eu honro vocês.

Aos meus pais... foram tantos anos achando que vocês não tinham sido bons o suficiente, que eu não tinha sido amada o tanto que eu gostaria.

Aprendi com vocês tantas crenças que vieram das faltas e dificuldades que nossos antepassados viveram e por muitos anos carreguei e algumas ainda carrego comigo. Mas, hoje entendo que posso ser um pouco “desobediente” como ensinou minha profe Olinda e posso mudar em minha vida.

Posso ser próspera e feliz.

Posso escolher ser feliz no meu casamento, posso amar vocês, respeitar vocês e fazer escolhas diferentes das que vocês fizeram, sou grata pela vida que vocês me deram.

Gratidão por me darem TUDO. Amo vocês.

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