Queridos antepassados pais, avós, bisavós, trisavós, tataravós e demais ancestrais, é com o coração cheio de emoção e doces lembranças permeando a minha mente, reverberando sentimentos, que vos escrevo.
Hoje eu vejo, hoje eu sinto, hoje eu reconheço a importância de cada um de vocês por terem tecido o meu caminho e eu ter tido a oportunidade de estar aqui neste plano cumprindo minha missão.
Meus queridos chequei até aqui passando por muitas dificuldades, minha vida sempre cheia de alto e baixos, ganhos e perdas, um sentimento de solidão e uma saudade imensa que brota na minha alma e sempre me perguntando o porquê dessa dor.
Agora eu sei após pesquisar e investigar sobre as histórias de família de onde vem todo esse sentimento de dor, de solidão, de saudades, de dificuldades e tanto sofrimento.
Amados tataravós paternos Karl e Henriete se hoje estou vivendo nesse imenso e lindo país e desfruto de uma vida confortável é graças à imensidão de um sonho e muita coragem em terem deixado sua pátria, familiares, amigos, tudo...para trás, partindo de Hamburgo Alemanha, atravessando o Oceano Atlântico num navio cargueiro com um destino incerto.
Porque quando aqui chegaram em 1853 e se depararam com a realidade que não foi nada como o prometido, quanto sofrimento e arrependimento brotou a partir de então.
Sem meios de retornar o jeito foi encarar a realidade e tocar a vida em frente. Conta-se que todos choraram, mas principalmente as mulheres choraram copiosamente.
Amados avós maternos vovô João e vovó Petronélia: o sofrimento e a dor de vocês então foi ainda maior, pois tiveram que deixar a pátria amada, vovô a Polônia, vovó a Ucrânia fugidos da guerra. Quantas lágrimas, quanta tristeza, quantas perdas de entes queridos, quanta dificuldade vocês enfrentaram. Impossível não chorar, hoje eu sei de onde vem esse sentimento de solidão, a angústia, a saudades...
Vovô João hoje recordo as histórias que contava no longo e difícil período que passaram no navio, ficávamos a sua volta ouvindo e vendo seus olhos marejados de lágrimas. Eu vejo você eu vejo a sua dor e hoje compreendo de onde vinha a dificuldade que tinha em lidar com os problemas da vida. Apesar de tudo, lembro o seu sorriso, sua risada gostosa, que minha mãe, alguns tios e meus irmãos herdaram de você.
Vovó Petronélia que não tive o privilégio de conhecer porque deixou essa vida pouco antes de eu completar três aninhos, conta-se que tinha ataques de nervos, lapsos de memória pois viu seus familiares morrerem na guerra. Eu vejo a sua dor vovó.
Vovô Edmundo, pai de meu pai, você é uma lenda sabia? Quem teve o privilégio de te conhecer não o esquece jamais. Conta-se muitas histórias boas e engraçadas a seu respeito. Como não lembrar quando vinha nos visitar e faltando uns cinco quilômetros da chegada ligava o apito do trem e a cidadezinha inteira sabia que o Diesel estava chegando. Os homens que podiam iam recebê-lo e a criançada também, pois trazia os bolsos do sobretudo cheinho de balas. À noite puxava seu acordeom e a festa era certa. Um infarto o levou precocemente, eu com dez anos sofri demais a sua perda.
Vovó Frida, saudades do seu olhar acolhedor e suas comidinhas gostosas.
Papai e mamãe lembro com muitas saudades da minha infância, havia risos, muitas brincadeiras, depois vieram muitos problemas como doenças, dificuldades financeiras e muito sofrimento. Apesar de tudo sou muito grata pela vida e educação que me deram e sei que tudo o que fizeram foi com amor e foi o bastante.
Queridos, a partir de agora olho para todos com amor e dou luz a tudo que foi, a todas as histórias do passado, a todas as lutas, as dificuldades, as tristezas, à dor, a raiva, as histórias de violência as partidas prematuras, aos destinos trágicos, as memórias de limitação e pobreza, e semeio a esperança, a fé, a alegria, a prosperidade, a saúde a superação e amor, muito amor.
Gratidão, gratidão imensa por tudo que recebi. Prometo fazer algo de muito bom com a vida que recebi. Amo muito vocês!
Araci Diesel da Silva