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CARTA AOS ANTEPASSADOS

CARTA AOS ANTEPASSADOS
Caroline Castro de Mello
out. 4 - 6 min de leitura
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A imagem de um fogo queimando um livro pode ser chocante para a maioria das pessoas, pode trazer lembranças ancestrais.

Em especial, essa imagem, me traz a lembrança de uma ancestralidade que em termos cronológicos se fez há muito tempo, mas que, como diz uma autora que estudo, Isabelle Stangers: "faz tempo, mas ainda sentimos o cheiro da fumaça da inquisição, da queima das bruxas". 

Posso dizer que quando penso em ancestralidade, esse cheiro se acentua mais ainda, posso senti-lo, não apenas nas minhas narinas, mas no corpo inteiro.

O único problema de saúde que tenho é um problema transgeracional, que afeta todas as mulheres do lado feminino do meu sistema: Hipotireoidismo por tireoidite de Hashimoto. Gargantas trancadas.

Em algumas dessas mulheres o sintoma se manifestou mais grave ainda, como câncer: de língua (manifestado também no meu pai), de tireóide...Ou seja: um sistema marcado por segredos, por sofrimentos provenientes daquilo que não pode ser dito.

Por isso, ao iniciar essa postagem, logo veio essa imagem em minha mente: a mulher e o desejo, no fogo da transformação.

Essa imagem faz parte de um rito sistêmico, no final do ano de 2020.  Durante o rito de encerramento do ano (momento em que gostamos de entregar para o fogo aquilo que queremos transmutar, escrevendo em papéis), meus filhos jogaram esse livro.

Fiquei apavorada logo que vi, mas respirei fundo e percebi que estavam no Campo (as crianças sempre estão). Então, fiquei observando o livro queimar e realizando minhas entregas e intensões de transmutação. 

Escrevo agora para meus antepassados, anunciando que hoje, de meu corpo saem não somente a voz que fala, mas a voz que canta, que está aprendendo a dar gargalhadas conectadas com o ventre: gargalhadas que libertam a alma. Talvez, as mesmas gargalhadas que algumas bruxas deram, ao ver o seu corpo sendo queimado na fogueira.

Sim, essa cena me chega: mesmo sendo queimada, não me calo, gargalho!

Foram muitos e muitos anos de conflitos, disputas e competições, entre mulheres e homens.

Olho para trás e vejo que os abusos sofridos pela minha mãe, pela minha avó (que casou obrigada, sob a ameaça de morte, pelo meu avô - um homem abusador em todos os níveis) e pelo que nem imagino que tenha sido com as que vieram antes delas, não podem ter surgido assim, como pura expressão de um masculino destrutivo.

Sei e sinto no meu corpo que nós, mulheres, fomos caladas e queimadas porque não soubemos usar do nosso poder. Fico hoje imaginando como seria ter um poder tão grande acordado (que nós mulheres temos: o poder de manifestar a materialização da criação na Terra), como já tivemos enquanto bruxas, e não ter uma consciência moral, espiritual e mesmo sistêmica que temos hoje.

Não tenho vergonha em dizer que mesmo tendo hoje todo o conhecimento espiritual e moral que tenho, por muitas vezes lutei contra minha mente que, de imediato e espontâneo, queria amaldiçoar homens que haviam me feito coisas muito desprezíveis.

Sim, as maldições vinham por inteiro, para eles e para todos os que deles descendiam ou viessem a descender. Mas, de imediato, precisava conversar com a bruxa que existe em mim e dizer:

- Você não precisa mais ser assim! Você pode escolher o caminho do amor, por você, pelo amor que você quer viver e pelos seus filhos (que, não por acaso, nasceram homens). Também não tenho vergonha em hoje admitir que somente me dei conta profundamente de que precisava curar meu feminino tão ferido quando senti a necessidade de alma de ser mãe (um processo que começou a cerca de cinco anos atrás).  

Por isso, nessa carta, quero dar espaço para a confissão e para as honras.

Honrar todas as histórias de abusos, de submissão de e do feminino, e de manifestação de um masculino tão ferido quanto o feminino. Pois, imagino que para esses homens terem se tornado os abusadores que se tornaram, com certeza não viveram em mares de rosas.

O mar de sofrimento e desespero pairava por todos os lados: homens e mulheres marcados pelo ódio, amores não vividos e traições. Homens que, hoje os vejo idosos (pai e avô) e vejo  neles a criança desamparada que foram e que vive ainda em seus olhos.

Vejo que toda a violência que moveram em seu período de vida sexual ativa, fez com que a vida chegasse até mim. Demorei muito tempo para conseguir sentir isso, mesmo tendo já lido e estudado e vivido dinâmicas de aceitação pelas constelações sistêmicas. 

Hoje sinto e aceito, que a vida chegou até mim por meio dos abusos. E, entendo que aceitar não significa concordar. 

Jamais concordei que nenhum homem me insultasse, mesmo que verbalmente. Fiz isso com tal intensidade que, por muitas vezes fui eu a abusadora do casal: escolhia homens que nem ao menos tinham força para tentar me contrariar e os controlava e muitas vezes até humilhava (ao me sentir superior à eles).

Com as constelações familiares percebi isso mais profundamente e decidi que queria equilibrar as minhas relações. Afirmei para mim mesma que meus relacionamentos afetivos dali para frente seriam pautados pelo respeito e que eu deveria olhar para meu parceiro e admirá-lo, pois só assim poderia pensar em ter filhos: se eu realmente admirasse o homem que trouxe a vida até eles. E assim fiz.

Dedico hoje a cura que vejo acontecer em minha família e em meu coração a todas as histórias de dor e sofrimento que os homens e mulheres de meu sistema familiar viveram. 

Dedico hoje a minha arte, a minha dança e meu trabalho à todas as mulheres que não puderam viver o amor, ver seus filhos serem frutos de amor, à todas as mulheres que vieram antes de mim e não puderam dançar, trabalhar e viver plenamente os desejos de sua alma.

Hoje dedico o meu trabalho e minha dança à fumaça das bruxas e digo com alegria: Hoje sei que a mudança precisa partir de mim e a magia que acredito é o milagre de se viver em amor!

 

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