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CARTA AOS ANTEPASSADOS

CARTA AOS ANTEPASSADOS
Cecília Maria Gomes Vieira
out. 10 - 7 min de leitura
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Queridos antepassados,


Sei tão pouco de vocês!
Sinto muito, peço perdão, mas essa é a realidade!
O meu conhecimento de vocês, queridos antepassados, ficou pelos meus pais, dois avós paternos e pela minha avó materna.

Até esta altura da minha vida, nunca senti muita falta de aprofundar sobre vocês. O que sabia bastava. Meus pais (José e Victoria) pouco falavam da infância deles de como viviam. Talvez porque quando falavam havia sempre muita dor, muita tristeza, muito sofrimento explícito, muito tabu e era sempre preferível não falar.

Se fosse hoje tudo seria diferente; eu iria querer saber mais, eu iria perguntar mais, eu iria querer entender mais, muito mais. Quereria saber como foi a vossa vida, o que fazia, como sobreviviam, sim, como sobreviviam, porque uma coisa eu sei: a vossa vida era muito difícil; foram tempos de guerra de fome, de filas para obter comida, siiim, isso eu sei!!

Também sei que vocês meus queridos avós, nasceram em Portugal e nunca se mudaram para outro país, já os restantes antepassados que vieram antes de vocês não tenho certeza das origens.

Querida Avó Virgínia, você era uma mulher muito forte, muito lutadora, com muita energia masculina; diziam até que era você que vestia as calças lá em casa!! O meu pai queixava-se dos maus tratos que a senhora lhe dava, da diferença que fazia entre os 4 filhos, que tinha preferidos. Isso não era nada bonito, avó. 

Lembro-me daquele pãozinho quentinho que você fazia e que depois de cozido era barrado com manteiga e açúcar, hhhuuummm que delícia. 
Sempre de lenço na cabeça, nunca permitia que lhe víssemos o cabelo, porque seria avó?

Para além da sua vida diária de trabalhos nos campos, lembro-me que a avó vendia salgadinhos (pevides, tremoços, fava rica) à porta dos locais onde havia bailarico (salgadinhos para fazer apetite para as bebidas, suponho) também vendia laranjas e outras frutas lá do quintal. 

E, por falar em quintal, como eu me lembro de brincar por lá com o meu amigo Fiel, o cão.

Avó, você assobiava melhor que um homem. Por onde quer que passasse todos a conheciam pelo assobio. Há conta disso, até lhe colocaram uma alcunha, mas eu não vou dizer qual é, fica só entre nós.

Querida Avó, parece-me que você não gostava muito da minha mãe e que por conta disso, a minha irmã mais velha, também com o meu nome, faleceu por falta de assistência na gravidez. Foi triste Avó, muito triste. Na sua óptica, era um luxo, era desnecessário gastar dinheiro em médicos.

Mas não era Avó e isso não correu bem e penso que a minha mãe nunca a perdoou.

O bem desse assunto é que eu já fui cuidada, durante a minha gestação a minha mãe já foi aos médicos. Eu sou muito grata pelos cuidados que me prestaram. 

Avô Romão, marido da avó Virgínia. Conheci-o, mas pouco me lembro de si. Quando você partiu para o mundo Superior, eu era muito pequenina.

Sei que era pacato, boa pessoa (a minha mãe gostava muito de si), muito calmo.

Tenho ideia de o ver a beber o seu vinhito por uma tigelinha e soprava sempre a tigela antes de beber. Coisas que ficam na memória. 

Agora a Avó Cecília (de quem herdei o nome).
Você avó, era muito pequenina, redondinha, muito patusca!! Lembro-me dos seus cabelos todos branquinhos!!

Avó, dos seus 15 filhos, só chegaram 11 a adultos; tempos difíceis não eram avó? Querida avó, desses filhos todos, a minha mãe foi a sua ultima filha, que nasceu gémea com uma irmã que não sobreviveu.

E foi também a que nasceu com menos peso. Ninguém acreditava que ela sobrevivesse. Gratidão por ter cuidado dela; gratidão pela vida que me permitiu ter!

Querido avô Brás, tudo o que sei de si (que é quase nada) é que faleceu relativamente cedo, depois de muitos anos acamado. Lamento avô, sinto muito pelo seu sofrimento. 

Meus queridos pais, de vós eu sei muito, mas muito mais eu gostaria de saber!
Não sei se fui eu que me isolei na minha concha, ou se foram vocês que me ocultaram muita coisa, mas hoje eu sinto que havia muito sofrimento e muitos segredos nas vossas vidas.

Sinto muito, sinto muito mesmo!

A vossa vida não foi fácil, nem em crianças, nem em adultos!

Como poderias ser feliz Mãe, se te roubaram a infância? Foste trabalhar para casa de uns "Senhores" com 10 anos!

A ti minha irmã (Cecília) eu te acolho em meu coração; por ti, eu fui cuidada e nasci feliz e saudável. Devo-te a vida também! Eu te Amo!

Queridos pais, hoje compreendo muito mais do que há uns anos atrás. Muita coisa me foi escondida, muita coisa ficou só entre vós e por isso eu não compreendi.

Por isso fiz julgamentos, e nem sempre fui justa.

Sinto muito por toda a falta de Amor, de carinho, de afeto e de colo que vocês tiveram. 

Compreendo agora, ao estudar a visão sistémica, o porquê de eu não ter tido colo, o porquê de me ser exigido tanta responsabilidade, o porquê de pouco me recordar da minha infância e ainda o porquê mãe, de termos trocado a Ordem (eu fiz de mãe e você de filha).

Mas está tudo certo.

Agora eu vejo vocês. Agora eu me curvo perante vocês, meus queridos pais e vos digo:

Sinto muito, por favor me perdoem, eu vos amo, sou grata.

Bem como a todos os restantes antepassados... eu vos Honro, eu vos Venero, eu curvo a minha cabeça perante vós e sou grata pela vida que levaram adiante que permitiu que os meus pais me dessem a vida a mim também. Quero dizer-vos que vos acolho no meu coração e se algum ou alguém se encontra excluído, eu o acolho também no meu coração. 

Peço a vossa Bênção para que me ajudem a fazer o meu caminho, sendo que esse caminho será diferente do vosso, pois os tempos são outros e eu estou pronta para limpar e ressignificar em mim todas as memórias e crenças limitantes que vêm circulando no nosso sistema familiar, dando lugar a uma vida mais abundante, próspera e feliz.

Fico com tudo de bom, que veio de vocês para essa nova vida e deixo convosco o que não me faz sentido. 

Com muito Amor e Carinho, eu me despeço; até um dia!

Cecília Vieira 


 

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