Queridos antepassados.
Certamente podem sentir o fluxo da vida que chegou até nós, até aqui.
Quantas coisas conquistamos e certamente a melhor é estarmos juntos.
Trago comigo o medo de enfrentar a travessia do oceano sem saber o que nos aguardava aqui do outro lado.
A fé e esperança pela vida e a coragem foram os grandes motores, e cá estamos. Conseguimos. E somos muitos.
Que honra e quanto amor.
Quanta gratidão a vocês.
Posso imaginar as perdas que tivemos para que tivessem que se decidir por deixar nossa pátria mãe e também as que houveram a caminho e já aqui no Brasil.
Eu também não consegui trazer todos os meus filhos à luz, mas estamos aqui e graças a Deus e à coragem que ainda nos é natural, a vida segue fluindo com força em muitos descendentes.
Quantos órfãos de pais vivos ou mortos e quantas incertezas no que encontrariam aqui.
Esta orfandade ainda é muito presente em muitos de nós.
Nesse meu medo do mar, sinto como ter que me lançar no desconhecido para, quem sabe, poder continuar a viver.
Isso se refletiu, também de forma positiva, na minha vida.
Acredito que seja porque vejo qualquer outro desafio tão menor do que ter que atravessar o oceano para poder continuar vivendo.
O desconhecido me instiga a aprender e a me aprimorar.
Por vezes, a me superar.
Talvez o medo de não conseguir ser mãe de filhos nascidos tenha realmente me amedrontado, me deixado paralisada por um tempo.
Mas mesmo nisso cresci.
Tive que aprender a cuidar de mim, a me amar mais, a ser suficiente para a minha vida e viver.
Tive que acolher ainda mais a minha criança interior e começar a deixar a minha orfandade.
Então, quando eu estava me sentindo feliz, e logo depois do nosso primeiro encontro da família Zancheta Borsoi, meu filho, João Vítor, chegou para me mostrar que a vida pode sim ser muito mais.
Que esse fluxo é uma força poderosa demais e que todo o esforço e o preço pago por tantos era para a continuidade da vida.
Vida que continua a fluir, graças a Deus, através de mim e agora também do meu filho nascido e de tantos outros de nós.
Certamente temos muitas dores e emaranhamentos para serem curados.
Ainda perdemos alguns bebês, ainda temos algumas doenças e mortes à serviço. E tantas outras coisas à serviço, mas a vida segue bravamente, queridos antepassados.
Tudo valeu a pena.
Olho com imenso amor para esta pátria que nos acolheu com tanto amor e fartura.
Ela também precisava de mais filhos para, só então, poder ser uma mãe plena e completa.
Também vejo e sinto o amor e a saudade das pátrias que tivemos que deixar para podermos ser mais.
É realmente uma energia muito forte de atração que elas exercem, pedindo por nossa visita.
Aquela visita que a mãe espera receber só para dar um cheirinho e ver que os filhos seguem na vida bem e felizes.
Aquela visita só para dar um colinho e passar um pouco mais de força.
Aquele encontro para dizer sim, eu permito.
Para dizer que sigam confiantes e em paz porque eu continuo presente em vocês e em vocês eu também continuo vivendo.
Como é bom pertencer.
Como é bom ser parte de tanto!
#Conclusão #mod01