Queridos Antepassados, sei que ainda tenho dificuldades de olhar para vocês. Me perdoem por minha falta de humildade, pelos meus medos, porém, hoje meu coração se fortalece se abre para este amor que eu não tinha percebido.
Queridos, eu os vejo agora e reconheço o quanto faço parte desse sistema, que cada um de vocês contribui para o que eu sou hoje.
Reconheço queridos a jornada belíssima de amor, de sofrimento e de exclusão que vocês meus pais, avós, bisavós, tataravós, tios e primos viveram.
Queridos papais, mãe Elsa e pai Vangenir, gratidão por me oferecer a vida, sei o quanto foi difícil, pois eram adolescentes quando minha mãe engravidou, soube há pouco tempo mamãe que iam lhe enviar para outro estado, numa casa onde faziam aborto nas meninas e aquelas que tinham o filho colocavam para adoção, para que a família não " passasse vergonha" , muito triste. Mas, vocês foram maiores que as pressões familiares e da sociedade, permitiram que eu viesse ao mundo. Gratidão!
Queridos avós paternos, vovô João, soube que o senhor ficou órfão muito cedo, foi doado para a família de uma madrinha, aos 14 anos fugiu do Uruguai para o Rio Grande do Sul -Brasil, contam-me que era um homem enérgico, trabalhador e correto, construiu uma família, você é um vencedor. E a senhora vovó Aurora, lembro dos pratos que cozinhava, com bastante pimenta (risos), ainda não sei muito sobre sua história, o que eu sei que cuidou da família com 6 filhos e dois netos órfãos de pai e mãe.
Queridos avós maternos Julius e Berta, imigrantes da Alemanha, no período da primeira guerra mundial. Vovô, gostava quando o senhor abria o mapa e mostrava os percursos em que percorreram até chegar ao Brasil, contava como era difícil conseguir alimentos e o frio rigoroso, muitos ficaram no caminho, assim como Catarina, a primeira filha que morreu ainda criança. Tiveram mais quatro filhos, Julius que nasceu na China, Marta, Rodolfo e Elsa (minha mãe) nasceram no Brasil, soube que houveram dois abortos, não se falava nesse assunto, hoje eu os vejo meus queridos tios e tias.
Minha querida vovó sei o quanto era importante para senhora rever os seus parentes na Alemanha, há 3 anos com sua ajuda espiritual consegui encontrá-los através do endereço de uma carta muito antiga. Sua sobrinha Iraida e seu esposo vieram conhecer à família no Brasil, e deram-me de presente um álbum da família, guardo com muito amor, sei o quanto a senhora está presente nesse sistema que é meu também.
Querido avô, meus sentimentos pelo senhor se confundem entre amor e dores. Carreguei por muito tempo o segredo entre nós por medo. Não conseguia entender o seu amor, cuidava e brincava comigo com tanto zelo e quando ainda tinha 9 anos sofri abuso sexual pelo senhor. Talvez seja esse o motivo, o segredo de família, que resisti em fazer a carta aos Antepassados.
Somente hoje, depois de uma aula bônus, através da meditação guiada pela Mestre Olinda Guedes, consegui entregar um flor branca cada um de vocês, meus antepassados. Ao senhor vovô Julius, resisti um pouco, mas cheguei na sua frente entreguei a flor e lhe disse: "Eu compreendo " , não sei direito o que significa essa expressão dentro do contexto, mas me sinto em poder cura, de libertação.
Queridos antepassados, hoje me sinto feliz por ter conseguido escrever essa carta à vocês. Sou profundamente agradecida a cada um, levo comigo a força e o amor que nos une, o sofrimento não é mais necessário. Gratidão a Deus e a vocês pela oportunidade da vida, sintam-se abraçados com todo amor que já posso dar.