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CARTA AOS MEUS ANTEPASSADOS

CARTA AOS MEUS ANTEPASSADOS
Claudete Hoffmann Lamour
jul. 25 - 16 min de leitura
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Claudete Marilei Hoffmann Lamour.

Turma 6 – julho de 2021.

 

                                            Brasão Família Hoffmann & Scholz 

 

Meus queridos antepassados, por muitos anos ao tentar buscá-los, não conseguia enxergá-los. Meu olhar procurava por vocês, mas só encontrava uma nuvem branca e sentia um vazio no peito a me sufocar...

Agora, aos 53 anos de idade e um ano e meio de pesquisa que ainda não se findou, minha alma se alegra imensamente e a ausência antes sentida, deu lugar a gratidão.

Agora, ao olhar para a minha ancestralidade, vejo nomes e rostos. Vejo o senhor querido tetravô Jakob, que muito cedo viveu a dor de perder seus entes queridos. Aos dois anos de idade ficou órfão de pai.

Estava começando a descobrir o mundo e ainda precisava tanto dele!!

Cresceu, casou, teve cinco filhos, dos quais três faleceram bem pequeninos e após nove anos de casamento, sua esposa Bárbara também partiu.

Mesmo diante de tanta dor, ainda jovem com 39 anos de idade, o senhor decidiu reconstruir a vida e escolheu minha querida tetravó Anna, para ser sua nova esposa.

Que decisão difícil vocês tiveram que tomar! Casados há poucos anos, tendo um filhinho de vocês já sepultado em Dimergen (hoje o estado de Saarland, Alemanha) se encheram de coragem ao deixar a terra de seus familiares em 1857 e navegar rumo ao desconhecido. Que travessia tiveram!! O pequeno Miguel não conseguiu esperar para nascer no Brasil e a senhora querida Anna, sempre corajosa, teve um parto a bordo do navio.

Vocês foram fortes e sobreviveram, mas após três anos instalados em Joaneta, hoje um bairro de Picada do Café/RS, seu pequeno Miguel, se tornou um anjinho. Quanta dor vocês viveram nesses dias e como diziam àquela época, aprouve a Deus, que dois dias após esse sepultamento, levasse também o pequeno Pedro, de apenas um aninho.

Meus queridos, minha alma não consegue alcançar o tamanho da dor de vocês... O vazio que sentiram ao ver dois lugares da casa vazios, a tristeza ao não ouvir mais a vozinha infantil de Miguel ou o chorinho de Pedro solicitando algum cuidado e a lembrança dos outros pequenos enterrados em terras tão distantes.

Quanta dor vocês sentiram! Hoje finalmente posso dizer que eu vejo vocês e os olho com muito, muito amor. Sintam o meu carinhoso abraço. Quanta admiração tenho por vocês, que no meio de tantas adversidades da vida, encontram forças de seguir adiante e cuidar dos demais filhos, incluindo Friedrich, meu trisavô, a quem me dirijo agora.

Querido Friedrich, hoje conhecendo sua história também vejo a sua dor e sua coragem. Quanta coisa vivenciou!! Com quatro anos, acompanhando seus pais, partiu para um país desconhecido, sentiu as dúvidas e incertezas vividas por eles, tanto antes, como depois de deixarem sua Pátria.

Também vivenciou as dificuldades enfrentadas pelos seus pais ao se instalarem numa região de mata com poucos recursos em todos os sentidos, inclusive precariedade para aprender a escrever as primeiras letrinhas. Sinto em meu coração que o senhor também sentiu muito frio, quer da temperatura, quer da tristeza percebida naqueles que você amava e esperava que tivessem bem para te conduzir na estrada da vida.

Eu sinto muito querido trisavô, por seu lar ter se enchido de tristeza ao perder dois irmãozinhos quase juntos. Que vazio ficou!  A alegria também partiu naqueles dias tão cinzentos.

Enfim, meu querido trisavô, seus desafios foram muitos e mesmo diante de tantas dificuldades, o senhor deu conta de seguir com a vida.

Até que chegou o dia de escolher sua esposa e formar a sua nova família, e assim agora como sua esposa, outra Anna entrou na sua vida, filha de imigrantes alemães, os Weber. O casamento de vocês foi no ano de 1877, no mesmo lugar que se criaram, em Joaneta e lá nasceram os seus nove filhos entre eles, Frederico, meu bisavô.

Querido trisavô Friedrich a sina do seu pai Jakob, também se repetiu na sua vida.

O senhor também ficou viúvo após o nascimento da sua filha Paulina, quando a querida trisavó Anna não resistiu as complicações pós parto. Ela foi pra junto de Deus, mas não deixou de olhar pelo senhor e vossos filhos.

Poucos anos depois querido trisavô, depois de ter se casado novamente, o senhor passou por mais um desgosto em sua vida. Como não bastasse tantos lutos vividos, teve que passar por isso novamente ao perder sua esposa Magdalena, que assim como minha trisavó Anna, teve complicações pós parto ao dar à luz a pequena Carolina, que a exemplo dos irmãos, teve que crescer sem o aconchego da mamãe.

Magdalena faleceu no dia e mês em que eu nasci, mas 71 anos antes. Agora eu vejo o senhor e a sua dor, meu querido trisavô. O senhor, mergulhou numa tristeza profunda e não teve forças para continuar. Sete anos depois de ficar viúvo pela segunda vez, pouco antes de completar 51 anos de idade, foi ao encontro de seus familiares que já haviam partido!

Meu querido bisavô Frederico, agora conheço um tanto de sua trajetória nesse mundo terreno. Ao olhar para o senhor, posso ver a sua dor ao perder sua mãezinha aos nove anos de idade e assim como seus tantos irmãos, não receber mais dela o carinho em forma de olhares, abraços e refeições como só ela sabia preparar.

Acredito que seu fardo foi bastante pesado ao ter aos seus cuidados tantos irmãos, quando aos vinte anos de idade, ficou órfão também de pai. Quanta responsabilidade para um jovem!

Mas eu sei querido bisavô, que a fé em Deus foi o que o alicerçou nessa dura caminhada. A sua união com minha bisavó Elisabetha, acredito que o fortaleceu ainda mais na fé. Seus filhos sacerdotes, um bispo e um padre, exerceram um lindo servir ao próximo e isso alegrou seus corações.

Eu sinto muito, que assim como seu pai e seu avô, o senhor e a bisa, também viveram a dor de sepultar filhos pequenos. 

Agradeço imensamente pela vida de cada um de seus filhos, incluindo a vida meu avô Jacob. Me contaram o quanto vocês rezarem por ele e meu coração se encheu de alegria ao descobrir, que depois de uma vida também de sofrimentos, meu vovô pode se reconciliar com Deus e partir em paz desse mundo.

Obrigada por dobrarem seus joelhos e pediram ao Senhor abençoasse cada um de seus filhos.

Querido vovô Jacob, hoje acredito que talvez o senhor não se sentiu amado o suficiente, que sentiu amargura e dor. Diante de nossos ancestrais que viveram muita aflição ao sepultarem seus pequeninos ou perante tantas crianças órfãs de mãe em tenra idade, acredito que a sua dor pode ter sido a dor deles, a tristeza, a vontade de ter um colo de mãe um tantinho mais.

O senhor viveu essa mesma dor, ao sepultar duas princesas: a pequena Edy falecida aos três aninhos e a querida Aracy, falecida aos 28 anos de idade, em decorrência de uma hemorragia pós-parto.

Querido vovô, sinto muito por ter sido preso na época da segunda guerra mundial.

Sinto muito por ter se sentido rejeitado por aqueles a quem amava, por ter sido excluído por conta da bebida. Sinto muito, muito, muito.... Hoje consigo olhar para o senhor e para sua dor. Eu o incluo com carinho e amorosidade em meu coração. Eu Vejo o senhor!!  O senhor faz parte!

Que bom que escolheu a vovó Irma para ser sua esposa. Que mulher de virtudes!! Quanta força ela teve! Esteve sempre presente diante de tantas dificuldades e foi firme ao juramento que fez no altar, ao dizer que pra sempre ficaria com ao seu lado.

Ela fez o seu melhor, rezou, trabalhou, manteve os filhos sob suas asas, muitas vezes sendo pai e mãe, quando o senhor se ausentava por conta da bebida.

Permaneceu firme e forte ao seu lado querido vovô e como sou grata a ela por isso!!! Fazia as sopas de batata e também as de leite que meu pai tanto gosta, mantinha o jardim florido com copos de leite e margaridas, cuidava do pomar, da roça, preparava bife com pão todas as manhãs para o seu café, vendia galinha, ovos e leite na cidade para ajudar no sustento da família, dobrava os joelhos incansavelmente pedindo que Deus cuidasse de cada um e em especial do senhor.

Querida vovó Irma, te amo e te admiro para sempre! Me alegro do meu pai ter tido a senhora como mãe. Mesmo não tendo lhe conhecido, sinto toda a bondade do seu coração e hoje lhe entrego todo o meu amor. Ainda quero cultivar um jardim de margaridas ou copos de leite em sua homenagem, minha querida guerreira.

Meu avô Jacob, também admiro a sua inteligência, o hábito da leitura e por estar sempre atualizado em relação ao que acontecia no mundo. Do senhor herdamos o gosto pelo estudo e leitura. Quem diria, hoje o senhor tem muitos netos estudados, inclusive com pós doutorado. Sei que isso enche seu coração de alegria.

Sou muito grata pela vida de meus tios e meu pai. Vocês partiram muito cedo! Não tive tempo de conhecê-los. Quanta falta senti do colinho de cada um de vocês, da sua comidinha vovó, das suas histórias vovô. Sentia um vazio muito grande, mas agora que conheço melhor a história de vocês meu coração está mais preenchido.

A vocês vovô Jacob e vovó Irma minha eterna gratidão!!!

Queridos bisavós Josef Scholz e Anna Dressler avós da minha mãezinha. Ainda pesquiso a história de vocês, mas o que sei já me enche de alegria e gratidão. Querido biso Josef, lhe admiro a coragem ao decidir deixar seus pais e irmãos na Bohemia, na época império Austro-Húngaro, embarcar sozinho no navio que te levaria para outro continente, em busca de uma vida melhor.

Me alegro que tenha encontrado minha bisa Anna que veio com a família, ainda adolescente, assim como o senhor, da mesma região da Bohemia. Um dia se encontraram, formaram uma grande família e venceram muitas dificuldades.

Querida bisa, quanta alegria senti ao descobrir por meio de seu obituário, que a senhora exerceu por muitos anos a linda profissão de parteira. Me alegro em saber que por suas mãos muitas crianças vieram ao mundo. Mais feliz fiquei ao descobrir que eu fui salva por uma parteira.

Minha mãe me contou que ao nascer, meu cordão umbilical estava enrolado no meu pescoço e num parto de cinco horas, as mãos habilidosas de uma parteira salvaram minha vida. Logo senti uma grande conexão com a senhora. Sinto muito pela dor que vocês tiveram em perder dois filhos crescidos de tuberculose e pneumonia.

Gratidão a vocês, pela vida de meu vovô José.

Meus queridos avós José e Josephina, como eu vos amo!!!

Vovô José, mesmo não tendo lhe conhecido tenho um carinho enorme pelo senhor. Todas as histórias que ouvi a seu respeito são lindas: um pai amoroso, dedicado, cristão, alegre, músico, ferreiro, moleiro. Gostaria tanto de ter tido o seu colo e o seu abraço!!

Gratidão vovô por ter sido o “chefe” (como falavam na época) de uma família tão amorosa. Obrigado por ter escolhido uma mulher incrível para ser sua esposa.

Vovó Josephina, sei que consegue mensurar o tamanho do meu amor pela senhora! Os catorze anos que Deus permitiu que convivêssemos, foram muitos felizes, porque no meio de tantas dificuldades que vivi, a senhora era o amparo, o aconchego, a fé, a esperança.

Quanta lembrança tenho da senhora!! Das tardes nos pés de ameixa, butiá e vergamota no quintal da sua casa.

As sobremesas de abacate, o famoso sagu com creme de leite (tradição da família), os picolés de leite feitos nas forminhas de gelo, a pipoca com melado, o famoso molho de tomate com cebola que preparava como ninguém, o mate de leite com açúcar, as uvas nas parreiras, os lírios que enfeitavam a casa, as brincadeiras no paiol, as mandiocas arrancadas na roça para cozinhar no almoço, os quadros e histórias de Jesus, as orações ao lado da cama, as noites que dormia na sua casa na caminha de campanha, as brincadeiras de esconde-esconde....

quanta lembrança, quanta alegria, quanto amor em uma única pessoa. A vocês meus amores, minha eterna gratidão.

Vocês me deram a mãe mais maravilhosa do mundo. De vocês, herdamos o gosto por estar com a família, por música, dança...herdamos a alegria.

E por último, mas não menos importante agradeço a vocês meus trisavós Tonelli. Marco, o senhor foi corajoso e destemido, quando aos dezanove anos de idade, saiu da região de Toscana e embarcou para o Brasil, sem saber ao certo o que iria encontrar.

Deixou os pais e irmãos, veio com pouca bagagem e muita coragem. Escolheu a linda Luísa, para estar com você por quase toda a vida. Querida Luísa, a senhora foi mãe muito novinha, teve 14 filhos e cuidou de todos com carinho. Sinto tanto pela dor da perda de seu filho Henrique falecido ainda bebê e seus filhos Pedro Henrique e Anna Guilhermina que faleceram no intervalo de um ano.

Agradeço imensamente a vida que passaram adiante!!!

Querido biso Pedro, o senhor partiu muito cedo!!! Fiquei impactada ao descobrir sua história. Agradeço imensamente por ter escolhido minha bisa Antonia como sua esposa. Embora tenham ficado casados por apenas sete anos, vocês constituíram uma linda família e deram a vida a minha vovó Josephina, ao tio Guilherme e a tia Rosa. O senhor sabe o tamanho do meu amor pela vovó e esse amor estendo ao senhor e a bisa.

A vocês a minha gratidão!!!

 Meus queridos ancestrais, hoje sei que além de Hoffmann e Scholz, sou também Fries, Stoffel, Seibel, Birck, Weber, Müller, Scheid, Rhoden, Degen, Beckers, Schaefer, Ternus, Thiessen, Bettenfel, Kraut, Dressler, Kohn, Tonelli, Fillipi, Pinotti e tantos outros sobrenomes, se voltar mais algumas gerações.

Queridos ancestrais, vocês vieram de lugares distantes e aqui no Brasil, imigrantes se casaram com filhos de imigrantes ou filhos de imigrantes entre si. Vocês todos foram vencedores diante de tantos desafios enfrentados, passaram a vida adiante, nos deixaram tantos ensinamentos, entre eles, que Deus é o Senhor de todas as coisas e nossa fortaleza.

Hoje eu vejo vocês queridos e amados antepassados e o vazio sentido no início, quando pouco sabia sobre vocês, agora é preenchido por amor. Gratidão a todos vocês que vieram antes e fizeram a vida chegar a mim.

Por honra e gratidão, também passo a vida a diante.

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