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CARTA AOS MEUS ANTEPASSADOS

CARTA AOS MEUS ANTEPASSADOS
Heloísa Bartol Mazzotti Ilário
jul. 26 - 6 min de leitura
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VOVÔ CHICO:

 Bem, sei muito pouco sobre você, mas sei e sinto que gostou muito de mim. Sei que, muitas vezes, foi a São Paulo visitar sua filha e seus netos (acho q eu nem era nascida). Sei bem pouco de como tratou minha avó, e algo me diz que não era fácil o casamento de vocês.

Você faleceu cedo e quase nunca ouvi da minha avó, histórias suas. Só as que contam que você gostava de mudar as coisas de lugar e de casa. Fumava muito, bebia café frio e era muito seguro (hoje entendo como inseguro) em relação ao dinheiro.

Pão duro, como se chama.

Quis o melhor de criação para suas filhas e as manteve em colégio interno (o que deve ter doído a todos). Tinha uma linda caligrafia, e pouco deixou de bens às filhas por machismo e conhecimento da época. Não sei o tamanho dessas verdades duras, mas é o que me contam. Sei que morreu de infarto, com 50 ou 60 poucos anos, numa noite de Natal, longe de nós.

Eu tinha 4 aninhos.

VOVÓ ISAURA:

 De todo o amor que eu tenho, metade foi tu que me deu. Vovó, fomos tão diferentes em vida e, ao mesmo tempo, tão unidas. Minha mãe sempre se chateou por sua simplicidade. Coisas banais, mas representativas.

Para você, a mesa não precisava ser posta lindamente, se tivesse comida para todos. Um copo de Coca, um bife mais delicioso da vida (você punha um bocadinho de açúcar no final para fazer um caldinho que sempre terei o sabor nas minhas lembranças), arroz, feijão e batata frita já era um banquete dos Deuses de você nos oferecer.

Sua casa era a simplicidade, mas o seu aconchego era o maior do mundo. E isso irritava aos outros do porque eu te amava tanto. Difícil descrever, mas sinto que fui chamada a estar perto de você no seu último ano de vida. Você pouco falava do seu marido para nós, e ainda assim, parecia que ele era vivo.

Você não mudou nada na sua casa de como ele deixou. Até o cinzeiro dourado de girar se manteve na sala por anos e anos. Os sofás, as poltronas, os quadros, todos eram do tempo dele. E você nunca se desfez de nada.

Nem de sua aliança. Imagino, que nem do seu amor.

Comia como um passarinho, pouquinho por vez, e várias vezes ao dia. Vida cotidiana sempre em ordem. Acordava cedo, arrumava a casa, nunca precisou de ajuda para roupa nem faxina. Não gostava de outras mulheres no seu lar. Ia ao banco, ao mercado, tudo a pé e independente.

Vivia a assistir as novelas.

Procuro saber o que é que eu faço para honrar a você: não tenho sua organização, sou vaidosa, adoro estar em riqueza. Acho que a independência de não gostar de ajuda nos assemelha. Te amo para todo o sempre e me orgulho de saber que carrego você comigo.

VOVÔ WALTER:

O que falar do meu avô que menos conheci, mas que mais ouvi histórias? São histórias de amor e ódio. Tão ruim ficar nessa dicotomia. Para os outros, ele foi o maioral: espírita, maçom, farmacêutico de cura natural, inteligente, bondoso, generoso, trabalhador.

Para os filhos, um misto de rebeldia e ciúmes de ter sido ausente e falido. Uma época, gerou riqueza. Em seguida, pobreza. Tinha status e não o sustentou. Nunca deixou a minha avó fazer serviço pesado de casa, porque tinha a Tata para fazer (uma semi- escrava, uma mulher negra de dedicou a sua vida a cuidar dos Mazzotti por mais de 60 anos).

Quando meu pai e meus tios mais precisaram de dinheiro, esse faltou. E parece que aí o amor faltou. Uns contam do seu excelente bom humor. Outros falam de vícios no carteado. Uns dizem que a farmácia era reduto de cura dos pobres, que não precisavam pagar.

Outros dizem que ele curou uma geração inteira. E lá fico eu sem saber quem ele foi. E algo me traz no corpo o tanto que eu sou ele. No dom da cura, na espiritualidade, na crença de que o corpo fica doente bem depois da cabeça e do coração.

E por isso, muitas e muitas vezes, me sinto rejeitada e julgada pela família como uma louca, que irei morrer de fome, que não desejo ser melhor, que gosto do sofrimento.

Gostaria de entender o que eu posso curar por você e mostrar ao mundo que sua sabedoria era ímpar e eu vou continua-la para o bem da humanidade.

VOVÓ BENEDICTA:

Sabe aquela avó que cozinha muito bem, costurava muito bem, era cheia de etiquetas e luxos, e ainda assim, sempre te deixava desconfortável de estar com ela? Ela era o oposto da minha avó Isaura. E tomou minha mãe por sua nora queridinha.

Ensinou a cozinhar, a por a mesa, e distanciou minha mãe da dela.

Sempre a julguei como uma pessoa folgada. Ia em nossa casa e não realizava nenhuma tarefa. Acordava super tarde, não realizava nenhuma atividade física. E hoje, quando não consigo acordar cedo, me revolto de pensar que estou parecida com ela.

E quanto mais eu me revolto, parece que mais parecida eu fico. Diferente da vó Isaura, ela contava mil e uma histórias do meu avô.

Histórias sempre com um toque de “como eu gostaria que fosse”.

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