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CARTA PARA MINHA MÃE NO DIA DAS MÃES

CARTA PARA MINHA MÃE NO DIA DAS MÃES
Paula Azevedo
mai. 9 - 7 min de leitura
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Querida mamãe, hoje não vou lhe dizer muitas palavras, nem palavras bonitas, lhe direi apenas palavras necessárias, palavras de cura para mim, para você, para as mulheres e para os homens de nosso sistema familiar.

Hoje, eu consigo olhar para além da nossa relação, olho para o além do aparente...

Por muito tempo desejei que você fosse feliz, era se como a minha vida dependesse da sua felicidade. Para quem olha de fora, até parece um bom sentimento e uma boa motivação, mas manter este sentimento me enfraquecia, me deixava infantilizada. Entretanto, a vida que é maior que eu e você, exige que eu cresça.

Me dei conta de que muitas das nossas exigências estão disfarçadas de bons desejos, e que na verdade querer que você fosse feliz era uma exigência infantil.  Em vez de eu mesma ir para a vida e ser feliz, eu cobrava isso de você...

Minhas cobranças me colocam em um lugar que não é meu, mas a minha voluntariedade também. Sou aquela filha que parece mais amiga do que filha, e eu preciso voltar para o meu lugar. Isso não quer dizer que nosso relacionamento não deva ser amigável, mas te digo que eu não sou sua amiga, sou sua filha!

Já te digo de antemão que ter e manter essa postura não é e não será fácil, pois, é muito difícil perder a importância... Descer do salto, do pódio, exige muita humildade...

Faço isso olhando com muito respeito para o seu destino e para o meu também... Olhe por favor com carinho para meu marido e meu filho...

No que diz respeito ao meu destino, meu marido precisa de uma mulher inteira ao seu lado e meu filho precisa de uma mãe inteira também, eu só poderei ocupar estes papéis de modo funcional, se ocupar o meu lugar de FILHA em nosso relacionamento.

Tenho aprendido que em nosso sistema há muitas memórias de orfandade. Geralmente consideramos órfãos aqueles que muito cedo perdem mãe e pai e são criadas por tios, avós ou por instituições chamadas orfanatos. Mas pude ampliar este olhar, estudando com a Olinda Guedes quando ela fala dos órfãos de pais vivos, que são aquelas crianças que vivem com os pais, até mesmo moram com eles, mas cujos pais estão tão emaranhados em suas questões familiares, pessoais, ou até mesmo envolvidos com a própria sobrevivência que não ficam disponíveis para os filhos.

Nosso sistema é atravessado pela orfandade, é só olhar para o nosso povo: Quantos filhos foram separados de suas mães ainda pequenos?  Quantos de nós pereceram pequenininhos e desnutridos porque foram arrancados dos seios das suas mães, pois estas tiveram que amamentar outras crianças? Quantos de nós pereceram porque o vínculo da mãe com o trabalho era maior do que com a própria vida?

 Você  não teve uma mãe disponível, essa é uma das suas maiores dores, talvez a sua maior... Eu sei, eu senti essa dor quando ainda estava em seu ventre, e foi lá que eu decidi que seria uma mãe para você. Eu decidi que daria a você TUDO que a minha avó não te deu...

Os filhos amam seus pais incondicionalmente e fazem tudo por eles, eu, como filha não fujo à regra. Eu faria qualquer coisa para te ver feliz, eu seria uma mãe para você, mesmo sendo pequena, mesmo sendo sua filha.

E como eu cheguei depois, e sou pequena diante de você, esta tarefa ficou muito pesada para mim. Sabe a minha dor nos ombros que tantas vezes me incapacitou para o trabalho?

Ela é fruto do peso desta tarefa que eu carregava... Eu só queria a sua aprovação e o seu reconhecimento, mesmo que isso me custasse a vida, a felicidade, meu casamento, meu relacionamento com meu filho, minha saúde...

Até que eu vi, até que eu soube que meu sacrifício foi e é em vão. Agora eu sei que você continua esperando, desejando, querendo, necessitando da única pessoa que pode te dar tudo o que eu queria dar: Sua mãe, a minha avó. O lugar dela eu jamais conseguirei ocupar.

As lembranças da minha infância que envolvem nós duas são muito dolorosas, pois você também não esteve disponível para mim porque olhava incessantemente para a sua mãe...

Mas hoje eu não te exijo mais nada, você não sabia o que estava fazendo, fez o que podia, com os recursos que tinha. Agora, eu cuido de mim mesma, e fico em paz por isso...

Eu olho para você e tenho as minhas vontades, e desejos, mas aceito o seu destino, mesmo que este me parta o coração... Você é a grande, mãe, e sabe muito bem como conduzir a sua própria vida, não precisa de palpites e conselhos da sua FILHA.

É com muito amor e respeito, que me retiro deste lugar de suposta importância e grandeza, assumo meu lugar de pequena diante de você e volto o meu olhar para frente, para o futuro junto com meu esposo e meu filho.

Te agradeço pelo privilégio de viver que me deu quando me disse sim, lá em 1976, antes mesmo de eu ter nascido.

Te agradeço por suportar toda angústia, e as incertezas por assumir uma gravidez sem saber como seria o futuro, e não ter desistido de mim naquela época.

Te agradeço por todo o tempo dispensado,

Te agradeço por cada dinheiro investido em minha sobrevivência e  Educação,

Te agradeço por cada palavra de incentivo, por cada preocupação...

Te agradeço pelo amor que mesmo de longe me alcança.

Para te homenagear, serei feliz, serei próspera, escreverei livros, impactarei a vida de muitas pessoas, criarei meu filho para fazer diferença neste mundo, respeitarei o meu marido, serei uma boa líder, cuidarei do meu corpo e da minha saúde, dançarei, viajarei para lugares incríveis, comprarei uma casa digna, e quando você assistir a concretização destas imagens, saiba que tudo isso aconteceu é porque trago você e meu pai em meu coração, ambos portais divinos para que a vida chegasse até a mim.

É com muito amor que termino esta carta para você.

Um grande beijo

Sua sempre FILHA Paula.

 

Crédito imagem: Marcella Tamayo

 

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