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CARTA PARA OS MEUS ANTEPASSADOS

CARTA PARA OS MEUS  ANTEPASSADOS
Sharon de Geus Romeiro Alves
abr. 5 - 7 min de leitura
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Meus queridos antepassados, 

Estou aqui sentada escrevendo uma carta a vocês, para tentar alcançar através de palavras todo o amor e caminho percorrido por minha ancestralidade e que vive hoje através de mim.

Na parte dos ancestrais maternos eu não tive o prazer de conhecer o meu avó, mas sempre soube pela minha mãe que ele era uma pessoa muito especial. Na minha infância ela sempre dizia que ele era meu anjo da guarda e eu sentia ele ao meu lado quando criança.

Minha avó que sempre chamei de Oma, era o amor em pessoa. Teve uma infância sofrida, contava que foram fazer uma visita com a mãe para parentes na Alemanha, que ficaram presos por lá na época da 2ª guerra mundial e que por lá passaram muita fome e muito frio. Quando se casaram ela tinha 17 anos e ambos construíram uma vida no interior do Paraná, criando gado leiteiro.

Guardo com muito carinho uma bíblia da minha Oma de 1891 em alemão gótico e outras lembrancinhas de suas viagens que fez durante a sua viuvez. Quando ela nos visitava em casa, ficava quase um mês e trazia guloseimas que só comíamos nessa época. rsrs.

As festas de Natal com a família toda reunida eram muito especiais e ela sempre dava para os seus netos dinheiro, porque dizia que saberíamos o que fazer com ele e adorávamos a sua modernidade.

Ela ficou viúva muito nova. Meu avó morreu com câncer e anos depois perdeu uma filha para o câncer também. Ela cuidou desta minha tia até o final dos seus dias, mesmo já tendo mais de 40 anos e filhos crescidos. Depois disso ela foi se entregando muito rápido a tristeza e cansou da vida. Mas, aos poucos, com as bisnetas dessa filha, a alegria de viver foi retornando por um bom tempo, até o seu momento de partida há mais de 2 anos.

Quando eu tinha 14 anos minha mãe, meu irmão e eu fugimos de casa, devido à violência do meu pai e fomos morar com essa minha avó materna. Porém, depois de um tempo minha mãe e meu irmão voltaram para casa convencidos da melhora do meu pai e eu fiquei morando com minha Oma.

Foram quase dois anos que sonhei com o dia da volta da minha mãe e irmão, que incomodei a minha vó e que pude conhecer a vida de outra forma. Mas, infelizmente minha mãe nunca voltou, minha avó teve problemas no coração por cuidar de mim e tive que voltar para casa.

Minha Oma faleceu e nunca pude dizer a ela o quanto fui grata por tudo que fez por mim naquele tempo tão difícil. Ela foi uma grande avó me dando amor e carinho todos os dias. Nunca pude pedir desculpas pelo trabalho que dei a ela. E hoje aproveito para dizer:

"Oma querida, eu te amo e sempre te amarei. Gratidão por tudo que fez por mim e por todo o seu amor. Me perdoe por, na época, não saber o que fazia e saiba que hoje carrego você comigo em seus objetos que guardo com muito carinho, através das suas lembranças e sorrisos mais afetuosos deste mundo e na arte de fazer crochê. Te amo para sempre!"

Os pais do meu avô materno vieram da Holanda e da minha avó materna da Alemanha, todos com uma história de vida cheia de sofrimento e luta. E minha mãe era filha caçula de seis filhos.

Já os ancestrais da parte paterna sei que da mãe do meu pai são da Espanha e do pai do meu pai de Portugal. Meu avô e avó se casaram e foram morar em Angola, no continente Africano. Sei de ouvir falar que meu avô não falava com seu pai e assim, meu pai e meus tios não conviveram com ele.

Meu pai contava ter uma infância difícil, diz que quando bebê foi morar durante alguns anos com uma tia e que ficava aos cuidados de uma babá. Um trauma que carrega até hoje. Ele é o filho do meio, tem um irmão mais velho e uma irmã mais nova. Também contava que quando escrevia com a mão esquerda seu pai batia na sua mão com uma palmatória.

Meu pai carrega muitos traumas e dores da infância com ele e da época que quando tinha 18 anos teve que vir para o Brasil com a família fugindo da guerra civil de Angola. Vieram apenas com as roupas do corpo e algumas bagagens, deixando tudo para trás. Trauma que influenciou toda a sua vida toda e consequentemente a da minha família.

O casamento dos meus pais foi muito difícil, meu pai era alcoólatra e batia muito na minha mãe e quando cresci também começou a bater em mim. Meu irmão que nasceu quando eu tinha oito anos, teve também uma infância difícil, mas não sofria violência física. Hoje adultos seguimos nossos caminhos, buscando cada um a sua cura a sua maneira.

Meu irmão mora em Londres e nos falamos pouco. Meu pai mora na minha cidade, mas em outro bairro, e não temos contato só por mensagens de celular. E minha mãe, mora também em outro bairro e nos falamos todos os dias.

Meus avós maternos faleceram e meu avós paternos moram em Joinville e depois do nascimento da minha filha, hoje com 8 anos consegui voltar a ter contato com eles e receber e dar amor de avós a neta finalmente.

Meus pais carregam muito as dores de seus ancestrais, cada um na sua forma e hoje percebo que minha fibromialgia vai muito além das minhas dores de infância, carrega a falta de amor, de carinho, afeto e abraço dos meus ancestrais, dos meus avós e de meu pai com seus grandes traumas, principalmente de ter sido abandonado pela sua mãe quando bebê.

Existem muitas coisas para serem vistas, trabalhadas e perdoadas, e o meu grande desejo é que com essa formação eu possa fazer algo por eles e assim fazer por mim e pela minha filha, encerrando assim, o ciclo de dor e sofrimento dos meus antepassados.

 

 

 

 

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