Queridos, antepassados.
Demorou! Sim, demorou algumas gerações. Mas agora eu posso ver muito mais do que eu via. Agora posso compreender os sintomas, a história e as crenças.
Sou muito grata aos Húngaros que atravessaram o oceano para chegar aqui no Brasil no início do século XX e sinto muito pela fome, pelo desespero, pelos filhinhos e irmãozinhos que não suportaram tal viagem e tiveram seus corpinhos lançados ao mar.
Também quero agradecer aos italianos que chegaram e foram trabalhar na agricultura, no trabalho pesado, embaixo do sol de um país tropical. Agradeço por tudo! Eu adoro vinho, polenta e todas aquelas comidas deliciosas.
Aos portugueses, meu sinto muito. Para chegar aqui no Brasil precisaram comprar documentos falsos e o sobrenome se perdeu. Hoje minha mãe tem um sobrenome japonês e sinto que nessa parte da família existe uma sensação de não pertencimento.
Aos indígenas, eu sinto muito. Hoje eu compreendo minha fala desde muito cedo, "quero trabalhar com indígenas na Amazônia". Como me sinto bem com eles. É sempre uma sensação de querer voltar.
Trizavó, ter sido raptada foi muito traumatizante.
Muitas vezes, por amor cego e para pertencer, criei sofrimento, doenças e misérias em minha vida. Mas agora eu peço licença para fazer um pouco diferente, que eu possa experimentar a saúde, a felicidade em honra a todos que vieram antes e não viveram isso.
Gratidão, queridos antepassados, pela vida que chegou até mim.