Meus pais sempre foram presentes na vida dos filhos enquanto vida tiveram. Nunca presenciamos qualquer briga entre eles; nossa vivência teve como pressuposto amor, respeito, dedicação, orientação, cuidado, enfim, tudo aquilo que precisávamos para nos tornarmos adultos saudáveis.
Foi surpreendente o dia que mamãe, num momento de conversa com as filhas, revelou que seu casamento com papai não havia sido por amor. Ela gostava de outro rapaz, mas sabia que precisava deixar a casa dos pais adotivos para ter a sua própria casa, pensamento que era reforçado por sua mãe e irmãs adotivas.
No entanto, a convivência conjugal trouxe um amor profundo a meus pais, tão profundo que quando meu pai faleceu foi como se o mundo tivesse desmoronado sobre a cabeça de minha mãe.
A experiência bem-sucedida no casamento a fez acreditar, que o amor nasce durante o casamento, não antes. Transformou a experiência exitosa em receita certa para qualquer casal. E compartilhava isso como uma verdade absoluta, para mim uma crença limitante.
Minhas irmãs, não seguiram a mesma tendência, casaram-se com quem acreditavam ser o amor de suas vidas, mesmo aquelas (duas) que se divorciaram. Já eu, na inocência, acabei repetindo a lealdade sistêmica de minha mãe.
Como assim?
Casei-me aos 18 anos com um homem o dobro de minha idade, estava mais para pai do que marido. Pessoas próximas ficaram assustadas quando decidi aceitar o pedido de casamento dele . Embarquei na ideia, abandonando um namoro de dois anos com alguém pelo qual nutria maior amor, e ele por mim.
A resposta para tal insanidade foi libertar-me das rédeas do irmão mais velho que, com a morte de meu pai e permissão de minha mãe, adotou sobre nós, irmãs, comportamento de cuidado excessivo, abandonando, deslocando-se da função de irmão mais velho, para a função de pai das quatro irmãs mais novas.
Fazia maior terror quando queríamos sair com namorado ou ir para festinhas na casa de amigos, coisa comum à época. A perseguição levou-me a aceitar o pedido de casamento de um senhor que se apaixonou por mim, após um término do namoro com o então “amor de minha vida”.
Jamais tive consciência de que aquele casamento tivesse algo a ver com lealdade sistêmica. Somente depois da apresentação da aula 2, módulo 3, tive clareza de minha "inocência", da razão daquele casamento na juventude.
A união durou apenas quatro anos, nos divorciamos, voltei para casa de minha mãe com a filha a quem demos a vida, para recomeçar o que interrompi na minha adolescência.
Passados dez anos da experiência, já adulta, conheci o homem que escolhi para esposo. Escolha alheia de qualquer objetivo que não fosse caminhar para o futuro e constituir nova família. Dessa união veio minha filha mais nova.
Nesse contexto, percebo que os relacionamentos conjugais no meu sistema familiar, se deram por escolha pessoal. No meu caso, em particular, pela lealdade sistêmica com minha mãe. O que não me surpreendeu, uma vez que sempre fomos muito ligadas, aliás, sempre quis entender o por quê de tal simbiose.
Hoje compreendo que meu primeiro casamento, considerado até então um verdadeiro desastre de vida, foi necessário que acontecesse. Dele veio minha filha mais velha, pessoa maravilhosa, que deu vida ao meu neto, um presente maravilhoso em nossas vidas!
Sou grata a Deus por tudo que aconteceu em minha juventude.
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