Há alguns meses recebi uma senhora em meu consultório para uma entrevista inicial para um acompanhamento psicoterápico.
Começamos a conversar e ela foi contando a sua história. Falava do sofrimento, do desprezo, da relação abusiva com o marido, das traições e finalmente a separação depois de 13 anos de casada e dois filhos.
Comecei a ficar incomodada, pois tudo era muito parecido com a minha própria história. Os sentimentos, as emoções, os conflitos, eram muito semelhantes. Parecia que ela estava falando de mim.
A diferença? Para ela já faziam 3 anos e comigo 4 meses.
Nesse momento eu pensei. Bom tenho duas escolhas, vou em frente e sabe Deus o que acontecerá ou digo a ela que não posso atendê-la e passo para outro profissional.
Aprendi, que recuar nesse caso, não seria sinal de fraqueza, mas sim ter a humildade de reconhecer que eu não poderia ajudá-la naquele momento. Estava difícil trabalhar os meus sentimentos.
Como eu poderia ajudá-la? Não, eu não poderia e também não queria.
Então disse a ela que me perdoasse, mas naquele momento eu não teria como ajudá-la, pois precisava resolver algo pessoal.
Não sei se agi corretamente ou se fui covarde, porém sei que não estava pronta para trabalhar aquele tema. Eu preferi ouvir meu coração do que meu ego.
Seria cego conduzindo cego.
Ela nunca mais apareceu, mandei uma mensagem para saber como ela estava, ela me disse que estava trabalhando muito (trabalha na enfermagem do hospital de campanha do COVID-19 na minha cidade), não teria tempo para cuidar daquilo, naquele momento.
Cada um faz o que pode. Eu resolvi olhar dentro dos olhos daquela situação que eu estava vivendo, buscar os recursos possíveis para dar conta de mim e dos meus filhos.
Voltei para terapia, vim fazer o curso com a Olinda e aprendi uma nova maneira de olhar o mundo.
O monstro somente existia na minha cabeça, e ele fica bravo porque eu o alimentava.
Ele está agonizando, está na UTI.
#mod08 #conclusão