Neste módulo peguei-me pensando: estou mesmo disposta a ser próspera e a mudar essa minha realidade? Não, tenho medo. De quê? De deixar algo para trás.
Cada aula mostrou-me algo doloroso, a lealdade antes da felicidade. Essa lealdade faz com que não vemos as oportunidades que o mundo nos oferece aos montes.
Vejo agora o quando deixei passar para ficar em casa com a família, o quanto me senti responsável pelo bem-estar de outros que não estavam preocupados consigo mesmos, e muito menos comigo. Cresci e ao mesmo tempo parei na menininha assustada, triste que esperava o amor, carinhos, proteção dos pais. Nunca aconteceu.
Agora eu sei que honrar nossos pais, nossos antepassados é conhecer e reconhecer sua histórias, suas lutas, seus esforços, suas dores para que eu pudesse existir, e completar tudo isso vivendo intensamente o que a vida nos traz de melhor.
"Minha Mãe
Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Tenho medo da vida, minha mãe.
Canta a doce cantiga que cantavas
Quando eu corria doido ao teu regaço
Com medo dos fantasmas do telhado.
Nina o meu sono cheio de inquietude
Batendo de levinho no meu braço
Que estou com muito medo, minha mãe.
Repousa a luz amiga dos teus olhos
Nos meus olhos sem luz e sem repouso
Dize à dor que me espera eternamente
Para ir embora. Expulsa a angústia imensa
Do meu ser que não quer e que não pode
Dá-me um beijo na fronte dolorida
Que ela arde de febre, minha mãe.
Aninha-me em teu colo como outrora
Dize-me bem baixo assim:
-Filho, não temas
Dorme em sossego, que tua mãe não dorme.
Dorme. Os que de há muito te esperavam
Cansados já se foram para longe.
Perto de ti está tua mãezinha
Teu irmão, que o estudo adormeceu
Tuas irmãs pisando de levinho
Para não despertar o sono teu.
Dorme, meu filho, dorme no meu peito
Sonha a felicidade. Velo eu.
Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Me apavora a renúncia. Dize que eu fique
Dize que eu parta, ó mãe, para a saudade.
Afugenta este espaço que me prende
Afugenta o infinito que me chama
Que eu estou com muito medo, minha mãe."
Vinícius de Moraes