Constelações Épicas é um termo definido por nossa Mestra Olinda Guedes durante o desenvolvimento das aulas dessa formação, ele descreve aquelas constelações que carregam temas difíceis de vida e morte, divisores de águas dentro de um sistema.
Elas trazem o desafio de encontrar soluções para desatarem nós sofridos e muitas vezes muito antigos. Segundo Olinda, elas exigem reconciliações e tomadas de consciência. Exigem a disposição para fazer o que é necessário. São situações muito dolorosas vividas por essas pessoas, são assassinatos, perdas cruéis, suicídios, abortos, exclusões. São sagas!.
Olinda diz que percebemos os efeitos de abortos provocados quando existem alguns sinais dentro do sistema como, por exemplo, medo inexplicável de morrer subitamente. Percebemos também na dificuldade de dormir, como se o adulto precisasse ficar vigilante para que as crianças possam dormir em paz.
Outro sintoma que ela ressalta é quando crianças pequenas roem as unhas, pois sentem que alguém do sistema está em perigo. Possivelmente uma outra criancinha está precisando ser salva.
Eu fiquei particularmente mobilizada com as aulas desse módulo, que só recentemente pude assistir. Senti medo de ter que receber alguma cliente com uma história assim e não suportar conduzir a constelação. Fiquei então, me perguntando o que tinha mexido tanto comigo.
Sei que tenho histórias épicas em meu sistema e sei também que carreguei por décadas algumas dores dessa família. Fatos dos quais quase nunca falei e quase ninguém da minha família pode saber. Segredos que ninguém quer tirar de baixo do tapete.
Quando jovem fiz vários abortos provocados em situações em que me sentia desesperada e sem amparo, nem da minha família, nem a do companheiro. Na época, apesar do sofrimento que isso me trouxe, eu pensava que era um direito meu, como mulher, dizer não para uma gravidez indesejada que eu não me sentia capaz de levar adiante.
Pensava também que assim eu estava minimizando o sofrimento que esse bebê teria ao vir ao mundo naquelas condições. Mas ao longo dos anos entendi que eu apenas repetia um comportamento materno e sentia-me autorizada a fazê-lo por fidelidade ao sofrimento da minha mãe e da minha avó ou talvez, bisavó. Essa compreensão só chegou depois de muitos estragos e ficaram difíceis de reparar.
As mulheres da linhagem da minha mãe foram guerreiras pobres, mestiças, sofreram muito com a falta de reconhecimento social, com o abandono de seus companheiros e tiveram filhos bastardos. Alguns foram dados a parentes que tinham melhores condições de criá-los, uns morreram de doenças comuns e outros muitos foram abortados. Essa é a história de muitas famílias nesse Brasil.
E quantas mulheres não passaram por coisas assim.
Percebo que quando crescemos ouvindo uma crença familiar, isso se torna verdade para nós. Depois que vamos para o mundo, como adultos, descobrimos que existem muitas outras crenças e que cada um acredita na estorinha que sua família contou desde muito longe no tempo.
Eu precisei de muitas décadas e muitos anos de terapia e algumas constelações sistêmicas para entender minha lealdade à bisa, à vovó e a mamãe queridas.
Recentemente ouvi numa aula sobre constelações a afirmação de que quando a gente aborta um filho aborta nossa vida também. Aí eu entendi que eu tinha destruído dois casamentos, mesmo tentando de tudo para salvá-los. Eu sentia como que um impulso para detonar tudo, por não me sentir merecedora daquela felicidade.
Mas fui fundo na minha dor, reconheci e me reconciliei com essas perdas e sarei algumas dessas feridas. Atualmente eu estou casada, há 3 anos, pela terceira vez e, dessa vez me dou o direito de ser feliz e dar e receber todo o amor que mereço.
#MOD11 #CONCLUSÃO