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CURANDO O CURRICULUM

CURANDO O CURRICULUM
ÁUREA MARIA ABRANCHES SOARES
mai. 7 - 13 min de leitura
010

Ao 10 anos de idade passei a ser Babá dos meus 06 sobrinhos que fez construir em mim uma percepção das dores e sofrimentos infantis, proporcionei o acolhimento silencioso e sutil para os enredos particulares da minha família, pois criança não tinha vez, não tinha fala, não tinha gosto, criança era uma coisa se jogava de lá para cá ao bel prazer dos pais.

Nesta época nem eu mesmo podia ser criança se eu realizava um bom trabalho recebia algum presente por ser uma "boa menina, se não fosse o que meus irmãos queriam era bronca mesmo.

Para mim foi o início de uma descoberta de como as relações familiares se comportavam, principalmente, para os adotados que veladamente se tornavam serviçais familiares e subalternos as caprichos dos mesmos. 

Minha meninice me blindou de muita coisa a ingenuidade e um coração agradecido também. O que o oculto não revelava é que eu já estava em lealdade com a minha Mãe biológica peregrinando uma trajetória de uma menina de roça que foi posta em casa de família para trabalhar; lógico que não na mesma intensidade de trabalhos domésticos e nem sem oportunidades de estudo como foi o caso dela.

Concluo que tudo valeu muita a pena para mim eu só agradeço.

Como era estudiosa e levava a sério os meus estudos, fui convidada a ser Professora de Reforço Escolar, o maior desafio era fazer o milagre das boas notas aparecer e crianças ou adolescentes que não tinham estudado o ano inteiro e estavam com várias matérias pendentes.  Imagine como eles vinham para aula, desesperados é claro!

Como o meu padrão de cliente eram os que estava já com o pé na reprovação construi um esquema de objetividades priorizando matérias  e trabalhos; minha parte era estudar tudo de um dia para outro e passar da forma mais interessante e convincente para que o conteúdo fosse assimilado e no dia seguinte a prova fosse realizada com sucesso.

A parte deles era se sentir capaz, pois muitos se tornavam desinteressados e abandonavam os estudos por acreditarem que eram "burros" ou limitados; por isso no nosso primeiro encontro conversávamos sobre eles e suas preferências e sonhos, o que queriam ser quando crescessem.

Depois disto inseria a realidade da situação e que ele ainda tinha como reverter se quisesse e que desta fez ele não estaria sozinho, mostrava um plano de ação e fazíamos um combinado eu levaria todos os dias os seus livros e estudaria e no dia seguinte teríamos aula sobre todo o conteúdo com uma avaliação oral. Trabalhei três anos nesta atividade e todos os meus clientes passaram de ano.

Tiro desta fase o meu talento em resolver problemas, pois eu tinha pouco tempo para ler, aprender e repassar o aprendido, e ainda construí um espírito de vontade, perseverança e capacidade em crianças que já estavam se sentido derrotadas pela vida. A vitória deles era a minha vitória, éramos campeões.

Como eu queria estudar no cursinho sem sobrecarregar meus  pais passei a trabalhar todos os dias como Secretária de consultório pediátrico que era da minha irmã mais velha, sem carteira assinada,  e à noite eu estudava. Como os atendimentos eram apenas de um período do dia, nos meus tempos livres aproveitava para estudar.

Nesta época, aprendi muito sobre convivência entre patrão e funcionário; mas nós confundimos várias vezes esta relação ultrapassando limites; fui afrontosa com minha irmã quando ela havia proibido meu namorado de ir lá me ver. 

Estas reações foram reflexo da minha falta de respeito que eu sofria e que eu dava também para os meus pais e com meus irmão mais velhos tentando ser vista e reconhecida, que se estenderiam ainda por longos anos; levando a problemas mais sérios de rompimento familiar.

Da doce e domesticada criança passei a uma adolescente grosseira, rude e raivosa.

Minhas emoções fervilhavam em uma panela de pressão, eu não suportava ser conduzida por ninguém, explodindo conturbações e tristezas. Logicamente o término desta atividade foi abrupto, com brigas e sem receber os meus direitos. Até agora não tinha me relembrado deste fato, o que me faz pedir desculpas e perdão ao meu trabalho de secretária e a minha patroa que era a minha irmã; e ainda pedir perdão a mim mesma por ter me sujeitado a fazer um trabalho sem carteira assinada que fomentou ainda mais a baixa estima e o complexo de inferioridade.

Me faz observar que devemos ter cuidado ao trabalhar com a família quando as relações não são funcionais, aprendo com este labor e agradeço.

Meu irmão tinha uma empresa de seguros junto com outros sócios e minha cunhada queria que eu fosse trabalhar lá como Secretária; contudo, a intenção de um dos donos era que eu ficasse como Auxiliar Financeiro, pois a moça que era a antiga secretária havia subido para este cargo e não estava se adaptando. 

Assim , experimentei o gosto de ser reconhecida por minha capacidade e também por quem eu era, encontrei uma mentora que viu em mim qualidades e as destacava para os donos.

Eu gostava de ir trabalhar até que episódio grosseiro aconteceu. Fiz uma pergunta ao meu irmão, que mal me dirigia a palavra,  sobre qual o horário para entrarmos no serviço no sábado (porque não era costume irmos e não tinha horário definido, como também não era seguro ficar lá fora para esperar).

Ele assim, começou a gritar comigo e me sacudiu segurando pelo braço na frente de todos, o sócio veio ao encontro e pediu que ele parasse e me soltasse, ele me soltou e saiu da empresa correndo todos ficaram perplexos inclusive eu que em prantos desmoronei.

Pelos sócios dele eu era uma funcionário promissora, contudo não era assim que ele me via,  acho que depois entendi um pouco porque ele não me queria  lá, pois ele  era um galanteador e ficava se engraçando para as mulheres bonitas inclusive para a secretária que eu tinha substituído, além de ser simpático e puxa-saco, coisas que de longe era em casa.

Para minha sorte passei no vestibular para direito e o curso era matutino o que foi a justificativa perfeita para ele me despedir. desta fez recebi os meus direitos. Tudo isto aconteceu em 01 mês. Tiro de bom as palavras inesquecíveis daquela mentora que me disse que eu poderia ir muito além e que havia em mim muitas coisas boas e que assim como ela outra pessoas apostariam alto nos meus talentos.

Saio agora feliz desta experiência e levo comigo o que me faltava, o reconhecimento.

No período estudantil eu fiz um concurso para Estagiária na Justiça Federal e passei  em primeiro lugar foi incrível esta fase,  fui lotada na biblioteca e minha função era pesquisar um assunto até esgotar todas as alternativas até aprender a arte de pesquisar com eficiência e lógica. Lá era um ambiente seguro e educado, todos me queriam bem e tratavam com respeito e consideração, se importavam comigo.

Eu trabalhava diretamente com duas senhoras incríveis e adoráveis que como mães zelosas cuidava de mim.

Uma vez eu havia acabado de chegar quando um homem que eu nunca tinha visto entrou na biblioteca e queria falar comigo a todo o custo, elas imediatamente perceberam que não era algo normal, pois ele se comportava de forma obsessiva e perturbadora , chamaram polícia federal e tudo mais.

Me fizeram sair por uma porta interna que levava ao estacionamento lá havia um carro que tiraria dali em segurança. Fique afastada por uma semana até que todos guardas percebessem que era seguro eu voltar, pois o homem era um psicopata diagnosticado e com passagem na polícia e ainda ficou rondando o meu trabalho para me ver chegar pois eu ia de ônibus.

Elas então resolveram que eu desceria dois pontos antes do trabalho e lá estaria um carro que me levaria por entrada privativa e eu deveria ficar neste percurso escondida.

Passado esta fase de suspense fiquei quase 03 anos lá e só sai porque havia passado em um concurso. Me sinto muito feliz por contar isto, recebi deles o cuidado que eu sempre quis ter. Grata a  todos que se dispuseram a cuidar de mim, pessoas que zelaram pela minha segurança, anjos guardiões.

Passei novamente em primeiro lugar para Conselheira Tutelar foi o primeiro concurso para esta atividade, o grupo era formado por jovens estudantes do direito e por pessoas que se sentiam envolvidas na causa de proteção infanto-juvenil. Aqui registro que foi a experiência de vida mais valiosa para minha vida. Salvei crianças, resgatei e enfrentei perigos para que elas tivessem suas vidas protegidas e representadas.

Dei voz a todas as crianças que precisavam de mim. Eu fiz com muito amor e foi uma época que o término de expediente não era determinado pelo tempo.

Eu estava no meu lugar e sabia perfeitamente como deveria agir. Havia um luz e uma força maior que nos conduzia a resgatar as crianças em lugares sombrios, maus e escravizantes. Apesar não ser uma tarefa fácil emocionalmente nunca estávamos sozinhos. Pude compreender mais tarde que a vida havia me dado este presente que representaria todas as crianças invisíveis, abandonadas, abortadas, mortas e violentadas do meu próprio sistema.

Eu era a pessoa mais preparada para esta tarefa e agradeço esta bênção. Trabalhei lá por dois anos e meio e sai deixando boas lembranças.

Novamente, por via do concurso público passei para Técnica de Controle Público Externo no Tribunal de Contas que foi um marco divisor em minha carreira e na minha história de vida , onde estou até hoje o que representa uns 20 anos, aqui o meu esforço foi reconhecido, a minha voz foi ouvida e respeitada, sou uma profissional que há 10 anos exerço uma chefia ativa e competente.

Quantas ideias elaborei e implantei para  que houvesse uma fiscalização eficiente no meu setor, além de me levar a uma busca pessoal para entender e compreender os relacionamentos humanos. Esta carreira me viabiliza meus recursos financeiros e mantém toda a minha família.

Contudo apenas uma coisa não ficou neste processo foi o meu marido que não conseguiu me ver crescer e nem outros namorados. Me tornei uma mulher dona de mim e da minha vida cuja a visibilidade e talentos me proporcionaram mais uma possibilidade a de ser Palestrante e Professora de Direito Previdenciário pela minha instituição e também em outros órgãos do meu Estado.

Não é fácil esta trajetória, ninguém sabe o quanto investi em mim com curso, livros, estudo, terapias e dinâmicas saudáveis para que a minha vida pudesse chegar neste nível de paz  e felicidade. Só sei que está valendo a pena, principalmente, quando eu me coloca a disposição para servir. Amo o meu trabalho e agradeço do o fruto que vem dele.

Por anos a fio construi uma vida verdadeira e fiel aos meus propósitos éticos e morais, sempre me lembrei de onde vim e para onde eu queria ir, balizei meus esforços com a edificação da minha família e a  busca incessante por minha cura pessoal com meus pais  o que entendo ser constante e crescente.

Com base nisto,  pessoas próximas e amigas sempre me procuram com a finalidade de um aconselhamento de ajudá-las em suas carreiras, em suas empresas ou em suas dificuldades pessoais. Minha própria psicóloga via este potencial e que eu poderia ajudar ainda mais com a Constelação Sistêmica ou realizando uma Mentoria Pessoal.

Assim, estou disponível para vida para servir a este novo propósito agradecendo tudo que eu passei da forma como ocorreu, valorizando e amando mesmo assim, deixando o que é do outro com o outro, e me responsabilizando pelo meu caminho e pela minha felicidade.

Participe do grupo Constelações Sistêmicas e receba novidades todas as semanas.


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