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DA INFÂNCIA ATÉ A VIDA CONJUGAL E EU

DA INFÂNCIA ATÉ A VIDA CONJUGAL E EU
Maria Fatima da S. Silveira
jun. 25 - 9 min de leitura
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História  dos meus pais.

Meu pai, quando ouvi a solicitação da professora Olinda no final do módulo 3, para esta atividade, confesso que senti uma frustração imensa, pois não conheço detalhes da vida do meu querido pai.

Veio a pergunta, como nunca falamos sobre todos esses detalhes, o que sei são algumas informações soltas conversadas com ele durante  caminhadas que fazia com ele procurando plantas medicinais, para o uso de chás ou para a infusão que ele preparava. Essa infusão servia para ser usada desde picada de insetos até hematomas.

Ele mostrava na nossa chácara, o lugar onde existia a casa da mãe dele, lembro de  uma palmeira linda com o tronco meio curvado, dizia que era ali, próximo à uma vertente, que chamava de sanga.

Durante a minha infância, quando já não existia mais a casa da minha vó, o gado ia tomar água e às vezes acabava caindo nessa vertente, dando bastante trabalho para serem retirados.

Meu pai nasceu no dia sete de fevereiro de 1912, era o  mais novo de uma família de dez irmãos, filho de Gaspar Lopes da Silva e Vitalina Lopes da Silva, foi registrado somente no dia 01 de maio.

A infância foi pobre, só sabia assinar o nome, não era alfabetizado, trabalhou desde menino cuidando do gado e tirando leite, para ajudar a família.

Foi para o exército, para o serviço militar, imagino o quanto deve ter sido difícil para ele, uma pessoa simples, agricultor deixar a casa da mãe e se submeter a um ambiente e uma rotina completamente diferente da que vivia.

Mesmo sem estudo tinha uma facilidade com  matemática, fazia contas mentalmente de forma surpreendente. Tinha uma habilidade para negócios, enxergava de longe a possibilidade de comprar, vender, trocar  e ter lucro. Era uma pessoa extremamente séria, não admitia qualquer forma de ganhar nada que não fosse honestamente.

Era admirado pelos amigos que falavam para ele, sobre sua honestidade, lembro de ouvir mais de uma vez,  eu ficava muito feliz. Trouxe minha avó para morar com ele, quando os outros irmãos não a tratavam bem, ela viveu até 94 anos.

Meu pai era alto e  tinha a pele morena da mãe que era bugre e ouvi de uma parente que meu avô era de origem francesa. Ele dizia ter orgulho de ser gaúcho, só usava bombachas, botas, chapéu, lenço branco no pescoço e muitas vezes sofria preconceito sendo chamado de “grosso”.

Felizmente isso mudou em relação ao uso do traje típico do nosso estado.

Quando lembro dele, a palavra que vem para defini-lo é altivez, e claro, era meu porto seguro, só em pensar que um dia iria partir me deixava sem chão. Partiu em setembro de 1990.

Minha mãe, da minha mãe tenho mais informações, mas que vontade de voltar no tempo com lápis e papel na mão para entrevistar minha avó, como perdemos preciosidades com essa falta de relatos sobre nossos pais, avós e assim por diante.

Felizmente convivi com meus avós maternos até a adolescência. Lamento não ter aprendido falar italiano com meu avô, só sabia os palavrões que ele dizia. 

Minha mãe nasceu em Júlio de Castilhos no dia 27 de março de 1925, a filha mais velha de quatro irmãos de Antônio Bom e Cançanilha Fumagalli Bom. Veio morar em Gravataí, porque meu avô trabalhava na construção de estradas  e a família se deslocava junto. 

Aqui compraram terras e não mudaram mais.

A família da minha mãe transformou a terra que compraram numa propriedade com características típicas dos italianos que fornecia tudo para o sustento com plantação de uvas, horta, pomar e animais domésticos.  

Minha mãe mesmo criança tinha que trabalhar muito, e  quando tinha seis anos teve que cuidar da minha avó. Ela frequentou a escola até o quarto ano, sabia ler e escrever. Contava que a escola onde estudava estava em construção e os alunos tinham que ajudar carregando tijolos.

Ela tinha a pele bem clara, olhos castanhos, rosto bonito mas, vaidade não fazia parte da rotina pelo que ela falava.

Minha vó era muito rigorosa, e a filha mais velha tinha muitas responsabilidades e cobranças.

Da adolescência não sei de mais detalhes, mas foi com 17 anos que ela conheceu meu pai e começaram a namorar.

Dizia,  que ele tinha várias pretendentes, mas ela que casou, ele tinha 13 anos a mais que ela.

Casaram-se no dia 31 de dezembro de 1942.

Ela fez todo enxoval bordado e costurado  a mão, em poucos meses porque namoraram pouco tempo e marcaram a data do casamento.

Além disso, ela tinha que ajudar minha avó na lavoura, pois meu avô continuava trabalhando na construção de estradas.

Casaram-se e foram morar numa peça junto ao galpão onde ficavam as vacas. Eram muito pobres, e minha mãe com a força das mulheres italianas assumiu junto com meu pai todo trabalho pesado da lavoura e das vacas que tinham.

Ela herdou da minha avó a rigidez na educação dos filhos. 

Quais palavras poderiam definir minha mãe, a primeira é trabalho, mesmo depois de terem uma situação financeira melhor, ela sempre achava que nunca poderia diminuir a jornada. Nunca tirou férias, nunca viajou.

Como o meu pai também achava que se quisesse algo, teria que conseguir através do trabalho honesto, ajudava  qualquer pessoa que precisasse.

Meus pais tinham 25 afilhados, prova o quanto eram queridos. Minha mãe ao longo da vida foi se descuidando da sua saúde, porque não abria mão do trabalho, sempre preocupada que poderiam passar por alguma necessidade, talvez ” sendo fiel ao seu sistema que chegou ao Brasil sem nada”, vieram em busca de melhor vida deixando a Itália para trás. Adoeceu e ficou por quase 10 anos acamada por sequelas do AVC.

Foram anos de muito sofrimento para ela, que perdeu sua autonomia e passou a depender de outras pessoas para seus cuidados. Partiu em novembro de 1997.

Vida conjugal.

Ficaram casados por 48 anos,  a grande dor da minha mãe quando ele faleceu  foi  que não comemoraram “ Bodas De Ouro” muito aguardado por ela.

No casamento se davam bem, eram cúmplices em relação à necessidade de trabalhar muito para melhorar  a situação financeira, e fizeram isso ao longo da vida deles.

Se respeitavam mutuamente e jamais presenciei entre eles qualquer manifestação de agressividade, apenas rusgas, resmungos, mas logo passava. Essa era a impressão que eu tinha. 

Meu pai era mais tranquilo no dia a dia, sempre usava o bom senso para qualquer situação,  as vezes era cobrado pela minha mãe que tinha um comportamento  mais explosivo, controlador, tipo pavio curto.  

Ele sorria e dizia: -“calma Maria”.

Eles tiveram cinco filhos, quatro nascidos vivos e um não vivo(aborto).

Mesmo sem ter estudado, ambos valorizavam o estudo e não mediam esforços para que os filhos estudassem e tivessem uma profissão que não fosse tão sacrificada como era ser agricultor, trabalhando de sol a sol de segunda a segunda todos dias do ano.

Eu me dou conta que só tenho a agradecer por ter tido pessoas tão especiais na minha vida, fui privilegiada por ter sido filha deles.

Até bem pouco tempo atrás se fosse dizer a minha posição nos filhos diria que sou a terceira, quando constelei e vi que o lugar da minha irmã (aborto) estava sendo desconsiderado, que eu sou a quarta filha.

Até então, sem saber porque, vivia numa busca incessante de me aproximar dos meus irmãos mais velhos, o que  mudou completamente quando cada filho ocupou seu lugar real.

Sou uma mescla de características de cada um dos meus pais e antepassados, seja fisicamente ou em comportamento e personalidade.

Sou morena como o pai, tenho habilidades com trabalhos manuais como minha avó paterna e o bom senso me acompanha em todos momentos.

Da minha mãe herdei, a obstinação em busca dos meus objetivos, muitas vezes considerada teimosa, o gosto e a vontade de trabalhar e de querer sempre estar em contato com a terra, seja cultivando temperos ou orquídeas nas árvores da minha casa, lembrando sempre das parreiras da casa dos  meus avós maternos, que fizeram parte da minha infância.

Durante a elaboração dessa tarefa  muitos insights ocorreram de forma muito sutil,  esse cair de fichas traz uma clareza de como seguimos nossa vida seguindo com lealdade o ritmo do nosso sistema, muitas vezes presos a emaranhados e sofrimentos.

Hoje sei que constelar é preciso.

 

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