É sempre tempo de se curar.
É sempre tempo de ter uma infância feliz!
Esta foi a fala da professora Olinda Guedes em uma de suas aulas do módulo 2, que assisti em março 2021.
Para mim soou como um mantra.
As lições deste módulo foram entremeadas de lágrimas e risos.
Lágrimas, a cada memória que emergia do mais profundo do meu ser e risos pela feliz constatação de como estas memórias explicam comportamentos de uma vida inteira e é acalentador saber que é sempre tempo de se curar.
Apesar deste módulo ter trazido uma quantidade surpreendente de insights, véus e mais véus se descortinando, não está sendo nada fácil escrever um relato sobre ele.
Quando a professora pediu que pensasse sobre quais padrões que tenho carregado ao longo de minha vida, vieram muitos insights, dentre os quais: lembrei-me de minha relação com o dinheiro, que poderia ser melhor, visto que conheço bem ferramentas de gestão financeira.
De onde vem a sensação de incompletude, de vazio, de ter deixado algo muito valoroso para trás.
Porque esta sensação de que a cada esquina que eu cruzar, algo me será subtraído?
Por vezes me vejo na iminência de assumir responsabilidade de outrem só para evitar desgaste.
E quanto a dúvidas, só para ilustrar: praia ou montanha? vermelho ou azul? sensação de ter que ouvir mais alguém além de mim.
Em outro momento a professora mencionou:
- Não queira resolver as coisas sozinhas. Isto é uma lealdade, é um grande emaranhamento, se você pensa que pode resolver tudo sozinha, este é o primeiro tema para colocar para constelar, talvez haja história de orfandade em seu sistema.
Por mecanismo de defesa aprendi a resolver tudo quase sempre sozinha e nos últimos anos isso tem gerado em mim uma sobrecarga muito grande.
De fato, há história de orfandade, a minha história pessoal.
Mas tenho a sensação de que existe em meu sistema orfandade muito anterior a minha.
Quando terminei a aula 3, o lugar certo, a ordem que liberta, senti uma vontade de ouvir a canção portuguesa “Verde Vinho” do Paulo Alexandre.
Chorei copiosamente.
Como se a letra me explicasse de onde vem a tristeza e a saudade que não sei identificar nem de que e nem de quem.
Um trecho em especial me chamou atenção:
“[...] Falou-me então daquele dia triste,
O velho Luís;
Em que deixara tudo quanto existe,
Para fazer feliz;
A noiva, a mãe, a casa, o pai
E o cão também.
Pensando agora naquela cena
Que tão estranha vi;
Recordo a mágoa, recordo a pena,
Que com ele vivi;
Bom português
Regressa breve e vem de vez!
Vamos brindar com vinho verde
Que é do meu Portugal
E o vinho verde me fará recordar
A aldeia branca que deixei atrás do mar.
Vamos brindar com verde vinho
Para que possa cantar, canções do Minho
Que me fazem sonhar,
Com o momento de voltar ao lar.
(Verde Vinho - Paulo Alexandre (Udo Jungens / Kunze, Versão Paulo Alexandre).
Chorei, dancei, cantei e gritei!
Fiz isto várias vezes durante três dias, antes de começar a escrever este texto.
De mim nasce um desejo de agradecê-los e de renascer.
Queridos antepassados, imagino quantos de vocês tiveram suas vidas retratadas neste verso “[...] deixara tudo quanto existe, para fazer feliz; a noiva, a mãe, a casa, o pai e o cão também.”
Por isso muita gratidão, gratidão infinita por me trazerem a vida.
Agora eu os vejo, os amo e os honro e se eu fizer diferente de vocês me abençoem e saibam que o melhor de vocês está em mim.
Agora eu quero voltar ao lar, renascer como indivíduo, com toda inteireza do meu ser.
Somos livres!