"Um professor, por meio da Pedagogia Sistêmica, vai além dos parâmetros curriculares; ele oferece muito mais, ele trabalha com o conteúdo do coração. Não é um terapeuta, mas seu trabalho permite o completar de tantos anseios e sofrimentos que já existem nos pequenos corações. Ações pedagógicas bem pensadas e direcionadas, resultam também em poderosos efeitos terapêuticos.
A cura de um sintoma exige coragem. Estar acostumado não é sinal de estar feliz. Em todos os nossos relacionamentos podemos nos curar. A escola é um local que tem potencial imenso de cura ou adoecimento. É mais fácil tomar cuidado e se proteger nos ambientes hospitalares". Do livro “ A Verdade sobre o Sofrimento Humano “ pág. 37.
Fazia muito frio enquanto lia algumas páginas do livro acima, quando me dei conta lágrimas quentes molhavam o meu rosto, trazendo à tona tristes lembranças.
Quem dera não seja apenas utopia a educação sistêmica em todas as escolas do país. Hoje em dia muita coisa mudou para melhor, eu não tive muita sorte no meu primeiro ano escolar.
Minha primeira professora era irmã Julita. Lembro-me perfeitamente dela: uma mulher esguia, de feição bonita, mas brava, enérgica!
Seu andar era tão rápido que fazia sua vestimenta farfalhar e percebíamos de longe quando vinha se aproximando.
Durante minha trajetória nas escolas tive muitas dificuldades no aprendizado. Cheguei até a cursar faculdade de Geografia, mas só eu sei a que preço.
Também muito jovem passei a ter artrite reumatoide nas juntas dos dedos das mãos. Acontecia que frequentemente quando o aluno tinha dificuldades ou cometia erros a professora pedia que colocássemos as mãos com os dedos virados para cima na carteira e batia neles com uma régua de madeira. Nós chorávamos e nos sentíamos humilhados.
Só lembrando que isso foi lá pelos anos 1960 numa cidadezinha do interior.
Nos meus 10 anos acredito, outro fato também colaborou para essa dificuldade de aprendizado. Ao concluir o 4º ano havia um tal exame de admissão para dar continuidade aos estudos; era assustador, algo parecido com vestibular e eu estava na maior ansiedade para saber se havia conseguido a nota.
No dia que saiu o resultado, fui à escola, peguei o boletim e, feliz da vida porque havia conseguido a aprovação, retornei rápido na maior corrida para contar para os meus pais.
Ocorreu que quando cheguei encontrei primeiramente minha mãe que não devia estar em um bom momento, pois pegou o boletim da minha mão olhou o resultado jogando o papel de volta para mim exclamou: “ Você não fez mais que a obrigação” e isso foi tudo.
Chorei por uns três dias e passei mais da metade da minha vida fazendo tudo apenas por OBRIGAÇÃO.
Por sorte ou força do destino lá pelos meus 40 anos fiz amizade com uma pessoa que dizia sentir-se muito realizada no trabalho, pois atuava em uma Companhia multinacional que reconhecia os funcionários pelos seus bons feitos.
Isso me tocou muito e através dela consegui uma vaga nessa conceituada empresa, a Avon Cosméticos, onde desenvolvi trabalho como gerente de vendas. Atuava na área externa com equipe de vendas.
Confirmada minha expectativa que ali eu podia ser reconhecida, dei tudo de mim e, em três anos de trabalho, levei o meu setor, que havia tido uma longa história de fracasso em vendas, a ocupar o segundo lugar em vendas e pedidos no País.
Tudo o que a minha alma ansiava era ser reconhecida!
Anualmente a Companhia reunia todos os profissionais da área de vendas com grandes eventos, momento em que os funcionários que se destacavam tinham seu reconhecimento.
E eis que no ano de 2017 ouvi meu nome sendo chamado para subir no grande palco onde me entregariam troféu e prêmios como reconhecimento pelo brilhante trabalho desenvolvido no meu setor.
Minhas pernas tremeram, meu coração quase explodiu! E adivinhem... quem eu queria ter ali na plateia senão os meus pais. Eu via minha Mãe ali.
Entre lágrimas eu ergui o troféu e falei: Mamãe isso é para você.
Hoje compreendi que nesse momento eu constelei, porque desde então nunca mais fiz nada apenas por obrigação.
Mamãe, minha reverência, gratidão por ter me trazido a vida e por tudo que fez por mim. Hoje eu sei que você não fez por maldade. Você só pode me entregar aquilo que você conhecia, aquilo que você recebeu. Reconheço que você é grande! Eu sou pequena!
Irmã Julita, minha primeira mestra eu te reverencio! Não sei quais foram as pedras que cruzaram no teu caminho. Eu sinto muito ter guardado essa mágoa no meu coração por tanto tempo. Isso não é nada diante de tudo o que ensinou. Gratidão imensa!
Mestra Olinda, sou muito grata por compartilhar conosco todo seu saber. Você é uma luz no meu caminho.
Araci Diesel da Silva
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