O caminho se faz ao caminhar!
Essa é uma das tantas lições que aprendi no caminho de Santiago; sempre tive uma paixão inexplicável pela Espanha desde pequena e eu sempre afirmei para minha mãe que nós éramos descendentes de espanhóis e ela dizia que éramos de portugueses.
Em um aniversário ganhei de um amigo o livro diário de um mago de Paulo Coelho; isso foi em 1989; eu devorei o livro e nele falava sobre o caminho de Santiago e quando terminei o livro eu disse a mim mesma que um dia faria o caminho do apóstolo, mas na época eu não tinha a mínima possibilidade de ir, pois não tinha a condição financeira.
Pois bem, passaram-se os anos e eu fui morar na Espanha; estando lá fiz uma pesquisa na minha árvore genealógica e descobri que o meu ancestral que veio para o Brasil era espanhol e tinha ganhado a nacionalidade portuguesa da coroa em reconhecimento aos seus serviços prestados a nação, e minha teimosia se confirmou.
Vamos ao caminho!
Pesquisei toda a origem do caminho no decorrer de minha busca espiritual; o caminho original é o caminho francês, pois foi o caminho que os peregrinos percorreram com o corpo do apóstolo Tiago, seguindo a via láctea.
Os muçulmanos sempre perseguiram os cristãos mataram a Tiago e jogaram seu corpo na França e 3 peregrinos pegaram o corpo na França e o levaram de volta para Espanha; eles caminhavam durante a noite e se guiavam pelas estrelas, pois era mais seguro por não havia movimentos dos muçulmanos.
Assim, eles chegaram ao local onde hoje fica a catedral de Santiago, local onde está o corpo do apóstolo Tiago, na cidade de Santiago de Compostela , que significa Santiago do campo de estrelas, porque sobre a cidade se forma o campo de estrelas que se vê no final da via láctea.
São 823 km feitos a pé, dormindo como der e comento o que tiver, com apenas produtos essenciais de higiene, algumas peças de roupa, um chinelo, um par de botas de montanha e uma câmera fotográfica; foram os melhores 25 dias da minha vida totalmente longe da hipocrisia, do egoísmo e do materialismo do mundo,
Durante anos aprendi muitas lições e confirmei dados, fui dando respostas para algumas perguntas do meu ser e, doze anos depois, em 2001, eu estava lá no caminho, descobrindo que ele sempre esteve em mim.
No caminho aprendi várias lições, a primeira delas é que: para viver se necessita pouco e para morrer nada; que para ajudar o próximo não precisamos falar o mesmo idioma; o caminho é mágico e se molda, se adapta a necessidade de cada um que nele está; o caminho te dá tudo, seja material ou espiritual.
O caminho fala com você e quando você chega a Santiago você se torna parte dele e ele de você , assim, você segue a vida levando-o dentro de você, não importa aonde esteja.
Cada pessoa, acontecimento, situação que se apresenta no caminho tem uma mensagem para lhe dar; cada igreja, castelo, monastério, construção que você entra te contam uma história.
Quando você toca com as mãos as paredes dessas construções, você pode sentir a vibração das energias que estão impregnadas nelas, e você começa a ver um filme a sua frente, te trazendo imagens, mensagens e sensações.
Ali no caminho de Santiago, vivenciei que o campo informa.
Estar lá, pisar a terra por onde templários passaram, ver seus sinais em construções de igrejas e templos que eles ajudaram a erguer, as lendas que enchem o caminho de vida, as bruxas que ali passaram, os locais onde foram queimadas, tudo é muito forte.
Eu me senti parte de tudo aquilo.
O caminho não é para todos ele faz sua seleção natural; é preciso estar aberto de mente e coração, pois ele consegue algo que é quase impossível: reunir pessoas de vários países, crenças e religiões em um só propósito que é o encontro com o Eu, o encontro com o Criador.
A energia que permeia o caminho provinda da fé de quem o faz é forte, ele se revela conhecedor de nós melhor que nós mesmos, ao terminá-lo você não é mais quem era quando o começou.
Quando chegou o fim do caminho eu me senti triste e chorei, porque ele acabou por mim, eu permaneceria nele por toda a minha vida, porque eu me sentia em casa estando ali, mas logo percebi que mesmo terminando o caminho ele nunca acabaria, que ele continua em mim, em minha vida.
Agora eu sou uma extensão dele.
Depois de 10 anos repeti o caminho; novas lições, novos amigos, novos fenômenos; o caminho nunca é igual, não importa quantas vezes você o repita,.
Voltarei a fazê-lo pela terceira vez, ansiosa para sentir, viver e receber tudo o que o caminho guarda para mim.
A paz do Eu.