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ELOS DE AMOR

ELOS DE AMOR
Neiva Senaide Petry Panozzo
mar. 19 - 8 min de leitura
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No colo de minha avó materna ouvi tantos relatos sobre a família, minha bisa e tantas outras histórias que hoje voltam por aqui.

Conheci a vó Elisa quando eu tinha oito anos e ela sessenta e cinco, porque vivia na Argentina e veio nos visitar.

Em um mês e meio de convivência, foram os momentos mais lindos de aprendizagem sobre o amor e pertencimento que ainda nutrem a minha alegria de viver. 

Vi o brilho nos olhos dela ao contar sobre como conheceu meu avô, como foi lindo esse amor, enfrentando todas as dificuldades, barreiras e preconceitos, para ficarem juntos.

Recebi nesse curto espaço de tempo um legado de força para também enfrentar as dificuldades e ter coragem para seguir em frente, pois essas narrativas ecoavam como retalhos de vida que permaneceram em meu coração para poder tecer a grande colcha que recobre hoje meu sentimento de pertencimento. 

Na época, essa avó foi exemplo de paciência no acolhimento da criança, para me ensinar sobre muitas ervas que nos saravam, até fui curada de um corte na minha mão esquerda.

Com ela aprendi a segurar agulhas de tricô e tecer um coletinho cor de abóbora, cheio de furos produzidos de pontos perdidos da agulha.

Nesses, ela mostrou uma sabedoria maravilhosa, diante de meus equívocos, indicando amorosamente que sempre há alternativas e solução possível em nossas ações e na vida.

Seu olhar e suas palavras demonstraram o quanto eu pertencia a ela, como confiava que meu caminho seria feliz, só pelo fato de ser sua neta.

Esses dias de alegria e profundo amor não findaram com o final da visita.

Lembro de estar abanando para ela, na despedida, usando o colete cor de abóbora que aprendi a tecer e a pequena silhueta desaparecendo na volta da esquina.

As alegrias e o seu conforto ficaram comigo e se consolidaram em cartas escritas numa caligrafia caprichada, endereçadas em meu nome, apesar de ser a caçula da família.

Cada carta que chegava era a certeza e a multiplicação do amor, até o fim de seus dias, quando eu tinha quinze anos.

Vovó Elisa mostrou que pertencer perdura num amor que não tem fim.

Quem ama cuida, isso aprendi com meu pai, desde bebê.

A lembrança de seu vulto se movimentando em minha direção, enquanto eu chorava no berço, à noite, apaziguava meus medos e minha ansiedade.

Sua mão carinhosamente acariciava minha cabeça e a outra colocava o bico na minha boca, eu dormia novamente em paz.

Mais tarde, lembro que de madrugada saltava as grades da caminha e ele me acolhia em seus braços, me confortando.

Talvez eu tivesse entre três ou quatro anos, nos domingos ele dançava comigo, rodopiando valsas ao som da vitrola.

Depois os passeios, para onde?

Para onde aponta o nariz.

Então eu aprendia sobre os nomes das plantas, dos lugares, a identificar cheiros e as manifestações da natureza.

Obrigada meu papai, eu vejo você e honro.

Gratidão por me ensinar a olhar uma tempestade com olhos de coragem e saber que estava protegida pelo amor, que amar é gratuidade.

Minha mãe me acolheu como um presente da vida, depois de quatro perdas, medos e sofrimentos.

Aprendi dela que nossas fragilidades se tornam forças, que amar também é desapego, deixar ir.

Muito cedo, a saúde também se foi e confiou nos cuidados que minha irmã mais velha e meu irmão teriam para comigo.

Mãe, eu vejo você, reverencio e entendo seu desapego, as suas dificuldades e dores.

Gratidão irmãos, honro vocês por conseguirem também me ensinar que pertencer à família nos dá segurança para crescer e amar.

Receberam da mãe e transmitiram a mim muitas habilidades, acompanharam meu cotidiano, ida à escola, tarefas, leituras e cuidados no dia a dia.

Me aceitaram, alimentaram e contribuíram para o meu crescimento.

Irmã e irmão, vocês me mostraram como amar e servi.

Rebeldia versus liberdade. 

Sempre nos perguntamos o que move uma família decidir romper com os seus, deixar o conforto material e amoroso para  abandonar a terra natal, enfrentar um mundo desconhecido, se afastar das suas raízes, aprender novos hábitos, nova cultura e outra língua.  

O conceito de lealdade tratado no curso ilumina o olhar para a história do casamento por amor de meus avós maternos.

Vovó era de uma família da etnia dos povos ancestrais da região ártica, de hábitos nômades, pastores de renas, o povo Sámi e muito discriminados entre os brancos europeus,  origem da família abastada de vovô Alberto.

Apesar de tudo, Elisa e Alberto se apaixonaram e casaram, mas foi impossível manter a felicidade diante das expressões preconceituosas, maus tratos, exclusão familiar e social vividas.

Compreendo bem hoje a escolha pelo afastamento, a busca de cura para as feridas na vida nova no Brasil.

Desembarcaram sem bens materiais em Porto Alegre, com filhos pequenos.

Não imagino quais os descaminhos para conseguir os novos registros para a identidade brasileira dos filhos.

Nessa ocasião, vovó trocou seu nome original Gherda, para Elisa.

Tudo isso para não renunciar à felicidade, um enorme ato de coragem e de muito amor, que animou suas vidas, apesar de vovô Alberto ter falecido muito cedo.

Das ordens da alma.

A leitura do livro A fonte não precisa perguntar pelo caminho calou fundo no meu coração. 

Bert Hellinger nos ensina a deixar fluir.

Essa é uma entrega verdadeira, deixar de lado as intenções, aceitar o que é.

Um exercício desafiador, mas  abriu os meus muitos guardados que, aparentemente, não faziam sentido.

Eram peças soltas de um grande quebra-cabeças que me foi dado ao receber a vida e na infância, no contato direto com minha avó Elisa e o contato com o campo.

As pesquisas de Ruper Sheldrake, relatadas nos livros Uma nova ciência da vida e Sete experimentos que podem mudar o mundo mostram a existência do campo morfogenético e o pouco que sabemos,  como estamos interligados com as ações do passado.

Tudo faz sentido agora, o esquecido é continuidade, até o encontro com estes estudos sobre sistemas, campo, vida e amor.

No capítulo a alma (A fonte não precisa perguntar pelo caminho), entendi e percorri o caminho de volta até chegar à minha trisavó materna Aurora.

Nascida na Escandinávia, em algum lugar do círculo polar ártico, no seio do povo Sámi.

Desde esse espaço e tempo perdidos, houve muito sofrimento por exclusão pelo fato de serem parte de sua gente, suas crenças na deusa mãe natureza, na continuidade da vida e tradições sobre a morte, que não significa que as pessoas deixam de existir, para o bem ou para o mal.

Conforme esclarecem as ordens da alma, no estudo, foi a violação do direito de pertencer e de compensação que estendeu um grande sacrifício sobre quatro gerações da alma da família.

Por isso, a cura se instalou dentro do meu sistema.

Eu a vejo, querida trisa Aurora junto a todos os parentes da minha família ancestral,  que viveram essas dores e sofrimentos injustos.

Reconheço, lamento  e reverencio vocês, somos um todo, por isso deixo fluir a cura nesses laços.

Gratidão pelos ensinamentos do amor de espírito e acolho família e comunidade num abraço luminoso e restaurador da alma.  

O caminho da cura está nesse aprender a deixar fluir, libertação dos sofrimentos e devolvendo alegria e amor aos corações do sistema, porque estamos todos incluídos na sintonia do campo e na grande alma.

Gratidão, gratidão!

 

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