Ontem estive eu e minha irmã um pouco mais de idade que eu, na casa da nossa mãe. Chegamos cedo, porque os costumes da roça não se perderam em se tratar de acordar cedo. Apesar de nossa mãe estar vivendo na cidade há 14 anos.
Logo após o almoço, aquela longa conversa ainda sentadas ao redor da mesa, isso nos fez lembrar de quando crianças, a mesa cheia, pois além dos 6 filhos, também viveu conosco nossa avó materna, a noninha como era chamada.
Boas recordações.
Nossa mãe completará 82 anos em junho-2021, muito lúcida, vive sozinha, faz tudo em sua casa, outro dia cheguei lá ela estava em cima do telhado porque choveu e havia uma goteira na sala, imagina só.
Dentre esta há muitas mais histórias dela, mas o que eu quero dizer, é que enquanto ela contava suas aventuras de criança:
- Com seis no máximo sete aninhos sua mãe mandava ela levar mantimentos para a irmã que já era casada, são em doze irmãos, essa irmã era bem pobrezinha, casou com um rapaz que não tinha nem o que vestir, enfim, para chegar na casa dessa irmã.
Nossa mãe tinha que andar 16 km, passando por matos, banhados entre outros perigos da natureza.
Mas como ela mesma diz, naquela época podia se andar livre sem medo, diferente das crianças de hoje que não podem sair na rua pois correm o risco de serem sequestradas.
Perguntei, porque a noninha a deixava ir sozinha tão pequena.
Ela disse que sua mãe não se importava, que era como se ela não tinha sentimentos, que com tantos filhos ela nem lembrava de todos, e que ela se preocupava mais em fazer os serviços da casa, e deixar a comida pronta para o noninho, para quando chegasse da roça, senão ele a maltratava.
Minha noninha era a muito submissa, além de depressiva, poucas vezes se ouvia a voz dela.
Por um instante parei, respirei e veio o insight, minha mãe atraiu para si alguém igual ao pai dela ,minha irmã, por amor as seguiu.
Minha irmã começou com depressão há alguns anos, após se casar, e piorou no processo de separação.
Após um longo tratamento, por muito tempo esteve bem, mas agora está com recaída.
Neste momento que percebo o emaranhamento das três gerações, minhas pernas começaram a tremer, meu coração a palpitar, e como alguém que encontra um tesouro me manifestei meu Deus, é isso, elas me olharam sem entender, expliquei para ambas e pedi para que juntas fizéssemos um movimento de honrar, deixar, agradecer, a todas as mulheres do nosso sistema que como elas sofreram por não serem amadas, encorajadas.
Que daqui em diante em homenagem a elas levaríamos uma vida mais serena, mais leve, feliz e saudável.
Realmente o campo informa.
Do nada minha mãe começou a contar histórias da infância, e minha irmã se abriu dizendo que sentia que a depressão estava lhe atormentando novamente. Quando temos a percepção dos fatos, podemos ligar uma coisa a outra e bingo.