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EU E MEU PAI

EU E MEU PAI
Paula Azevedo
mai. 27 - 5 min de leitura
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Minha querida Professora Olinda Guedes em uma de suas preleções, na Formação Real de Constelação Sistêmicas (outubro de 2020) nos colocou diante de uma imagem:

O pai conduzindo a criança pela mão, à direita desta, conduzindo a criança com sua mão esquerda, segurando sua mãozinha direita.

Segundo ela, deste modo a criança tem permissão para ter sucesso na vida. A mãe deu à luz e confiou em um outro (o pai) que a levasse para a escola, que a levasse para o mundo.

Literal ou simbólico este ato faz muito sentido para mim...

No início do meu processo de escolarização, era meu pai quem me levava para a escola todos os dias. Ele me levava de bicicleta. Sou preenchida por uma sensação quente e muito gostosa quando me lembro disso...

A foto acima aconteceu em um desses dias em que meu pai me levava para a escola. Neste dia especial, antes de chegar ao nosso destino, ele decidiu fazer uma rápida parada na praça da cidade para fazer um registro fotográfico. Esta foto tem aproximadamente 40 anos e eu me lembro como se fosse hoje...

Esta foto é muito preciosa, muito especial e sempre quando eu quero me lembrar com carinho do meu pai, ou do amor que eu sinto por ele, e do amor que eu acredito que ele sente por mim, eu venho e olho para ela...

Eu amo meu pai, mas nosso relacionamento não é fácil.

Eu tenho sempre que ir até ele, senão, ele não vem até mim...

Meu pai está sempre sorrindo, mas na verdade é um homem fechado e introspectivo, ele não nos dá acesso ao seu mundo interior. Ele tem um ânimo mais leve do que o da minha mãe, mas seu sorriso fácil me parece uma fachada. Não estou dizendo que seja falso, mas que meu pai usa o sorriso como disfarce das suas muitas dores e sofrimentos. Além de tudo isso, meu pai é uma pessoa que tem muitos segredos.

Uma vez há muito tempo, ouvi de uma pessoa muito próxima, que meu pai era um cara que colocava comida em nossa mesa, mas não exercia a função de pai, isto é, da pessoa que orienta, que encaminha, que dá exemplo... Essa expressão revelou um vazio real que existia em minha vida.

Eu vivi com meus pais até sair de casa aos 21 anos para estudar na capital do RJ, e saí definitivamente 04 depois quando me casei. Meu pai sempre esteve em casa, mas isso não quer dizer que ele esteve presente, ou disponível.

Hoje eu sei que ele fez o que pôde, pois as pessoas só dão aquilo que elas mesmas possuem. Meu pai também tinha um vazio, até hoje ele possui esse vazio que ele busca preencher com álcool, por meio de relacionamentos com pessoas abusivas, até com religião... Quando criança eu olhava para tudo isso e tomava como pessoal, se eu o amava de verdade, era eu quem tinha que resolver a situação!

Quantas vezes lá no além do aparente eu quis salvar meu pai, muito além de querer, posso afirmar com toda certeza que minha alma se movimentou nesta direção.

A vida me mostra que na relação com o meu pai, eu tenho que voltar para meu lugar de filha, preciso abrir mão da minha suposta onipotência e desistir de salvá-lo... Preciso me curvar diante do seu destino, e do meu também! Eu que critico tanto a minha mãe, por interferir no destino das outras pessoas, acabo fazendo a mesma coisa que ela...

Me curvar diante do meu destino é olhar para o vazio que meu pai deixou, que deixa até hoje... É olhar para a história do jeito que foi e dizer SIM... Não idealizar, não fantasiar um outro pai, mas acolher este pai do jeito que é, do jeito que ele pode ser, porque é o único pai que eu tenho, o único pai possível.

Me curvar diante do meu destino é assumir os prejuízos que acredito que ele me deixou, deixar de apresentar as faturas para ele pagar, porque as minhas faturas ele não vai pagar! Pois ele não tem condições de pagar nem as suas próprias faturas, e isso também não me diz respeito!

Apesar das nossas dificuldades na relação de pai e filha, quando eu olho para além do vazio, para além daquele que “só colocou a comida na mesa”, eu vejo que tudo deu certo!

O sucesso faz parte de mim: Eu nasci! Minha mãe me confiou a ele, que me tomou pelas minhas mãozinhas naquelas manhãs no início da década de 1980, e me levou para a escola, me apresentando o mundo...

Não dá para lamentar diante de uma imagem tão poderosa quanto essa, meu pai fez o suficiente!

 

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