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HISTÓRIAS DE DESAMOR

HISTÓRIAS DE DESAMOR
Márcia Campos
set. 7 - 4 min de leitura
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Minhas impressões sobre o filme Era uma vez um sonho (Hill Billy Elegy, Netflix, novembro/2020). A título de sinopse:

Uma família americana, desestruturada, muda da cidade onde mora para fugir da pobreza e, depois, o seu membro mais jovem se afasta do grupo familiar, em busca de nova realidade existencial, em outra localidade. Ao partir, ele carrega consigo grande dor emocional e rejeição ao destino comum.

Longe da toxicidade familiar, o rapazinho se dedica ao trabalho e ao estudo, tornando-se promissor acadêmico de direito.

Contudo, um fato trágico o obriga a reencontrar-se com aqueles que ficaram no passado e o coloca diante do mesmo dilema de outrora: permanecer ou seguir com a vida.

Sobre as minhas impressões:

Talvez 'desamor' seja termo impróprio para definir o cenário e melhor fora dizer 'amor adoecido', que gera sofrimentos, desajustes, medos e conflitos existenciais. Sendo que cada personagem revela em si mesmo o drama do sistema a que todos pertencem.

O título em inglês é irônico, pois Billy significa aquele que é afortunado, que é sortudo; exatamente o oposto da situação do protagonista. Inclusive, a escolha do termo elegy (elegia = triste poema ou canção, especialmente relembrando alguém que morreu ou algo do passado) reforça o seu conturbado estado de ânimo, que deseja ser leal mas que, ao mesmo tempo, sente culpa por querer libertar-se do vínculo.

Inocência e culpa disputam palmo a palmo todo o enredo. O título do filme em português sugere que o objetivo - o sonho - foi frustrado para todos, incluindo-se para o protagonista. As três gerações retratadas - avós, pais e filhos - revelam o pano de fundo da problemática familiar: o movimento do amor em direção aos pais precocemente interrompido, associado à lealdade ao pertencimento que, paradoxalmente, se expressa por rejeição ao grupo e ao destino dele, ao desequilíbrio nas trocas e ao desrespeito à hierarquia. Tudo junto e somado.

A narrativa mostra sintomas reiteradamente negligenciados, que culminam em deploráveis comportamentos que resvalam em danos múltiplos. Obviamente que surgem no filme os estereótipos que, apesar disso, são capazes de mexer com o emocional de quem o assiste, seja para defender, seja para acusar os personagens.

No entanto, e creio que talvez isso não tenha sido intencional, para quem já consegue ver além do aparente, os chamados algozes e vítimas se alternam nesses papéis, conforme se desenrola a trama, fazendo pensar sobre quem é algoz e quem é vítima realmente.

Dissabores existenciais, gravidez precoce não desejada (que se repete nas gerações seguintes), traições e separações conjugais, abusos e violações, penúria material, alienação parental e orfandade funcional, e, previsível vícios e dependência química, se mostram em abundância na família.

"Para a alma, a saúde não é o bem máximo. Nem mesmo a vida é o bem máximo. A alma está ligada simultaneamente a algo mais profundo e trata de trazê-lo à luz." (Bert Hellinger, in A fonte não precisa perguntar pelo caminho).

Talvez a frase de Bert ajude a entender tantos sofrimentos juntos. E, como esperado, o protagonista já em idade adulta, e em momento de definição profissional, é colocado diante do passado e novamente instado a fazer uma escolha perante o seu futuro.

Surgem cenas da sua memória represada e então se vê a sua criança interior, ferida e sofrendo, mas que no delírio de onipotência pretende ingenuamente se sacrificar para 'salvar' a mãe. Se vê o menino, que cobra amor e reconhecimento da avó, descobrir que ela o amou e o reconheceu, mas que não sabia expressar isso (cena da sua renúncia à maior parte do alimento, em favor dele).

Um momento relevante é a possível reconciliação do menino com o passado doloroso, quando é advertido pela irmã que precisa perdoar e ter compaixão. Em verdade, existem vários momentos do filme que comportam boas reflexões; porém creio que não seja possível fazer isso neste sucinto relato.

Para evitar dar spoiler sobre o final do filme, encerro dizendo que os saberes sistêmicos são valiosos recursos a serviço da vida e que na minha vida têm sido muito úteis, pois têm despertado o meu sentimento de compaixão pelos destinos difíceis ou trágicos das pessoas. Têm me obrigado a repensar posturas pessoais e coletivas. Têm me ajudado a me reconciliar com o meu próprio passado.

Gratidão aos saberes sistêmicos!

 

 

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