Não lembro de histórias em forma de contos de fadas que meus avós ou pais contavam. Porém, eles contavam histórias reais, fatos familiares acontecidos. Normalmente esses fatos ou histórias eram situações tristes.
No meu tempo de infância não havia luz. A luz era o candeeiro, lamparina, lampião ou vela. Todos os dias, depois da janta e da louça lavada se rezava o terço e se fazia as orações costumeiras. Não havia muito tempo e espaço para conversas à noite. Durante o dia, desde criança, se trabalhava puxado nas lavouras. E de manhã cedo havia meia hora de rezas que a mãe conduzia.
As pessoas não tinham e nem imaginavam as consequências de passar sustos um no outro. Era como se os mais velhos, os pais quisessem controlar os filhos através do medo. Eram usadas expressões para assustar e causar medo, como: Você vai ver, o diabo vai te pegar; aquele da forca vai aparecer; você vai ver a mula ou o homem sem cabeça; cuidado com a bruxa; os mortos vão te pegar pelos pés; olha o homem do saco; o sanguanel vai te pegar. Sair de casa à noite, enfrentar a escuridão passar perto de um cemitério, era um desafio.
Diante disso, a gente vivia com medo e até provocava sonhos e pesadelos. Ninguém tinha a preocupação de dar segurança e proteger, mas sim de provocar medo e assustar. E assim acontecia na escola, uma educação rígida, com castigos inadequados, como ficar de joelho em cima de grãos de milho ou cascalho fino, apanhar de régua comprida, ameaças.
Nos era passado uma imagem de Deus sempre lutando com o Diabo, ou vice versa. Tudo o que nós fazíamos de errado era pecado, era coisa do diabo. Eu, Deus e o Diabo, sempre lutando. É como se o diabo estivesse sempre presente, por ele ser lembrado, realçado.
Procuro cuidar para não reproduzir no meu filho de 6 anos essas situações, mas alguma coisa sempre se passa adiante. Tudo é uma oportunidade para observar a vida e crescer.
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