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IDOSO DOENTE E A DESORDEM FAMILIAR

IDOSO DOENTE E A DESORDEM FAMILIAR
Bruna Letícia Aragão Silva
fev. 12 - 3 min de leitura
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Minha avó sempre dizia que uma mãe dá conta de cinco filhos, mas cinco filhos nem sempre dão conta de uma única mãe.

As doenças de meus avós sempre desencadearam uma grande desorganização na família. Por algum tempo pensei que fosse por que eles eram a base e depois comecei a achar que era um problema exclusivo nosso.

Com o passar dos anos percebi que aquele era um gatilho de muitas famílias que não sabiam lidar com os conflitos de um sistema que estava doente e gritava por urgência.

O idoso é uma grande base, um verdadeiro pilar e a origem de uma descendência de filhos, netos e bisnetos. Mas fica vulnerável, precisa de auxílios, cuidados, amor e carinho. E como foi o cuidado que esse idoso deu aos seus filhos e netos? Muitas vezes os reflexos desses traumas pedem visão quando a doença chega.

Quem vai cuidar?

Essa é uma pergunta recorrente no meu sistema. A maioria se esquiva e a urgência sempre cai no colo daquele que se sente culpado em ir para vida. Esse lugar é pesado e indica uma desordem sistêmica que tumultua a todos.

Não dá para exigir de quem não tem para dar carinho, tempo e cuidado. Me pergunto como fica o coração desse idoso. Como será que ele cuidou desses filhos ou como ele cuidou dos próprios pais? Talvez esse seja um julgamento. Talvez esteja tomando a dor de algum idoso do meu sistema que tenha sido abandonado.

A vontade dele muitas vezes se esvai, sendo desrespeitada a honra e a hierarquia familiar.

Não podemos deixar de reconhecer que alguns idosos precisam de uma interdição mais efetiva. Em casos onde a limitação física é grande ou quando a consciência mental está prejudicada. Existe até previsão legal para esses casos específicos, mas também não podemos deixar de pontuar o fato de muitos idosos terem a suas consciências ridicularizadas como se fossem inválidos pelo decurso do tempo.

A velhice traz consigo marcas de profunda sabedoria de alguém que já vivenciou dores, amores e aprendeu com toda a jornada já percorrida. São almas dispostas e corajosas que abriram caminhos, que criaram pontes e fontes para que os seus descendentes dessem verdadeiros saltos quânticos em suas jornadas.

Talvez toda essa trabalheira tenha cansado e desgastado suas pernas, suas costas que precisaram ser firmes e rígidas por muitos anos. Isso não desmerece a potência que o fim da jovialidade parece apresentar.

A ordem se estabelece por meio da honra, da hierarquia e do equilíbrio de troca, desta forma o amor volta a fluir com leveza e bondade.

Quando a vontade e o desejo de quem muito já viveu e atravessou pontes e muros são preservados.

Talvez a sociedade tenha se modificado um pouco.

Talvez aquele aparelho de rádio da casa da avó já não faça tanto sentido em uma sociedade imediatista e conectada ao wifi, mas sem dúvida a força de quem já viveu muitas batalhas vibram em nossas células.

Memórias e veias que pulsam a origem de onde viemos e pertencemos dizem muito do que e aonde queremos chegar.

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