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INSIGHTS AULA 5 MOD. I PRINCÍPIOS SISTÊMICOS NA MINHA VIDA

INSIGHTS AULA 5 MOD. I  PRINCÍPIOS SISTÊMICOS NA MINHA VIDA
Katia Sanches
mar. 10 - 16 min de leitura
010

Boa noite a todos, gratidão pela oportunidade de compartilhar com vocês um pouco da minha história de vida e dos insights que ao decorrer desse módulo foram vindo à clareza.

Sempre senti que não pertencia ao lugar onde nasci, eu estava de corpo mas no fundo da minha alma estava sempre buscando outro lugar, ou outra família, tanto que aos 13 anos eu disse para minha mãe pela primeira vez: - Mãe eu sou adotada né? Levei um tapa na cara.

Eu sentia isso principalmente pelas minhas características físicas que são totalmente diferentes das minhas irmãs (eu sou mestiça) ninguém da minha família é e nessa época eu ainda não sabia que eu e minha irmã mais velha éramos filhas de pais diferentes.

No entanto eu já sentia que existia algo errado, que existia algum segredo, não revelado até hoje. 

Então cresci e conforme os anos passavam eu suguei o máximo que pude de conhecimento e estudos que eu podia. Na época (pobre, sem dinheiro tudo que aparecia gratuito eu fazia, datilografia, computação, qualquer coisa). Comecei a trabalhar com 14 anos para poder me alforriar e buscar ser diferente daquela realidade que não era a minha,  pois eu não merecia tanta dor, tanta injustiça, tantos maus tratos. 

Não sentia raízes, sempre me sentia deslocada, como se meu lugar não fosse nesta família. 

Tivemos uma vida bem difícil, sempre respeitei minha mãe por ela ter me dado a vida, mas nunca senti um amor, uma conexão de mãe e filha e acredito que isso piorou, esse sentimento de não pertencimento. 

Devido a isso eu sempre busquei essa ligação, essa conexão de afeto com pessoas próximas e nas quais eu podia sugar o máximo de aprendizado para que eu pudesse ter sabedoria e mudar minha realidade e encontrar meu lugar.

Depois do falecimento do meu pai eu tinha 2 anos, nossa família por parte dele nos excluiu, ou minha mãe nos afastou deles, não sabemos a verdade, e eu sempre busquei querer saber por que. Por que, me foi tirada a oportunidade de crescer com meus avós e familiares?

Essa fome de pertencer ao meu clã sempre foi absurdamente grande na minha jornada. E isso ainda se fortalecia porque nós não tínhamos uma relação de carinho e amor com a minha mãe, ela nos batia, se alguém falava qualquer coisa pra ela que fizéssemos, às vezes, nem era nossa culpa, e lá vinha uma surra de espada de São Jorge, de cinto ou do que estivesse na frente dela e ela nos deixava trancadas em casa, não podíamos brincar, ela nos acusava pela vida ruim que ela tinha, era um inferno. 

Tanto que eu adorava ficar nas casas dos parentes da minha irmã mais nova, foi a família com quem crescemos, mas o pai da minha irmã não assumiu ela como filha, voltou para a ex-mulher assim que soube que minha mãe estava grávida (já tinha duas filhas que não dava conta, a vida dela era uma merda, mas ela arrumou mais uma filha com um homem infiel). Não estou julgando, mas quem pagou o pato pelos erros dela fomos nós. E como morávamos no mesmo quintal que os familiares dele a avó da minha irmã à assumiu como neta, mas minha mãe não deixou ela dar o nome do pai para minha irmã (triste) e assim para eu poder sair de casa (odiava aquela casa) eu ficava passeando, dormindo na casa de um, de outro (que para minha mãe também era cômodo porque não tinha que se preocupar e podia sair sem ter que cuidar das filhas).

Nessa de dormir na casa dos outros eu sofri abuso pelo marido da minha madrinha de batismo e por muito tempo culpei ela e senti ainda mais que não pertencia a essa família e aquele lugar nojento que me trouxe tanto sofrimento e onde as pessoas abusavam de mim sexualmente, me fazendo trabalhar na casa delas, nos maltratando (não vou generalizar tinham alguns bons que me lembro deles com carinho) mas eu queria desaparecer dali, aquele não era meu lugar. 

Na minha dinâmica familiar antes de eu me casar com meu atual marido, existia uma desordem enorme, violação da ordem total, tanto que era um caos na casa da minha mãe como relatei mais acima. Minha irmã mais velha assumiu o lugar da minha mãe, ela passou a ser a mãe e a minha mãe era o pai apenas provedor não nos dava afeto e quando dava era porque tinha bebido.

Com isso eu e minha irmã brigávamos como cão e gato porque eu não aceitava ela como minha mãe, como alguém com menos de dois anos mais velha que eu poderia ser minha mãe, era horrível, e quando minha mãe descobria que a gente havia brigado a gente apanhava por ter brigado.

Isso gerou entre eu e minha irmã uma rivalidade absurda, uma não queria ver a outra, além de não ter o amor de mãe, de pai, de avós, eu não tinha irmã,  e a mais nova não entendia muito 5 anos de diferença e vivia mais na casa da avó dela que a tratava com muito amor e carinho, mas nós éramos as bastardas que tínhamos a sorte de conviver ali por causa da neta dela, senão estaríamos na sarjeta. Era esse nível de tratamento. 

Quando fiz 18 anos engravidei e decidi fazer um aborto, porque minha mãe não aceitaria de jeito nenhum uma gravidez indesejada e eu tive medo, muito medo porque minha irmã mais velha engravidou aos 20 anos e foi expulsa de casa e eu fui esculachada por saber e não ter contato para minha mãe, nas palavras dela eu trai a confiança dela. 

Eu sinto muito o meu ato, nada justifica, mas naquele momento eu fui fraca e só pensei em evitar mais dor na minha vida, e não sabia o que fazer, sinto muito mesmo, tenho aprendido a me perdoar por esse erro. E hoje vejo meu filho não nascido, neto e dei o lugar que ele merece em meu coração, estou no processo de contar ao irmão dele que ele teve um irmão mais velho porque ele sempre me pediu um irmão (meu filho trazendo a memória para o meu sistema), mas acredito que vou fazer quando ele estiver dormindo porque meu esposo não concorda de eu contar isso para ele e eu tenho que respeitar, não faz parte da história do meu atual marido ele tem as limitações dele. 

Imagina o que ia acontecer comigo, namorando um rapaz que ela não queria e engravidando depois da minha irmã e de ela ter me avisado tanto, se eu engravidasse que eu ia sumir da casa dela. Eu fiquei horrorizada, só pensava em tirar, o medo parecido que senti foi quando passei pelo abuso infantil, eu pirei. 

Fiz o aborto, fui para o hospital e estava tudo bem, falei para minha mãe que havia passado mal e como eu já tinha 18 anos ninguém podia falar nada para ela, mas minha irmã como se sentia a mãe, e que queria também se vingar de todo sofrimento que ela passou, fez questão de vasculhar até descobrir porque eu estava no hospital e contou tudo para minha mãe. Ela queria causar dor na minha mãe, só hoje eu vejo isso, mas na época eu levei para o pessoal, claro. Depois disso, nossa relação não existia mais, só convivemos porque ela era minha irmã e eu no fundo era leal a ela por ter me criado e por ter enfrentado o abuso o que me livrou daquela situação. 

Passado alguns anos, eu namorava e fui pedida em casamento, nos casamos no civil três meses antes do religioso, fomos morar em nossa casa, na convivência tivemos uma briga e meu ex-marido na época veio pra cima de mim e eu senti um medo como aquele do abuso e da gravidez, só que dessa vez eu não fui covarde e disse naquele momento que não queria aquilo pra mim e que não sentiria aquele medo de novo. Quando eu fui contar para minha mãe e pedir ajuda dela, ela me excomungou, me xingou de vagabunda. Foi o mais leve e sumiu por 11 dias, me deixando com a minha irmã mais nova que morava com ela na época, porque ela havia me apoiado, percebo agora que fez como eu quando não contei da gravidez da mais velha, ela se sentiu traída de novo e precisava nos atacar . Minha irmã tinha acabado de completar 18 anos e lá estávamos nós de novo em um beco, sem saber por onde sair.  

Eu sou grata a Deus, ao meu pai que sempre cuidou de mim mesmo não estando em seu corpo carnal. Sou grata ao meu ex-marido me ajudou com a situação, mantivemos nosso casamento por mais 3 anos e me mudei de cidade com ele fui morar em Curitiba e levei minha irmã junto, ele aceitou ajudar a nós duas. Fui acolhida pela família dele com muito amor e carinho e sou muito grata aos pais dele, como me ajudaram a enfrentar esse momento tão difícil. Percebo hoje como os homens no meu sistema sempre me ajudaram e com isso não fiquei com a marca de que os homens não são valorosos, tanto que para ser leal a eles meu lado masculino sempre foi mais forte em mim.  

Acredito que como sempre fui uma pessoa que ajudou os outros, que sempre trabalhou, que nunca esmoreceu a vida me retribuiu com pessoas maravilhosas e boas oportunidades, que acredito não terem sido melhores porque eu ainda tenho traumas para ressignificar para viver a vida que eu nasci para ter.

Passados três anos de casada, vi que realmente não daria certo e finalmente nos separamos, cada um seguiu seu destino. E sinto que o ciclo se fechou e honro tudo que ele fez por mim. Sai dessa relação sem ressentimentos, pelo contrário com muita gratidão. 

Passados alguns anos, a convivência com a minha irmã mais velha melhorou quando já com meu marido atual engravidei do meu segundo filho. Entendo hoje minha irmã, que ainda uma criança teve que assumir o papel de minha mãe,  e sou hoje eu sou grata a ela por ter assumido esse fardo que uma criança de 7 anos não tinha que ter.  Hoje temos uma relação de amiga, com a chegada do meu filho amado o amor trouxe de volta nossa relação em seu devido lugar. Perdoar não seria  a palavra, eu compreendi tudo que houve entre nós e sinto paz agora, as ações dela para comigo estava em busca de equilibrar a balança do mal que ela viveu o sofrimento que passou, hoje somos amigas e me sinto feliz por ter me reconciliado com minha irmã. 

Moro atualmente em Porto Alegre, consegui sair de lá, tenho uma vida boa e sou muito grata a Deus por tudo, ao meu pai, aos meus avós, bisavós, gratidão pela vida ter chego a mim e por eles terem me dado tudo que fora possível para eu ser quem sou hoje. 

Preciso perdoar (não seria bem essa palavra) minha genitora (mãe), honro a vida que ela me deu, mas ainda tenho ressentimentos, ela não foi capaz de denunciar à policia meu abusador, porque não queria se indispor com os familiares (ele era marido da minha madrinha, esta, filha da avó da minha irmã mais nova) e ainda levei a culpa eu e minha irmã, que foi quem colocou a boca no trombone, me salvou mais uma vez, do que estava acontecendo. Minha mãe não fez nada.

Atualmente aceito suas limitações e estou me desprendendo dessas mágoas porque sei que agora eu como mulher, adulta, posso cuidar e fazer por mim e pelos meus, tudo que ela não pode fazer.  

Tenho meu filho e se algo parecido acontecer com ele, eu ponho abaixo tudo para defender meu anjo, é inaceitável essa postura dela como mãe, mas era o que ela tinha para dar e esta tudo bem, entendo agora que ela não foi mãe e não posso mudar o passado, mas mudo meu presente e meu futuro e dos que seguiram no meu sistema. 

Tenho aprendido nesta formação, na Escola Real que vinha mantendo uma lealdade sistêmica. Algumas vezes sinto culpa por não ligar para ela, por não sentir saudade, por não sentir falta da presença dela, é como se eu estivesse devendo ser boa filha para uma pessoa que não foi boa mãe e assim ainda mantenho o pertencimento por meio da dor.

Através da terapia com a psicóloga e com a constelação, venho mudando esse padrão de comportamento, porque já percebi que tenho repetido alguns comportamentos dela, fiz uma aborto aos 18 anos (ela fez dois abortos), sentir dor no corpo, gritar com meu filho, não dar o carinho e valorizar meu marido, eu dou carinho para o meu filho, mas até quando se eu não resolver essa lealdade. Posso destruir tudo que construí na minha vida por manter essa lealdade. Eu, meus filhos Neto (não nascido) e Lorenzo, meu Marido, não merecemos isso, não lutei tanto para sair daquela vida para me manter leal a algo que me fez tão mal.  

Sou grata pela vida que veio a mim através dela, a vida me recompensou com uma família linda, porque eu doei de mim tudo diferente do que recebi para o mundo buscando sempre dar amor, carinho e acolhimento a todos com quem eu me relaciono, sem esperar nada em troca.

Eu ofereço ao meu filho vivo o amor gratuito e o colo que ele precisa e sinto muito por não ter dado ao meu filho não nascido Neto a oportunidade de viver, por ter errado por medo de não dar conta, de ser excluída, de ser uma mãe ausente e sem amor como ela era pra mim, sem perceber excluí meu filho, não dei amor a ele e isso dói demais. 

Sinto muito meu filho querido por ter sido tão covarde, eu te vejo, você está em meu coração, hoje eu entendo e jamais cometerei esse pecado novamente. Gratidão aos meus filhos pela generosidade de terem me dado a oportunidade de ser mãe deles e de amá-los com todas as minhas forças.

Gratidão a Deus, ao meu pai querido, a minha avó Almerinda por estarem espiritualmente sempre ao meu lado me dando o apoio e força na minha jornada. 

Gratidão por ter tido a oportunidade de conhecer a Psicologia e a Constelação Sistêmica. Por me dar a clareza e a paz que eu preciso, espero em breve poder contribuir ajudando a muitas pessoas a ter essa mesma clareza e amor por elas como eu tenho aprendido. 

Foi extenso, porque é difícil resumir 39 anos de momentos que nesse processo de aprendizado vivi ou vivia o pertencimento, a compensação e a ordem de formas dolorosas. Peço desculpas se deixei faltar algo ou se algo ficou sem sentido, é porque os fatos se embolam e a memória já não quer lembrar com tanta clareza de muitos deles. 

Gratidão a você que leu essas linhas e que de alguma forma tocarão seu coração em direção à cura também.    

Katia Sanches

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