A minha avó materna está com 103 anos, é saudável e tem alguns momentos de lucidez. Nestes momentos ela me conta muitas coisas sobre sua vida, principalmente sua infância. Filha mais velha de 6 filhos, foram 3 mulheres e 3 homens, todos falecidos. Uma de suas irmãs mais novas faleceu o ano passado com 95 anos.
Como minha avó era a mais velha, ela cuidava dos irmãos mais novos e também acompanhava o pai na roça.
Eles moravam em Piratuba-SC e produziam tudo o que precisavam. Ela me conta que ajudava o pai a plantar, colher, alimentar os animais, matar galinha, ordenhar, tomara o primeiro caneco de leite todos os dias, conta dando risada. Enfim tudo o que se faz com os meios de produção de alimento para uma família da roça ela ajudava o pai.
Brincava com os irmãos, faziam bonecos de palha, bolas de meia, subiam em árvores, brincavam no balanço, me contou que um dia balançou tão alto que a balança chegou a dar a volta no galho.
Quando conta das brincadeiras, seus olhos brilham, ela demonstra que foi muito feliz e arteira, que sentiu muito quando casou e teve que ir embora da casa dos pais. Me relatou que gostava muito de música, o biso e seus irmãos tinham uma orquestra que tocavam nos bailes locais.
Até hoje ela bate os dedos na mesa, fazendo de conta que toca piano e alegremente diz que gostava muito de dançar.
Ela amou muito o meu avô, apesar de ter sofrido muito com ele. Vovô era alcoolista, nunca bateu nela, mas muitas vezes chegando em casa alcoolizado puxava a toalha e quebrava toda a louça posta do jantar. Ela e minha mãe tinham acolchoados e travesseiros no porão para irem dormir, pois ele as colocava para fora de casa.
Bebia todos os dias.
Quando minha mãe tinha 15 anos elas foram embora juntamente com o meu tio Antero (quando adulto também ficou alcoólatra) para outra cidade, mas passados 6 meses, ele foi buscá-las. Minha avó voltou com ele para Caçador, mas minha mãe ficou com o irmão na casa de uma amiga.
Quando retornaram, ele tinha perdido a casa e a sociedade em jogos e boates.
Até hoje minha mãe com 78 anos, conta está história e não se conforma, pois eles nunca mandaram dinheiro para ela se manter e graças ao seu diploma de professora de música pode se sustentar, pois já havia iniciado aulas particulares em uma sala alugada.
É imenso o amor que minha avó sente pelo meu avô até hoje, faz 35 anos que ele faleceu e ela fala dele quase todos os dias e fica muitas vezes esperando ele chegar e pergunta para os familiares se não viram ele? Onde ele está? Se alguém o vir, pede para trazê-lo para casa, e não deixá-lo nos bares.
Ela é uma pessoa muito alegre, gosta de passear, de se vestir bem, muitas vezes está cantarolando, mas também é exigente e impaciente. Muito curiosa, quer sempre saber os assuntos comentados, mesmo que não conheça as pessoas.
Dorme muito, sempre gostou muito de dormir, e diz que seu segredo de longevidade é o uso diário de mel e não se preocupar, limpar-se como se limpam migalhas da roupa.
E muito orgulho ter uma vó nesta idade e poder ouvir as histórias e conviver com sua energia.
Gratidão pela vida Vó Erna, que veio através de minha mãe, sua filha Elly.